As eleições presidenciais de 2010, 2014 e 2018 tiveram em comum um acentuado crescimento e influência do dito voto evangélico, seja pentecostal, católico ou evangélico tradicional.
Trata-se de um efeito colateral da ascensão de propostas polêmicas e consequentes debates que dizem respeito ao que denominamos de “valores cristãos”, mas sobretudo socialmente conservadores.
Entre os valores cristãos destaca-se especialmente a defesa da vida intrauterina, ou, dito de outro modo, a intransigente postura contra a legalização do aborto, para além do hoje permitido e previsto em lei.
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Para além da agenda cristã, há outras questões que ensejam reações similares: o cultivo e comércio de drogas (em modo legal e ilegal), a violência e a mortalidade inerente às drogas, a insegurança pública (em sentido amplo). Basicamente, o conservador tradicional é um defensor da lei e da ordem.
Mas se o conservadorismo social é nitidamente de direita e centro-direita, politicamente falando, o conservadorismo econômico é majoritariamente de esquerda e centroesquerda.
O que explica as dificuldades dos governos em realizar adequações fiscais e orçamentárias, ou propor modificações estruturais do Estado, a exemplo de privatizações e terceirizações.
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É o que se habituou nominar de agenda liberal, regra geral atribuída aos partidos de direita e centro-direita. Porém, entre seus adversários (da agenda) há tanto conservadores tradicionais (ditos de direita) quanto simpatizantes da esquerda.
Afinal, propostas político-legislativas que ensejam riscos à estabilidade pessoal costumam ser rechaçadas tanto por ação à direita quanto à esquerda do espectro ideológico.
Ações governamentais que ensejam alterações em estatutos previdenciários e sistemas públicos de saúde, principalmente, ou ações que sugerem perda de empregabilidade e renda, unem em sua oposição o conservador social (dito de direita) e o conservador econômico (dito de esquerda).
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Resumo da ópera: do ponto de vista do interesse do cidadão e da nação, as questões sociais e econômicas pendentes perpassam largamente o espectro ideológico e a narrativa neurótica dos candidatos e partidos.
As eleições presidenciais mencionadas foram exemplares em comportamentos oportunistas no afã de seduzir eleitores (evangélicos, por exemplo), esquecendo-se seus autores da relevância das demandas. As divergências são de conteúdo e repercussão por proposição temática, não por razões de conservadorismo cristão, social e/ou econômico.
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