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Estelionato

Golpe do recibo frio faz vítimas entre agricultores

Junta de vacas de morador de Cerro Alegre Alto era herança deixada por sua mãe

A proximidade da chegada do pequeno Davi Miguel, marcada para o início de setembro, e a necessidade de manter o sustento da casa na qual mora com os pais, a esposa e a filha, levaram o agricultor Joel dos Santos Moraes, morador de Rincão Pequeno, em Novo Cabrais, a buscar alternativas para pagar as contas e garantir um orçamento para as despesas com o bebê. Tomou então a decisão de vender duas vacas para ajudar na compra do enxoval da criança. A maior parte da renda da família provém da plantação de tabaco, a qual seria ampliada neste ano também com o lucro da comercialização dos animais.

Joel decidiu colocar um anúncio de venda dos animais em um grupo de briques, no Facebook. Na última quarta-feira, recebeu o retorno de um homem interessado nas vacas, uma branca e outra avermelhada, que estavam por dar cria. Pelo WhatsApp, informou que o preço da junta seria de R$ 7,5 mil. O comprador aceitou, de imediato.

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Uma suposta inspeção antes da compra em definitivo também foi programada. “Primeiro, ele me disse na quinta-feira de noite que o capataz dele viria até minha casa na sexta-feira, para analisar os animais. Chegando na sexta, me ligou e disse que seu funcionário não poderia naquele dia e que então viria no sábado, às 13 horas, realizar essa inspeção”, comentou Joel.

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No sábado de manhã, por volta das 9 horas, o suposto comprador ligou para o agricultor e disse que o capataz havia ficado empenhado na estrada e que não poderia ir inspecionar, e que ele já teria acionado um motorista para ir buscar os animais na residência de Joel, que fica nas proximidades da Camnpal, na RSC153. “Por volta do meio-dia e meia, o caminhoneiro chegou na minha casa. Disse para ele que não deixaria carregar sem antes ter algum comprovante de depósito”, salientou o agricultor, de 33 anos.

Nesse meio-tempo, o comprador intercalava ligações com o caminhoneiro, que estava na área externa com Joel, e com a esposa do agricultor, que se mantinha dentro da residência. Em uma mensagem via WhatsApp, ele enviou um comprovante de um suposto depósito, no valor acordado, realizado às 12h55 de sábado. Da janela, a esposa gritou para Joel que o dinheiro havia sido depositado. Mas era um comprovante frio.

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O comprovante foi verificado por um contabilista
Desconfiado, o agricultor pediu ao caminhoneiro para aguardar antes de sair, pois iria encaminhar o comprovante a um conhecido, que possuía um escritório de contabilidade no Centro de Novo Cabrais. “Perguntei a esse meu conhecido se o documento estava certo. Quando recebi a resposta de que, a princípio, estaria tudo nos conformes, liberei o caminhoneiro para carregar, o que foi o meu erro”, frisou.

Joel notou que o caminhoneiro estava com pressa. O motorista sugeriu que o agricultor entregasse a nota de venda na rodovia, junto à Camnpal, em aproximadamente 30 minutos, pois faria outros carregamentos na região.

Próximo do horário combinado, Joel foi até o local em seu Ford Fiesta marrom. Ninguém apareceu. Ciente de que havia caído em um golpe, o cabraisense foi até a Delegacia de Polícia de Novo Cabrais na última segunda-feira registrar a ocorrência. Ele chegou ainda a falar por telefone com o caminhoneiro que fez o frete do gado para o suposto comprador. Este indicou onde teria deixado os animais.

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“Fomos até Linha Boa Vista, em Candelária, na propriedade de um senhor, onde teriam sido largadas as vacas. O homem me disse que os animais ficaram ali no domingo, e na segunda de manhã uma mulher veio e carregou os animais, sem dizer para onde.”

Joel dos Santos Moraes não se conforma com o prejuízo. “É um desespero sem tamanho. Ficamos apenas com uma vaquinha de leite, que eles também queriam comprar, mas eu não quis vender. Nem essas outras estava nos meus planos me desfazer delas”, comentou. “Elas sempre foram dóceis; minha pequena, de 7 anos, sempre brincava com elas. Quis vender apenas porque fiquei apertado em virtude de a minha esposa estar grávida e termos de plantar um pouco a mais nesse ano.” O caso vem sendo investigado pela Polícia Civil de Novo Cabrais.

Herança deixada pela mãe
A exemplo de Joel dos Santos Moraes, um agricultor de Cerro Alegre Alto, interior de Santa Cruz do Sul, também caiu no golpe do recibo frio nesta última semana. O homem, de 35 anos, que preferiu não se identificar, afirmou que anunciou no Facebook duas novilhas prenhas, uma branca e outra salina, no valor de R$ 5,8 mil. O comprador, que seria uma mulher, fez o contato via WhatsApp na última quarta-feira à noite. Já na sexta-feira a suposta compradora mandou um funcionário buscar os animais.

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“Ele veio olhar e já queria levar, sem perder muito a viagem. Aí falei que só com o comprovante de depósito poderia carregar. A compradora me mandou o comprovante e aí autorizei o carregamento”, contou. “No sábado de manhã, eu já sabia do golpe. Ofereceram as novilhas pelo Whats para um conhecido meu, que as reconheceu. Aí fui olhar o meu extrato e não constava nenhum valor depositado.”

O agricultor registrou a ocorrência na 2a Delegacia de Polícia Civil de Santa Cruz do Sul. Ele contou que tem a maior parte de sua renda proveniente da plantação de tabaco. Lamentou a perda do valor, que seria fruto de uma herança de sua mãe. “Se foi embora a minha herança. Quando a gente pensa que vai conseguir fazer um dinheirinho, a gente perde.”

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Investigações em andamento
Casos semelhantes aos de Novo Cabrais e de Cerro Alegre Alto também teriam sido registrados em Vale do Sol, Sobradinho e Barros Cassal. A semelhança entre eles não seria mera coincidência. Conforme o delegado Alessander Zucuni Garcia, que chefia a 2ª Delegacia de Polícia de Santa Cruz do Sul, esse tipo de crime vem acontecendo de forma recorrente nos últimos dias. “Já existe uma investigação em andamento por parte da Polícia Civil para apurar esses delitos de estelionato. Ao longo dos próximo dias, devemos ter novidades sobre esses casos”, disse Garcia.

O comandante do 23º Batalhão de Polícia Militar (BPM), tenente-coronel Giovani Paim Moresco, relatou que vem observando esse tipo de crime recentemente. “É comum essa ação criminosa através de mídias eletrônicas. É o tradicional golpe do recibo frio, que já vimos com veículos, celulares e outros equipamentos. Os últimos casos envolvem essas transações de venda de gado, com essa transmissão de pseudo-comprovantes”, disse Moresco. Segundo ele, a Brigada Militar iniciou um trabalho para coibir ações do tipo. “Através das patrulhas comunitárias do interior, em contato com os donos de propriedades rurais, buscamos informar a população sobre os cuidados de transações neste sentido. Pretendemos verificar esses fatos com o intuito de compreender como agem, para podermos prevenir ações futuras.”

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