Graças ao engajamento da Gazeta Grupo de Comunicações, os leitores da Gazeta do Sul e do Portal Gaz têm acompanhado, nas últimas semanas, um pouco do esforço de vários veículos de comunicação no combate às fake news, por meio do Projeto Comprova.
A iniciativa representa um acréscimo ao trabalho já desafiador dos jornalistas de cobrir o que ocorre na sociedade. Com um ingrediente meio estranho, diga-se. Identificar o que de falso há no que circula por aí, em materiais diversos – mas especialmente nas redes sociais –, é quase como cobrir o que “não” ocorre, se debruçar sobre o que, na verdade, “não” aconteceu. Mas são exigências que se apresentam hoje.
Um pouco ao largo disso, mas nem tanto, há uma outra “categoria” de fake news que também chama a atenção. São aquelas publicações que recebemos a todo momento que “capturam” determinado aspecto de um assunto, de uma polêmica, e criam uma versão a ser compartilhada. Como se tratam, na maioria das vezes, de simplificações que só mostram os pontos que interessam ao autor, não deixam muita margem para reflexão. Acredito que o objetivo seja fazer quem recebe assimilar o mais rápido possível a “mensagem”, sem muito tempo para pensar.
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Recebi há pouco tempo uma mensagem que pedia que um vídeo fosse muito compartilhado porque certa rede de TV estaria “preocupadíssima” com o conteúdo e não queria, de jeito nenhum, que fosse mostrado a muitas pessoas. O vídeo era de uma obra feita pelo Exército – no caso, um asfaltamento – e evidenciava a competência dos militares envolvidos, mas não ficava claro exatamente por que tal rede de TV estava tão em pânico. Em uma busca não muito aprofundada, logo descobri que o material era institucional do Exército e de vários anos – portanto, sem conexão com o momento atual e suas polêmicas. Isso, convenientemente, não estava explicado na publicação.
Diariamente recebemos mensagens do tipo, não só vídeos, mas também montagens, textos coloridos com frases provocativas, partes de matérias jornalísticas, áudios variados. Não são necessariamente fake news, mas induzem a diferentes graus de erros e interpretações equivocadas. Por conterem uma certa “mistura” de informações, a verificação é difícil e a adesão, por proximidade de opinião, fácil. De fragmento em fragmento, sem refletir, só concordando com as opiniões de que gostamos, vamos deixando de formar um quadro maior, cujo nome sugestivo seria “futuro”.
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As manifestações contra o racismo, detonadas pelo assassinato de George Floyd nos Estados Unidos em maio, não têm mais tanta repercussão, talvez até um pouco eclipsadas pela pandemia. Mas independente de estarem fora do foco neste momento, a mensagem que passaram naquelas semanas não deve ser esquecida.
Além de um grito contra a violência, os protestos nos lembram da importância de jamais se aceitar o “status quo”. Essa atitude está presente neste 2020 estranho: quem se engaja nas campanhas de ajuda, arrecadando alimentos, não aceita que alguém passe fome; quem atua na área da saúde não aceita que pessoas sofram e morram pelo coronavírus; quem busca ajudar negócios em dificuldade não aceita que eles fechem e afetem negativamente a economia.
São pessoas que não acham que as coisas simplesmente são como são e assim devem continuar.
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