A 70ª Feira do Livro de Porto Alegre foi aberta nessa sexta-feira, 1º, na Praça da Alfândega, celebrando um dos mestres da literatura brasileira. Nascido em Alegrete, em 25 de julho de 1940, e radicado na capital gaúcha desde a juventude, Sergio Faraco é o grande homenageado desta edição. Na qual, por sinal, autografa novo livro, o volume de tom memorialístico Digno é o cordeiro, lançado pela L&PM.
A obra vem juntar-se a uma prolífica produção na qual se salientam os contos, gênero no qual encontrou sua principal via de expressão. Mas Faraco também elaborou crônicas e pesquisas, sobre temas variados de seu interesse, bem como organizou antologias. Ocupou-se ainda de traduzir clássicos da literatura latino-americana, entre os quais sempre se costuma mencionar Cavalos do amanhecer, do uruguaio Mario Arregui. Eduardo Galeano e Horacio Quiroga são outros autores que o autor trouxe para o português.
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Na véspera do início da Feira do Livro, Faraco concedeu entrevista exclusiva à Gazeta do Sul, e que foi viabilizada por e-mail. Nela, o autor reflete sobre a condição de patrono e também sobre o lançamento do novo livro. Digno é o cordeiro constitui uma espécie de segunda parte de obra anterior, Lágrimas na chuva, de 2002, no qual descreve temporada em Moscou no começo dos anos de 1960. Agora, narra vivências do período imediatamente seguinte, quando havia voltado ao Brasil, em plena vigência do regime militar.
Entrevista – Sergio Faraco, Escritor, patrono da Feira do Livro de Porto Alegre
- Gazeta do Sul – O senhor é o patrono da Feira do Livro de Porto Alegre, e isso depois de frequentar o evento ao longo dos anos, inclusive com muitas sessões de autógrafos de lançamentos. Como é chegar a essa edição, justamente a de número 70 da feira, agora na condição de grande homenageado? Desde a passagem do século recusei algumas vezes convites que me fez a Câmara Rio-Grandense do Livro, por discordar da mudança do sistema de escolha do patrono que ela impôs naquele ano. Como recentemente foi retomado o procedimento tradicional, aceitei. E, por certo, com muita honra, ainda mais considerando que talvez esta feira seja a mais importante da história do livro em Porto Alegre. É a feira após a tragédia do primeiro semestre e sua realização demonstra a fibra de nossos editores, livreiros, distribuidores, sobretudo aqueles que perderam tudo ou quase tudo. A editora que há mais de 30 anos publica meus livros, a L&PM, perdeu muitos milhares de exemplares e perdeu até sua sede.
- Quais são as primeiras lembranças pessoais que o senhor guarda dessa feira, como frequentador e também como autor? Não frequentei a feira em seus primeiros 20 anos. Quando comecei a me interessar por livros, não estava em Porto Alegre. Acho que minha primeira vez na feira foi na sessão de autógrafos de meu livro Depois da primeira morte, pela Editora Bels. E foi uma ocasião pitoresca. Semanas antes, por acaso, eu conversara com o cardeal dom Vicente Scherer. Bem, ele foi à praça para receber meu autógrafo. E já ia longe quando o editor, Roberto Mara, soube que ele havia comparecido e saiu correndo atrás para pedir que voltasse e se deixasse fotografar ao meu lado. Gentilmente, dom Vicente anuiu.
- Ainda que nascido em Alegrete, de certo modo o senhor fez de Porto Alegre a sua cidade, o seu lar, não é? Como o senhor enxerga a capital nos dias atuais, em um olhar afetivo mas também atento a demandas? Em meu livro As noivas fantasmas & outros casos, publiquei cartas e cartões que recebi de Erico Verissimo em minha mocidade, ele era muito gentil e afetuoso com jovens escritores. Numa das cartas, ele me recomendava vir para Porto Alegre, como ele viera de Cruz Alta, pois na cidade natal, geralmente, não havia estímulo para quem pretendia escrever. Enfim, quero dizer que há 60 anos vivo em Porto Alegre com minha esposa. É a cidade em que nasceram meus filhos. Ou seja, sinto-me muito mais porto-alegrense do que alegretense.
- Mais de duas décadas depois de “Lágrimas na chuva”, o senhor lança “Digno é o cordeiro”, que dialoga diretamente com as memórias do senhor de sua estada em Moscou. E, nesse caso, essas memórias de agora são de acontecimentos vividos em Porto Alegre. Como foi revisitar esse passado, tenso e traumático, vivido na capital gaúcha? A maior dificuldade foi tornar o texto legível, sou ficcionista, não memorialista. Tive de relembrar fatos perturbadores, mas os prospectei a frio, digamos com o olhar do Dr. Nicolaes Tulp em sua lição de anatomia, na célebre pintura de Rembrandt.
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Carina WeberCarina Hörbe Weber, de 37 anos, é natural de Cachoeira do Sul. É formada em Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e mestre em Desenvolvimento Regional pela mesma instituição. Iniciou carreira profissional em Cachoeira do Sul com experiência em assessoria de comunicação em um clube da cidade e na produção e apresentação de programas em emissora de rádio local, durante a graduação. Após formada, se dedicou à Academia por dois anos em curso de Mestrado como bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Teve a oportunidade de exercitar a docência em estágio proporcionado pelo curso. Após a conclusão do Mestrado retornou ao mercado de trabalho. Por dez anos atuou como assessora de comunicação em uma organização sindical. No ofício desempenhou várias funções, dentre elas: produção de textos, apresentação e produção de programa de rádio, produção de textos e alimentação de conteúdo de site institucional, protocolos e comunicação interna. Há dois anos trabalha como repórter multimídia na Gazeta Grupo de Comunicações, tendo a oportunidade de produzir e apresentar programa em vídeo diário.