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Entenda como funciona o processo de cremação

De olho em um segmento com procura crescente no Vale do Rio Pardo, três empresas já encaminharam processos para abertura de crematórios na região. Em Santa Cruz do Sul duas aguardam licenças e, em Venâncio Aires, outro empreendimento espera para abrir. Hoje os crematórios mais próximos ficam na Região Metropolitana e na Serra Gaúcha, o que encarece o serviço e dificulta o acesso. 

José Luiz Kist, que é diretor-proprietário do Cemitério Parque Jardim Bela Vista, de Venâncio Aires, há 20 anos planeja a instalação de um crematório regional. O projeto está em vias de sair do papel. Kist aguarda a licença de instalação – segunda fase do processo – para começar sua obra. “Já estamos com tudo pronto e com pessoas dispostas a investir na compra, em vida, do funeral com cremação”, revela.

Em Santa Cruz do Sul, duas empresas planejam a instalação de crematórios. A Diersmann Assistencial, com sede em Estrela, é uma delas. Já existe até mesmo uma área de terras adquirida, localizada no Bairro Santo Antônio, para a construção. O início das obras deve ocorrer ainda  neste mês, pois as licenças ambientais já foram obtidas. A empresa aguarda o alvará da Prefeitura para colocar as máquinas em ação.

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O segundo empreendimento virá de uma parceria entre o Memorial Crematório São José, de Caxias do Sul, e a Funerária Halmenschlager, de Santa Cruz. De acordo com a funerária, ainda não há uma data prevista para a instalação da unidade no município; no entanto, a parte burocrática para a viabilização do crematório já está em andamento.

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Religiões divergem

As religiões entendem de diferentes maneiras a morte e os procedimentos da última despedida. A Igreja Católica deixa que o fiel, ou sua família, escolha a melhor forma de realizar o funeral. “Há muito tempo existia uma restrição. Havia um entendimento sobre a ressurreição da carne, mas isso não interfere mais”, garante o padre Roque Hammes, assessor de imprensa da Diocese de Santa Cruz. 

Ele conta que a única recomendação é para que as cinzas não sejam abandonadas ou lançadas na natureza. “É preciso uma lembrança física. O Dia de Finados é justamente para celebrar e visitar os falecidos.”

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Já a doutrina espírita não recomenda a cremação. Jorge Luiz Steffens é trabalhador da doutrina em Santa Cruz e argumenta que o espírito desencarnado não se distancia tão rápido da matéria. “Existe um tempo maior para esse desligamento. É um processo que pode durar alguns dias”, defende. Steffens diz que o ideal é mesmo o sepultamento, pois o tempo que o corpo leva para se decompor é mais lento, favorecendo a perda do vínculo do espírito com a carne. 

A Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) se posiciona de forma clara sobre a questão. Conforme o pastor Rosemar Ahlert, o entendimento luterano mostra que a salvação é graça de Deus. “Não se pode mudar a sorte de uma pessoa depois dela estar morta.”

Existe até um documento, criado em 1997, que define a posição luterana frente à cremação. O texto salienta que as cinzas não devem ser guardadas em casa – precisam ser sepultadas em local adequado. A íntegra das orientações pode ser conferida no site luteranos.com.br. 

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A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias não recomenda a prática da cremação. Segundo o presidente do Ramo Santa Cruz, Marco Antônio Duarte, existe um aconselhamento aos fiéis para que estes busquem o sepultamento. “Mas não condenamos quem escolhe a cremação. É uma decisão de cada um, que passa pelo livre-arbítrio.”

Prática ainda está cercada por tabus

Mesmo sendo uma atividade reconhecida e com crescimento médio estimado em 10% ao ano, a cremação ainda está acompanhada de tabus e de certa burocracia. Para ser cremado é necessário ter a vontade manifestada em vida, descrita em documento registrado em cartório. Caso os familiares optem pelo ato fúnebre, dois membros próximos do falecido assinam uma declaração.

Além disso, o procedimento ainda é visto com reservas por muita gente. Para o sociólogo César Góes, os argumentos racionais, que dizem respeito ao meio ambiente e à falta de espaço para cemitérios, perdem para o senso comum. “Há quem acredite que a natureza precisa agir sobre o corpo do indivíduo morto. Nesse caso, a cremação acaba sendo uma atitude provocada pelo homem”, detalha. 

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Porém, Góes prevê que, com o passar do tempo, a cremação deva se tornar uma escolha natural para maioria da população. “Onde a crença religiosa não entra, hoje o ato da cremação é visto como uma escolha sanitária. Essa visão, sobretudo, tende a ficar mais popular com o tempo.”

Saiba mais

– A fumaça gerada no processo de cremação é purificada antes de ser lançada na atmosfera. Ela é liberada sem odor no meio ambiente. 

– O forno de cremação é alimentado com gás GLP, o mesmo utilizado em fogões de cozinha. A temperatura do crematório alcança os 1,2 mil graus. 

– O custo atual de uma cremação varia entre R$ 3,1 mil e R$ 3,9 mil. Por ser um serviço executado em outras regiões, é cobrada uma taxa de traslado, que pode variar entre R$ 600,00 e R$ 700,00.

Como é feito hoje

Santa Cruz tem cinco funerárias. Cada uma delas oferece o serviço de uma maneira diferente. 

– Caminho da Paz: encaminha as cremações para São Leopoldo. O velório ocorre nas capelas mortuárias da empresa e, após, o corpo segue para a cremação. 

– Martin: por conta da logística, a funerária encaminha o corpo a São Leopoldo. De acordo com a empresa, quando a família não acompanha a cerimônia, as cinzas são remetidas para a funerária em até 72 horas. Depois disso, a própria Martin entrega a urna. 

– Halmenschlager: a empresa mantém convênio com o crematório de Caxias do Sul e encaminha para lá os pedidos de cremação. 

– Machado: faz contato com crematórios de São Leopoldo, Caxias e Porto Alegre. Informa sobre a disponibilidade de cada uma das empresas e deixa a família decidir para qual cidade enviará o corpo. 

– Schmitz: consulta os familiares e encaminha os pedidos para São Leopoldo ou Novo Hamburgo.

Rigor para a instalação

A parte prática para a instalação de um crematório ocorre em três fases. O empresário venâncio-airense José Luiz Kist explica que essas etapas estão ligadas ao cuidado com o meio ambiente. Segundo ele, a primeira licença obtida junto aos órgãos estaduais de fiscalização é prévia. Nela, o investidor precisa apresentar os estudos do impacto econômico e ambiental, e estar em conformidade com a legislação do município.

A segunda parte é a licença de instalação. Também fornecida pelos órgãos de controle ambiental, essa liberação permite a construção do crematório em si e toda a área do empreendimento. A última, e mais exigente, é a licença de operação. Depois de tudo pronto, a fiscalização checa todos os processos, revisa as instalações e todo o empreendimento. Somente depois de tudo revisado e aprovado, o crematório pode funcionar.

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