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ALESSANDRA STEFFENS BARTZ

Vamos falar sobre a morte?

A vida é uma caixinha de surpresas, repleta de alegrias, tristezas, conquistas, frustrações, aprendizados. Em geral o consenso dita que viver é bom. Mas quando o morrer entra em pauta, trocamos o rumo da conversa, suspiramos, calamos. Numa visão dicotômica, morrer pode ser entendido como algo ruim, devastador, terrível. Algo que deveria ser banido de nossas vidas. Essa visão, cultuada pelo mundo ocidental, nos remete à negação da morte. Possivelmente por isso a morte participa dos temas tabu, como sexo, num passado recente.

Sabemos que a morte faz parte da vida, que tem começo, meio e fim. Ela não só dá sentido à existência, como nos humaniza. Não somos imortais como os super-heróis. Mas alguns estão tentando. A busca frenética por recursos estéticos rejuvenescedores pode ultrapassar a linha do bom senso, remetendo à busca da imortalidade. Ser jovem sempre, portanto, distante do fim. Como se a morte respeitasse idade, endereço ou classe social.

Já faz um tempo que o tema vem sendo abordado nos desenhos infantis, onde os personagens se ferem e morrem, para no momento seguinte levantar e seguir em frente. A Turma da Mônica retratou a Dona Morte, da qual personagens fugiam, negando a chegada do fim como um desfecho natural. Quem melhor do que o conhecido 007 para sobreviver a todas as peripécias possíveis e inimagináveis, negando nossa fragilidade. E temos ainda os jogos eletrônicos e as reportagens televisivas escancarando a morte como algo banal. As perdas fazem parte da vida. Então não nos cabe negar ou banalizar o morrer.

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Ao contrário, a morte deve ser encarada como um assunto a ser aprendido no meio familiar. Precisamos apresentar a verdade aos pequenos. Saber a verdade ajuda na elaboração da dor da perda. Não viramos estrelinhas. As crenças religiosas ajudam a dar o tom das explicações familiares. E não convém fugir das perguntas infantis. Precisamos falar de modo simples e claro sobre como a família entende a morte (se vai para o céu, se reencarna, etc.).

Também não subestimemos a capacidade das crianças de lidar com as perdas. Muitas vezes queremos protegê-las porque nós, adultos, não lidamos bem com o tema. As crianças podem participar dos funerais das pessoas importantes para elas. Para isso é preciso explicar sobre o ritual fúnebre; que haverá um caixão onde a pessoa estará rodeada de flores, que alguns estarão chorando. Quanto mais jovem a criança, menos tempo ficará no funeral. Pode se combinar que a criança avise quando quiser ir para casa. Despedidas são difíceis, doídas, dá vontade de fugir. Porém é encarando as duras situações que vamos nos fortalecendo, ficando mais resistentes e adaptáveis.

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Cabe ainda lembrar que o cenário atual torna mais dura a partida de quem não é permitido se despedir. Uma medida necessária, mas que dificulta o processo de luto. Nesses casos, torna-se possível reunir poucas pessoas, e fazer um pequeno ritual, trazendo ao centro algum pertence ou foto da pessoa que partiu. Toda vida tem histórias para contar, e os rituais colaboram positivamente no processo de luto. São indicados também para a perda dos animais de estimação. Nesses casos, pode se fazer uma oração, demarcar com uma cruz, ornamentar com flores, conforme a vontade de cada um.

Pensar a morte é repensar a vida! A melhor forma de encarar o sofrimento é olhar de frente para a sua dor e poder falar sobre o misto de sentimentos que a acompanham. Sentimento compartilhado gera acolhimento. Portanto, não pode ser proibido falar de morte. Precisamos dar voz aos que perdem e refletir sobre o morrer. Uma mudança cultural só será alcançada quando colocarmos os temas difíceis em pauta. Não para negar ou banalizar, mas para entendê-los com mais naturalidade. Mais difícil é ser obrigado a engolir sem antes digerir. A morte está na vida, está em todos os lugares. Esforços individuais e sociais se unem para superar perdas e os desafios suscitados pelo processo de morte. Vamos encarar a vida e a morte, a alegria e a dor. A vida como ela é, sem disfarces.

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