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Bósnia e Herzegóvina: a fé Mariana e Medjugorje

Levo comigo, desde a adolescência, um pequeno bilhete, com quatro letras apenas. “mphc” são as iniciais, em latim, para uma frase do Movimento de Schoenstatt, que quer dizer “A mãe cuidará perfeitamente”. Mais do que uma prece, é uma afirmação de devoção filial a uma mulher, chamada Miriam, hebraico para Maria, que morou, há mais de 2 mil anos, na pequena comunidade de Nazaré, na Galileia.

Sobre essa jovem judia, os evangelhos falam muito pouco, o que não impediu que ela se tornasse um símbolo de sacrifício, sofrimento e amor para grande parte do mundo cristão. Pela aceitação de sua missão, e do consequente sofrimento, gerou uma devoção milenar, celebrada em pinturas, esculturas, música, bem como em templos, catedrais, lugares e cidades que levam seu nome e seus muitos títulos.

Maria é considerada mediatriz entre Jesus Cristo e os homens, e, em uma das tantas representações da dimensão de seu amor materno, uma das esculturas mais famosas de todos os tempos, a Pietá, de Michelangelo, apresenta a mãe de Jesus desproporcionalmente maior do que o filho, morto em seus braços. E para quem ela direciona sua ardente compaixão. Além disso, seu rosto jovial, esculpido no mármore, incompatível para a mãe de um homem de 33 anos, representa a pureza incorruptível.

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Recentemente, em uma capela da Catedral de Trento, Itália, ajoelhei-me diante de um antigo crucifixo, esculpido em madeira. Aos pés daquela estátua, em 1563, o papa Pio IV e os bispos que formavam o Concílio de Trento promulgaram resoluções e decretos que visavam renovar a Igreja Católica diante da Reforma protestante. Um dos trechos do Concílio tornou-se uma das frases mais repetidas pelos católicos, incorporada às duas passagens bíblicas que já eram recitadas desde os primeiros cristãos: a anunciação do anjo Gabriel, em Nazaré, e a saudação de Isabel, pressentindo Jesus no ventre da prima Maria. Essa combinação resultou na oração da Ave-Maria. Outra deliberação do Concílio de Trento refere-se ao processo de reconhecimento e aprovação das manifestações Marianas.

Das mais de 2 mil alegadas aparições, do ano 40 até os dias de hoje, 16 foram aprovadas pelo Vaticano. Uma das mais recentes, reconhecida pela Igreja como expressão de fé, mas ainda não como manifestação sobrenatural, é a da Virgem de Medjugorje, na Bósnia e Herzegóvina.

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Em uma tarde ensolarada do outono de 2011, subi com Carolina, então com sete meses de gravidez, o pedregoso e íngreme Monte Podbrdo, hoje mais conhecido como Colina da Aparição, na pequena cidade de Medjugorje, a 150 km da capital, Sarajevo. No topo, uma escultura de Maria, Rainha da Paz, marca o local da primeira aparição, em 1981, quando essa região ainda era parte da antiga Iugoslávia.

Centro de peregrinação desde então, a cidade de 5 mil habitantes gira em torno da hospitalidade dos mais de um milhão de peregrinos que ali aportam anualmente. A Guerra da Bósnia, de 1992 a 1995, afetou fortemente a região, e as mensagens recebidas pelas seis crianças, de origem croata, alertavam, mais de uma década antes, para o cenário de morte e destruição que se seguiria. Duas das videntes, Mirjana e Marija, ainda alegam receber mensagens, respectivamente no segundo e no 25º dia de cada mês. Independentemente da veracidade dos fatos, o fervor por Nossa Senhora de Medjugorje, que se vê nos locais das aparições e na Igreja de São Tiago, principal templo católico da cidade, confere, por si só, uma aura mística ao local.

Maria também está presente no Corão, livro sagrado dos muçulmanos, onde é a única mulher a ser citada, por mais vezes do que na Bíblia, e reverenciada como virgem perpétua e a maior entre as mulheres. O texto central do Islã, ao se referir a Jesus, chama-o sempre de “o filho de Maria”. A conexão entre islamismo e cristianismo remete também à cidade mais importante da região de Medjugorje. Mostar tem cerca de 100 mil habitantes e, além de acolher muitos peregrinos, é marcada pela tradição muçulmana, herdada do período otomano na região. Sobre o Rio Neretva, que atravessa a cidade, foi construída, no século 16, a Ponte Velha, um dos pontos turísticos mais visitados desse país desmembrado da Iugoslávia.

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Em uma região que viveu por décadas sob uma ditadura brutal e ainda está muito marcada por recentes guerras, é notável que tenha se formado um dos três maiores centros de peregrinação Mariana, junto a Lourdes, na França, e Fátima, em Portugal. Tão ou mais importante do que fenômenos sobrenaturais, a devoção em Medjugorje é motivo de conversão para alguns, reflexão para muitos e, no mínimo, para quem ali esteve, algum grau de perplexidade.

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