Contardo Calligaris, o italiano de olhar atento que levou a psicanálise para o cotidiano do brasileiro ao analisar, em seus textos publicados na Folha de S.Paulo e em seus livros de ficção e não ficção, temas ligados à existência humana, morreu aos 72 anos, em São Paulo. Ele estava internado no hospital Albert Einstein para o tratamento de um câncer. A informação da morte foi confirmada por seu filho Max Calligaris no Instagram.
Nascido em Milão, em 2 de junho de 1948, Contardo Calligaris cresceu cercado pelos escombros da Segunda Guerra Mundial. Ele iniciou sua formação pelas áreas de letras e filosofia, estudou na Suíça e na França e viveu também em Nova York.
Para ele, a psicanálise surgiu primeiro como tratamento, e só depois como profissão. Calligaris se formou na Escola Freudiana de Paris, presidida por Jacques Lacan (1901-1981). Em sua formação, ele também teve aulas com Roland Barthes (1915-1980) e Michel Foucault (1926-1984).
Publicidade
LEIA TAMBÉM: VÍDEO: o mundo sob o olhar de Aidir Parizzi
Contardo Calligaris veio ao Brasil pela primeira vez em meados dos anos 1980 para o lançamento de seu primeiro livro de psicanálise: Hipótese Sobre o Fantasma. Foi convidado a voltar periodicamente, para encontros com profissionais. Pouco tempo depois, em 1989, fixou residência aqui e viveu suas últimas décadas em São Paulo, onde se dividia entre o consultório e a atividade intelectual.
Em um de seus livros, Hello, Brasil! e Outros Ensaios: Psicanálise da Estranha Civilização Brasileira (Três Estrelas), lançado originalmente em 1991 e depois em 2017, o psicanalista parte de uma investigação pessoal – justamente o que o fez deixar a França no fim dos anos 1980 para se mudar para o Brasil – para fazer uma espécie de análise do País, passando pela persistência da herança escravocrata até a corrupção política.
Publicidade
Ele é autor de vários outros livros na área de psicanálise. Um de seus maiores sucessos é Cartas a um Jovem Terapeuta: Reflexões para Psicoterapeutas, Aspirantes e Curiosos, que ganhou uma edição ampliada da Planeta em 2019, uma década depois de seu lançamento.
LEIA TAMBÉM: Dica de leitura: o que seria da humanidade sem um cão para protegê-la
Também recentemente, em 2019, pela Papirus, ele lançou Coisa de Menina?: Uma Conversa Sobre Gênero, Sexualidade, Maternidade e Feminismo, com Maria Homem.
Publicidade
Desde 1999, Contardo Calligaris era colunista da Folha de S. Paulo. Pela coleção Folha Explica, da Publifolha, ele lançou um livro sobre a adolescência. Pelo selo Três Estrelas, saiu, em 2013, Todos os Reis Estão Nus, com uma seleção de seus melhores textos publicados no jornal.
Sua estreia no romance foi em 2008, com O Conto do Amor, pela Companhia das Letras. Nele, o autor brinca com elementos biográficos – o protagonista, Carlo Antonini, é um psicanalista com consultório em Nova York e filho de um pai engajado na resistência antifascista italiana – e tem como tema central a busca da identidade.
LEIA TAMBÉM: ‘Rastejando até Belém’ é publicado pela primeira vez no Brasil
Publicidade
Calligaris retoma seu personagem em A Mulher de Vermelho, lançado em 2011 também pela Companhia das Letras. O romance mistura investigação psicanalítica e policial, passado e presente.
Em uma entrevista concedida em 2015, o psicanalista contou que se voltaria mais uma vez a Carlo Antonini, num terceiro romance que abordaria a infância do personagem numa obra ainda mais autobiográfica. Não há previsão de publicação.
Os dois romances deram origem à série Psi, produzida pela HBO e que teve quatro temporadas (a mais recente é de 2018) que estão disponíveis na HBO Go. Psi foi criada pelo próprio autor e dirigida por Max Calligaris, seu filho, e por Marcus Baldini.
Publicidade
LEIA TAMBÉM: Nova biografia de Hannah Arendt é lançada no Brasil
This website uses cookies.