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Direto da redação

Conselho de pai

Meu pai era professor estadual. Como seu ex-aluno em Geografia e na extinta Organização Social e Política do Brasil (OSPB), digo com certeza que o professor Luiz Carlos Düren foi um dos grandes notáveis no hall dos mestres da Escola Willy Carlos Fröhlich, o Polivalente. As aulas do pai eram muito mais do que repasse de conteúdos: eram lições de vida.

Mas ele também era autodidata em áreas técnicas e dominava bem questões ligadas à manutenção da casa, principalmente, eletricidade. Havia criado lá em casa um complexo sistema elétrico, com luzes que acendiam sozinhas à noite ou quando viajávamos, conforme certa combinação nos interruptores.

– Olha, filho: para esse circuito dar certo, é preciso isolar aqui e ali, soldar esse fio naquele que conecta o disjuntor à fotocélula, verificar as polaridades, checar a amperagem… – me explicava, com o voltímetro em mãos. E arrematava, num tom irônico:

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– Aproveites para aprender com o teu pai enquanto ele está vivo!

Se eu imaginasse que ele partiria tão cedo, teria prestado mais atenção. Não devido a um ou dois choques que tomei em reparos elétricos, mas por conta de outros desafios, para os quais seus experientes conselhos teriam sido fundamentais. E o principal desses desafios é, justamente, a paternidade.

Disseram-me certa vez que ele estava ansioso para conhecer o primeiro neto, mas papai acabou falecendo uma semana antes do nascimento do Júnior, hoje com 13 anos. Restou uma saudade imensurável de seu carinho e de seus conselhos.

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Eventualmente, me tomam por um expert em paternidade, por ter quatro filhos. Pedem-me dicas. Não tenho muito a dizer, ainda estou aprendendo. Pergunto-me como meu pai teria agido diante, por exemplo, do fiasco que nossa caçula, Ágatha, fez dias atrás durante um exame ortodôntico (sim, teremos também mais um causo da Ágatha hoje). Ela precisa colocar aparelho e, para tanto, é necessário um molde dos dentes. Porém, na hora do procedimento, fechou a boca com as duas mãos e não teve argumento, suborno ou ameaça que a fizesse abrir.

– Unhumm, Unhumm – grunhia, com a boca fechada, tentando derrubar com a ponta do pé os apetrechos que a moça do exame tinha em mãos. Até que saltou da cadeira e enveredou pelo labirinto de corredores do laboratório, enquanto eu e a Patrícia corríamos em seu encalço. E não saiu exame.

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Acho que a reação de meu pai diante da cena teria sido uma de suas estrondosas gargalhadas. O riso, afinal, é uma das melhores coisas que há, e o que gera nossas melhores lembranças. Por isso, aproveite esse fim de semana parar rir com seu pai, com seus filhos, com sua família. Abrace, beije, diga que os ama. A vida, às vezes, não permite que deixemos para depois.

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