André Jungblut é meu amigo desde tenra infância. De uns tempos para cá temos trocado, vez e outra, mensagens no “watts”. Com efeito, adotei totalmente esse meio de comunicação virtual. A uma porque é um “saco” a gente telefonar e o cara estar em pleno namoro e atender meio arfando; a duas, porque sempre há aqueles prolegômenos. “Bom dia, tudo bem? Tô te incomodando? Podes falar?” (Pior é que há os que transportaram para o “watts” esses salamaleques iniciais, absolutamente anódinos).

Pois mandei para o André uma mensagem em que apareciam rostos de pessoas de 1 a 100 anos. Quase um filme de terror. André, portador de um fino “sense of humor”, ao ver a foto do cara de 70 anos, disse que correu ao espelho e se alegrou. Fiz a mesma coisa e achei que ainda estava dando para o gasto. Claro, antigamente uma pessoa de 50 era ancião. Hoje homens e mulheres, em grande número, se cuidam e mantêm uma aparência saudável.

Então começamos, André e eu, a conjecturar qual teria sido o fator de nós estarmos longe daquele velhinho da foto. E aí começou a brincadeira: “foi a infância no São Luís, as uvas do Japão que havia no pátio”, “foram as bergamotas desapropriadas dos colonos da Linha João Alves”, “quem sabe as Gildas (sorvete com Coca-Cola)” , “ou as línguas com ervilha do antigo bar do Corinthians”, “não esquecendo as receitas do Irmão Pedro que, só vendo as letras de um bilhete, prescrevia remédios para todos os males”, “e os poderes sobrenaturais do leite cru contido nas garrafas que os leiteiros traziam de carroça da colônia”, “e os banhos lá no Caveira, no Fingerhut e na Praia dos Folgados”?

Publicidade

E assim fomos brincando e desenterrando motivos para esse vigor de quase todos os contemporâneos. Penso que devem ter influído as peladas de futebol, de pés descalços, em plena rua sem calçamento; de termos comido pão feito em casa (com aquela casca grossa e queimada, útil para ficar com as bochechas rosadas), pão esse acompanhado de torresmo de porco (Kriba), melado e nata. Na nossa dieta havia muita água pura, leite, frutas, muitas frutas. Quem sabe influiu termos nascido de parto natural, muitos em casa, assistidos só por uma parteira? Isso hoje seria impossível.
A gente passava caminhando e correndo o tempo todo. Não me lembro de família cujos filhos eram levados de carro para a escola. Ia-se a pé ou bicicleta, mesmo quando chovia ou era frio. Juro que falo sério: éramos felizes com aquela vidinha frugal.

(Abraços para Irmã Roberta, Lissi Bender e Sonia Kist)

Publicidade

TI

Share
Published by
TI

This website uses cookies.