Nos altos da Rua da Pedreira, em Santa Cruz do Sul, um ponto de ocupação irregular chama a atenção das guarnições da Força Tática (FT). Já é rotina os policiais da divisão de elite da Brigada Militar (BM) estarem em patrulhamento no bairro e flagrarem a movimentação do tráfico de drogas nas imediações do chamado Beco dos Cachorros.
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A área cercada por uma vasta mata tem aos fundos a Travessa Krug e como laterais as ruas Macapá e Bolívia. Em um muro na entrada, o primeiro recado. Uma grande pichação, onde está escrito Os Manos – nome da facção que domina o comércio de drogas na região –, mostra quem comanda o ponto. Bem no meio do corredor íngreme com trilha, terra e pedras soltas, um casebre abandonado de madeira virgem virou um centro de aglomeração de pessoas.
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Mais do que isso, é identificado como um fumódromo de usuários de crack, que em vez da rua, com receio de abordagens policiais, buscam o lugar totalmente insalubre para sustentar o vício. A reportagem policial da Gazeta do Sul foi até lá e fez um diagnóstico do ponto, considerado um dos maiores redutos de usuários de entorpecentes da cidade. A primeira constatação é que a sujeira e as condições precárias de higiene tomam conta do imóvel.
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Por todo canto se vê lixo, roupas amassadas, calçados velhos, lâminas de barbear, isqueiros, camisinhas usadas, papelotes, facas de serrinha, caixas de fósforo e até restos de comida em marmitas de isopor. O assoalho de madeira solta com buracos se move conforme o passo. A quantidade de mosquitos também é um ponto marcante do fumódromo, e se torna perigosa, uma vez que pneus carregados com água da chuva, potenciais focos de dengue, estão dispostos ao lado do casebre.
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Dois sofás em parte rasgados, um dentro e outro fora do casebre, são utilizados como cama por usuários. E engana-se quem pensa que somente pessoas de baixa renda ocupam aquele espaço. “Gente de todos os lugares vem aqui para usar crack. Em uma das abordagens, localizamos um empresário, dono de uma loja do Centro. Ele tentou nos aplicar que tinha vindo aqui apenas para ver se achava sua empregada”, contou um dos PMs que atuam em diligências no local.
Essa concentração de potenciais clientes chamou a atenção dos líderes do tráfico. Sabe-se que os pontos de venda de entorpecentes no Bairro Pedreira, incluindo o fumódromo, são comandados por um dos chefões da facção Os Manos, atualmente apenado. Gerentes em liberdade, sob o comando dele, ocupam os locais para realizar a venda. Esses acabam sendo os focos das prisões da FT. Porém, muito mais do que uma simples sensação, é fato que a BM “enxuga gelo” realizando as operações no fumódromo do Beco dos Cachorros.
Pichação com nome da facção Os Manos pode ser visualizada no acesso ao Beco dos Cachorros, pouco antes de chegar ao casebre | Foto: Rafaelly Machado
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Nenhuma investigação aprofundada ou abordagem social aos usuários é realizada. Além disso, muitos dos traficantes gerentes capturados no local são logo soltos pela Justiça. Na última quarta-feira, um desses comandados, de 42 anos, foi preso com 18 pedras de crack embaladas para venda aos usuários no ponto, além de duas facas escondidas no antebraço e R$ 13,50 em dinheiro. Embora a Polícia Civil tenha lavrado o flagrante e encaminhado ele ao presídio, um dia depois, na quinta-feira, quando a Gazeta do Sul acompanhou uma abordagem da FT, o mesmo homem já estava de volta, solto pela Justiça.
Na abordagem de quarta-feira, além da prisão dele, uma mulher de 33 anos foi detida com uma pedra de crack e R$ 50,00 em dinheiro. Ela prestou depoimento na delegacia, sob a condição de testemunha, pois seria uma usuária. No entanto, já havia sido presa em 6 de setembro no fumódromo, vendendo entorpecentes. Na ocasião, escondeu dentro das meias 12 pedras de crack e R$ 52,00 em dinheiro.
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Já são 13 prisões recentes por tráfico de drogas no Beco dos Cachorros. Em uma delas, em 1º de julho, um dos gerentes que é subordinado do chefe da facção foi capturado com 133 pedras de crack, uma porção de maconha e R$ 376,00 em dinheiro, além de apetrechos para fracionamento dos entorpecentes, como lâminas de barbear, rolos de fita e facas de serrinha. Isso demonstra a atuação forte do crime organizado no local.
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A área aos fundos, na Travessa Krug, que era ocupação irregular, foi desocupada pela Prefeitura em junho do ano passado, após decisão da Justiça, resultado de uma ação do Ministério Público ainda em 2007. Os moradores foram removidos; no entanto, o fumódromo de crack, no centro do Beco dos Cachorros, continua sendo ocupado pelos usuários.
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O promotor Érico Barin salientou que houve atuação da 2ª Promotoria de Justiça Especializada, mediante inquérito civil, em face de ocupações irregulares naquela localidade. De acordo com ele, depois das retiradas das moradias, o Município ficou encarregado de fazer a fiscalização para proibir novas ocupações.
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