É do conhecimento de todos que as mudanças climáticas impõem desafios aos quais a humanidade precisa se adaptar. Desafios que vão desde a produção de alimentos pela agricultura até a ocupação de áreas de risco em centros urbanos. Portanto, a agricultura também precisa se adaptar e colaborar com a mitigação dos impactos causados pelos eventos extremos de enchentes e estiagens. Um exemplo recente aconteceu em setembro de 2023, quando fortes chuvas atingiram o Rio Grande do Sul e provocaram uma das maiores enchentes do Rio Taquari, causando mortes e muitos estragos. Centenas de pessoas ficaram desabrigadas.
Quem aponta a importância dos cuidados é o engenheiro agrônomo Jean Minella, professor no departamento de solos na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) desde 2009 e pesquisador da área de manejo e conservação do solo e da água, e em monitoramento hidrológico e ambiental em bacias hidrográficas. Ele explica que, para evitar a repetição de casos como esse, é necessário entender como o uso e o manejo do solo impactam os processos hidrológicos que se observam nos rios. Estes nada mais são do que uma calha natural que recebe tudo de bom e de ruim gerado pela atividade agropecuária na sua bacia de captação.
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O pesquisador ressalta que nessas bacias hidrográficas existe uma grande variabilidade de solo, de relevo e geologia. No entanto, quando se sai dessas questões e se adicionam as atividades antrópicas (ações que são realizadas pelo homem) nessa complexidade, o fenômeno torna-se ainda mais complicado, uma vez que a utilização e o manejo do solo podem atenuar ou agravar os efeitos climáticos ou a fragilidade natural da bacia.
Segundo o professor, os solos, quando bem manejados, controlam funções hidrológicas fundamentais como a infiltração, o armazenamento de água e o escoamento superficial. Um sistema inteligente busca, primeiramente, a maximização da infiltração de água no solo e, consequentemente, o seu armazenamento para os períodos de menor disponibilidade hídrica. Num segundo momento, a condução do excesso de água para fora da gleba de forma disciplinada nos eventos extremos de chuva, para controlar o processo erosivo.
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Os princípios conservacionistas envolvem a proteção do solo contra os agentes de degradação e maximizam suas funções. É possível sistematizar as práticas conservacionistas em quatro princípios: a proteção do solo contra o impacto da gota da chuva, o aumento da matéria orgânica, a maximização da infiltração e o controle do escoamento superficial. Entretanto, além de refletir sobre a importância de cada um deles, é importante aplicar todas as quatro estratégias. Se uma delas não for atendida, o sistema será ineficiente.
Minella destaca que é preciso ter consciência de que vivemos um processo de aquecimento global, o qual tem gerado alterações no clima. Assim, é preciso que haja uma adaptação no sistema de produção. “Claro que é importante ajudar os atingidos depois de uma catástrofe, mas é importante também uma nova concepção e adaptação aos fenômenos climáticos extremos, como a estiagem e o excesso de chuvas. No caso, é preciso perceber que a reservação de água, no solo ou em reservatórios, irá atenuar ao mesmo tempo a estiagem e o excesso de chuva. No momento em que a gente estabelece o manejo do escoamento, nas propriedades rurais ou nas cidades, estamos atuando nas duas frentes”, garante.
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O professor atesta que o Brasil é um exemplo de manejo de solo para o mundo inteiro e de como as práticas de conservação foram desenvolvidas. Mas agora é preciso uma nova etapa, que é o manejo do escoamento. “A gente ainda não desenvolveu totalmente esse conjunto de práticas e ele é urgente, tanto para quando passamos pelo excesso quanto pela falta de chuvas. É preciso incorporar esse novo nível de aprimoramento da agricultura conservacionista no Brasil”, conclui.
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