O mundo vivia a expectativa pelo fim da Segunda Guerra Mundial. As notícias indicavam que o exército nazista dava sinais de fadiga, após quase seis anos de conflitos e lutas. Em Santa Cruz, apesar do contexto de instabilidade global, o cenário era de mudanças naquele 1945.

Com cerca de 55 mil habitantes – sendo 12 mil na cidade –, o município se desenvolvia rapidamente, uma característica observada desde a instalação dos primeiros imigrantes alemães a partir de dezembro de 1849. Estavam em atividade, segundo registros da época, 357 fábricas e 278 estabelecimentos comerciais.

No interior, o tabaco já demonstrava sua importância econômica entre as famílias, que comemoraram a instalação da fábrica de cigarros Sudan, em um prédio na Rua 28 de Setembro, na quadra entre as ruas Ernesto Alves e Assis Brasil. Sob o governo de Dario de Azevedo Barbosa, começavam as mobilizações em torno do calçamento das ruas centrais e de melhorias no saneamento básico. No coração da cidade, a Praça Getúlio Vargas passava por remodelação.

Em meio a tantas mudanças, o dia 26 de janeiro, uma sexta-feira, entrou para a história local. Pela primeira vez após quase cinco anos, os santa-cruzenses voltavam a receber notícias por meio de um jornal, desde a extinção do tradicional Kolonie, em 1941, por causa da Guerra. Entrava em circulação a Gazeta de Santa Cruz, que a partir de 1957 passou a se chamar Gazeta do Sul.

Com dez páginas e sem fotos, o primeiro exemplar da então Gazeta de Santa Cruz trouxe um resgate sobre a formação do município e registros relacionados a comércio, indústria e agricultura. Para os leitores, foi um verdadeiro presente.

Mas até a Gazeta chegar às ruas foi necessária uma mobilização em diferentes meios. Com o fim do Kolonie, que era escrito em alemão, por volta de 1943 integrantes do Rotary Clube começaram a tratar da possibilidade de fundação de um novo jornal, sobretudo diante das necessidades apontadas pelos moradores. Foi a partir desse sentimento, e também com o desejo de voltar a registrar aspectos locais, que o projeto começou a ganhar forma. As primeiras reuniões com esse objetivo ocorreram na então Associação do Comércio, Indústria e Agricultura, que funcionava na descida da Rua Ramiro Barcelos.

Além de cuidar da parte burocrática, como o registro do novo jornal no Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) – órgão que controlava a imprensa no governo de Getúlio Vargas – e na Associação Riograndense de Imprensa (ARI), havia outra preocupação: os textos deveriam ser escritos em português, pois a guerra continuava.

Na época, a maioria dos leitores, em especial os do interior, dominavam apenas a leitura em alemão. Apesar disso, a aceitação foi grande e, já no segundo ano, o jornal passou a circular duas vezes por semana. Hoje com edições diárias, a Gazeta do Sul integra a Gazeta Grupo de Comunicações, composta por cinco rádios, Portal Gaz, Gazeta da Serra, Fundação Gazeta, Editora Gazeta e um dos mais modernos parques gráficos do interior do Estado.

LEIA MAIS: Gazeta do Sul sorteia um carro nesta segunda-feira

Voando

A criação da Editora Santa Cruz Ltda., responsável pela produção da Gazeta, teve como parceiros Willy Carlos Fröhlich, Leopoldo Morsch, Francisco J. Frantz, Bruno Agnes, Arthur Carlos Kliemann, Rolph Bartholomay, Erny F. Ludwig e Ricardo Scherer. Em um dos relatos acerca da fundação do jornal, Francisco Frantz contou como foi o registro na ARI.

Em 17 de janeiro de 1945, o advogado Rolph Bartholomay, que havia sido escolhido para ser o redator, precisou ir às pressas até Porto Alegre para tomar as providências. Na época, havia uma linha aérea operada pela extinta Varig, que duas vezes por semana vinha de Cruz Alta, fazia escala em Santa Cruz e seguia para a capital. Ele então embarcou e foi em busca da inscrição, efetivada em poucas horas.