A lista de candidatos a vice-prefeito de Santa Cruz do Sul inclui dois advogados, dois empresários, dois servidores públicos e uma jornalista. São seis homens e uma mulher. O mais novo tem 38 anos. Já o mais velho tem 73. Curiosamente, apenas três são naturais de Santa Cruz. Os demais vieram de Venâncio Aires, Bagé, Vacaria e Brasília. Três já possuem uma carreira na política, enquanto quatro concorrem pela primeira vez a um cargo eletivo.
A uma semana da eleição mais disputada da história recente do município, a Gazeta do Sul ouviu, ao longo dos últimos dias, os sete postulantes a uma das posições mais importantes da esfera pública municipal – que tem, entre as suas atribuições, auxiliar o prefeito e substituí-lo em caso de ausência ou afastamento por qualquer motivo.
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Entre a política e o mundo empresarial
A trajetória de César Antônio Cechinato dividiu-se entre o mundo político e o setor empresarial. Natural de São Manoel, à época distrito de Vacaria e hoje parte de Campestre da Serra. Mais velho de dois filhos de um casal de comerciantes, seu pai era líder comunitário e cabo eleitoral do ex-deputado Getulio Marcantônio. Começou a trabalhar aos 15 anos em uma concessionária da Mercedes.
Foi o segundo emprego, porém, que o colocou no caminho para chegar a Santa Cruz. Aos 18, tornou-se funcionário do Banco Itaú, onde permaneceria por uma década. Ao mesmo tempo, ingressou na faculdade de Economia, mas não chegou a concluir. Terminaria por se formar em Direito e virar advogado.
Cechinato atuava no Itaú em Caxias do Sul quando foi encarregado de vir atuar na agência santa-cruzense, onde chegou a ser gerente geral. Embora fosse uma missão era temporária, não demorou para ele se envolver em definitivo com a cidade, a ponto de deixar a empresa para poder permanecer aqui. “Era para ser um ano mas já estou há quase 30 anos. Não quis mais sair”, conta.
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Do banco foi para uma das empresas mais tradicionais da cidade, a Metalúrgica Mor, onde atuou por 19 anos e ocupou diversos cargos. Em paralelo, militou em entidades empresariais e iniciou a caminhada na política, ajudando a fundar o PSDB em Santa Cruz. Em 2005, quando o partido chegou à Prefeitura com José Alberto Wenzel, acabou assumindo uma vaga na Câmara e tornou-se líder de governo. Já em 2007, após a eleição da governadora Yeda Crusius, alcançou uma posição de nível estadual: tornou-se diretor administrativo do Banrisul, função que exerceu até 2010.
Depois de um período prestando consultorias no setor privado, voltou a ocupar cargo público ao tornar-se secretário de Desenvolvimento Econômico no governo Telmo Kirst. Após ensaiar uma candidatura na majoritária em 2016, a partir de uma aliança com o MDB que naufragou de última hora, os tucanos retomaram o projeto esse ano. Na reta final do prazo de convenções, foi escolhido para compor chapa com Mathias Bertram, com quem já possuía uma amizade de vários anos e embalado pela aliança de tucanos e petebistas em nível estadual.
Aos 62 anos, para além das atividades profissionais, que incluem ser professor de Direito Empresarial na Faculdade Dom Alberto, dedica-se a três filhos e um enteado e ao casamento com Léa, que atua na área da saúde. Morador do Bairro Bonfim, é um “leitor voraz”, sobretudo das seções de economia e negócios de diversos jornais do Estado.
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De Linha Brasil à presidência da Câmara
Elstor Renato Desbessell sentiu na pele as dificuldades pelas quais passam a população do interior. Nascido em Linha Brasil, distrito de Monte Alverne, é o mais novo dos cinco filhos de um casal de fumicultores. Embora desde cedo ajudasse a família na lavoura, sempre foi estimulado a estudar. Porém, como à época não havia escolas de segundo grau naquela região à época, passou a vir para a cidade diariamente, deslocando-se de ônibus em um trajeto sofrido. “Como não havia acesso asfáltico, demorava 1 hora e meia para ir e 1 hora e meia para voltar. Isso dificultava bastante, mas eu não queria parar de estudar”, relembra. Após concluir o colégio, fez faculdade de Economia.
Elstor ingressou na Prefeitura em 1985, primeiro na subprefeitura de Monte Alverne. Dez anos depois, prestou o primeiro concurso público do município. Desde então, passou por diversos setores e foi, por duas vezes, secretário da Fazenda nos governos Sérgio Moraes e Kelly Moraes. Antes de se licenciar no início do ano para assumir a presidência da Câmara, estava lotado na Junta Militar.
Foi na condição de servidor que acabou aproximando-se na política. Antes, quando ainda morava no interior, chegou a participar da juventude progressista – curiosamente, a convite de Ricardo Hermany, filho da sua hoje companheira de chapa. Concorreu pela primeira vez em 2004, pelo MDB, mas ficou como suplente. Depois, já no PTB, elegeu-se duas vezes, em 2012 e 2016. Com votos divididos entre interior e região central, envolveu-se com diversas entidades – foi, por exemplo, presidente do Avenida entre 2005 e 2006. Chegou ao PL em março de 2020, com a eleição para a Prefeitura em vista. Após conversas com diversas frentes, acabou fechando acordo para ser vice de Helena Hermany.
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Aos 51 anos e morador do Bairro Bonfim, Elstor se prepara para mudanças importantes em sua vida, para além da política. Além de cursar o oitavo semestre de Direito, com planos de começar a advogar após se aposentar da Prefeitura, ele e a esposa, a comerciante Ingrid, estão na fila para adotar um filho. No tempo vaga, dedica-se ao seu principal passatempo: incursões ao interior, onde visita parentes, frequenta jogos de futebol, quermesses e encontros de sociedade e até faz cavalgadas.
Dos bastidores à linha de frente
A eleição de 2016 representou uma virada na vida de Fabiano Rodrigo Dupont: depois de mais de 15 anos atuando nos bastidores da política, ele passou para a linha de frente lançando-se candidato a prefeito de Santa Cruz. Embora pouco conhecido, ficou em terceiro lugar e desde então tornou-se um elemento importante para a disputa deste ano, na qual acabou como vice de Alex Knak.
Fabiano cresceu na antiga Vila São Luiz, atual Bairro Universitário, e assistiu ao divórcio dos pais quando tinha três anos. Da mãe, que além de psicóloga é advogada e professora universitária, recebeu a influência que levou-o a estudar Direito. Já a política entrou na sua vida por meio do padrasto, o também advogado Ademar Costa.
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No início dos anos 2000, Costa liderou a refundação do PSB em Santa Cruz. Coube a Fabiano, então com pouco mais de 20 anos, organizar a juventude do partido. Com a eleição de Heitor Schuch, então presidente da Federação dos Trabalhadores da Agricultura (Fetag), para deputado estadual, Fabiano iniciou em 2003 uma trajetória na Assembleia Legislativa que segue até hoje.
Em um primeiro momento, atuou no gabinete de Schuch. Depois, assumiu funções mais técnicas. Até se afastar por conta da eleição, atuava como assessor da Comissão de Constituição e Justiça. “Acho que a gente não enche três mãos de funcionários da Assembleia que estão lá há mais de 15 anos. Ninguém se mantém com um cargo comissionado só pela questão política”, diz.
Em 2016, quebrando uma sequência de apoios sistemáticos ao PTB, os socialistas decidiram encarar um voo solo na eleição municipal. “Até hoje me chamam de louco”, brinca Fabiano. Segundo ele, a intenção era “plantar uma semente” de renovação na política local. “Alguém um dia tem que quebrar essa espinha. Talvez seja agora”, colocou. O recuo do projeto de candidatura própria para ser vice se deu, conforme ele, por afinidade e por considerar que a aliança tem chances reais de vitória.
Além da política e do trabalho na Assembleia, Fabiano dá aulas de Direito Penal na Unisc. O tempo livre dedica principalmente aos dois filhos do casamento com a professora municipal Gabriela. A família vive no Bairro Arroio Grande.
A estreia na política
Em Santa Cruz, são poucos os que desconhecem a trajetória de Ido Inácio Dupont. Dono de uma distribuidora de alimentos que carrega o seu sobrenome e está entre as 20 maiores empresas do município, ele tem origens no interior.
Nascido em uma família de 13 filhos na Entrada Fritzen, em Cerro Alegre Alto, cresceu ajudando os pais na lavoura de tabaco e em culturas paralelas – o pai vendia verduras e outros produtos na cidade. Embora nunca tenham passado necessidade, acostumaram-se a viver com limitações. “Guaraná eu só fui conhecer aos 18 anos. Cerveja, então, nem se fala”, recorda.
Aos 12 anos, ainda no campo, teve o que considera o primeiro ato empreendedor de sua vida: o dinheiro que obteve na venda de um coelho, reinvestiu comprando dois animais. “Gastar é uma coisa. Mas investir faz o dinheiro se multiplicar”, observa.
Foi apenas aos 23, no entanto, que, interessado em ter uma vida melhor, decidiu buscar emprego na cidade. Após tentativas frustadas, conseguiu um trabalho com a ajuda de um cunhado com quem foi morar. A caminhada no setor de alimentos começou quando se tornou vendedor de balas da antiga Sulina. Com uma caminhonete carregada de produtos, peregrinava pelos comércios da cidade. O negócio foi se expandindo aos poucos até Ido se tornar o maior distribuidor da Nestlé do Rio Grande do Sul. Atende 330 municípios e tem quase 300 funcionários diretos, além dos terceirizados.
Com a vida dedicada à empresa, a atividade de pecuarista e a outras atuações comunitárias – foi, por exemplo, quatro vezes presidente da Oktoberfest –, manteve-se afastado da política até este ano, quando decidiu aceitar o convite do prefeito Telmo Kirst para concorrer. “Eu pensei: consegui tanta coisa na minha vida, por que não posso dar um pouco de volta”, alegou. Apesar de ser estreante nesse universo, garante que sempre guardou
Aos 69 anos, pai de três filhos e avô de três netos, além de uma enteada, gosta de passar o tempo livre em sua casa, no condomínio Costa Norte, acompanhado da esposa, a dona de casa Claudete. Outro passatempo envolve visitas ao campo.
Jornalista, mãe e militante
Quando ainda era estudante em Venâncio Aires, Emanuele Mantovani passou a enxergar os reflexos da desigualdade social ao seu redor. Terceira filha de um mecânico e de uma dona de casa e ativista da causa animal, morava em frente a uma agência do antigo INPS e acostumou-se a ver pessoas batendo na porta de sua casa ao meio-dia para pedir um prato de comida. “Um dia eu estava indo para a escola e vi um homem comendo restos de alimentos que retirava de dentro da lata de lixo. Eu achei que devia fazer alguma coisa”, conta.
Por conta disso, aproximou-se de pessoas ligadas ao PT, filiou-se ao completar 16 anos e passou a atuar em campanhas. Embora a política não fosse totalmente estranha em sua vida – sua mãe foi vereadora suplente pelo PL em Venâncio – não tinha pretensão de concorrer. Acabou por seguir outro projeto: o de se tornar jornalista. Foi em função da faculdade que mudou-se para Santa Cruz há 22 anos.
Nos últimos anos, em paralelo às atividades profissionais, também dedicou-se aos estudos. Tem especialização em marketing e é mestre em Desenvolvimento Regional. Atualmente, além de uma segunda graduação em Sociologia, faz doutorado. Sua tese terá como tema políticas públicas de microempreendedorismo com foco em mulheres.
No começo de 2017, incomodada com posturas de alguns integrantes do PT em nível local, transferiu-se para o PCdoB. Já no ano passado, começou a participar de conversas com vistas à eleição deste ano e, preocupada com a ascensão do conservadorismo e aversão à política, teve o nome indicado pela direção estadual para ser vice de Frederico de Barros. “Conhecia o Frederico há mais tempo e sabia que seria uma candidatura em nome de um projeto”, observa.
Aos 41 anos, mora no Bairro Universitário com a filha Clara e três gatos. O tempo livre dedica a corridas, visitas a irmãs e encontros com amigos em bares.
Brasiliense com coração santa-cruzense
Paulo Roberto de Souza Bigolin nasceu em Brasília, mas tem sangue gaúcho. Seu pai, que é engenheiro agrônomo, é natural de Fontoura Xavier e mudou-se para a capital federal na década de 70. Lá, conheceu a primeira esposa, que é comerciante. O casal se divorciou quando Paulo tinha 1 ano e 8 meses. Depois, o pai casou de novo e deu a ele três irmãos.
De origem humilde, Paulo começou a trabalhar por volta dos oito anos como entregador de jornal. Sua primeira profissão formal foi técnico eletrônico. Aos 17 anos, foi morar em São Paulo, onde iniciou carreira na iniciativa privada. Ao longo da vida, morou em vários cantos do país e passou por diversas empresas.
Após graduar-se em Direito, começou a trilhar o sonho de se tornar advogado tributarista. “Na época do governo Sarney, era muito difícil. Um dia você acordava e o dinheiro não valia mais nada. E eu tinha a falsa impressão de que um advogado tributarista ia resolver isso”, recorda. Passou a atuar principalmente para instituições financeiras em questões fiscais, sua especialidade até hoje.
Há 10 anos, após um período trabalhando em uma multinacional do ramo de segurança, transferiu-se para Santa Cruz para formar um escritório de advocacia e contabilidade em sociedade com outros profissionais. Não demorou para se apaixonar pelo município. “Desde a primeira vez, não tive dúvidas de que estava na melhor cidade por onde passei. E olha que já andei bastante.” Foi por aqui que conheceu a médica Bruna, que se tornaria sua esposa. A família mora no Condomínio Costa Leste e, além de um filho de 14 anos, fruto do primeiro casamento, Paulo tem dois enteados.
Sem políticos na família, teve contato com o Novo em 2009, quando fazia uma pós-graduação em Brasília e conheceu pessoas que estavam envolvidas na criação da sigla. Atraído pelo projeto, que tinha entre seus princípios não utilizar dinheiro público, passou a frequentar reuniões e ajudar a coletar assinaturas. Em Santa Cruz, foi a segunda pessoa a assinar ficha de filiação e, já este ano, acabou sendo escolhido diretamente por Carlos Eurico Pereira para dividir a chapa.
Ciclista há muitos anos, tem entre seus principais passatempos explorar o interior de Santa Cruz de bicicleta. Também são paixões a leitura e a escrita: é autor de um livro sobre planejamento tributário e publica artigos em uma página na internet.
Gaiteiro e separatista
A relação de Walter Couto com Irton Marx começou há 28 anos. Os dois se conheceram na fábrica de confecções da qual Irton era proprietário. Naquele início da década de 1990, Irton chamava a atenção de todo o país por defender o desmembramento do Rio Grande do Sul do restante do país e Couto simpatizou com aquelas ideias, passando a acompanhar o futuro colega de chapa em debates que ele promovia à época. Até hoje, embora reconheça a dificuldade de o projeto separatista tornar-se realidade, entende que esse seria o melhor caminho. “Pensando bem, se tivéssemos um Rio Grande separado, tudo seria melhor. Um país menor é melhor de administrar. O Brasil é grande demais”, avalia.
Natural de Bagé, Couto é um dos 13 filhos de um casal de agricultores. Até os 12 anos, ajudou no cultivo de trigo, milho e outros produtos. Depois, foi para a cidade estudar e trabalhar. Passou por armazéns e até por uma oficina de bicicleta antes de servir no quartel e entrar no setor de construção civil, onde faria carreira. Começou como ajudante e mais tarde fez curso de projetista.
Depois de passar por cursos na área de administração em Porto Alegre, veio para Santa Cruz há 34 anos, convidado por um conhecido para trabalhar em uma construtora. Na empresa, que hoje não existe mais, participou do projeto de sete edifícios. Desde 2000, possui sua própria empresa, na qual trabalha com todos os tipos de obras, mas principalmente casas.
Aos 73 anos e sem jamais ter tido qualquer atividade política na vida, foi convidado por Irton para ser seu candidato a vice às vésperas do prazo para filiação. Pesou na decisão de aceitar o desafio a admiração que mantém pelo companheiro. “Se a gente senta e conversa com ele, vê que é muito inteligente”, conta.
Morador do Arroio Grande, Couto tem quatro filhos – um casal do primeiro casamento, do qual ficou viúvo, e outro casal fruto da união com a atual esposa, a dona de casa Elma. Ainda hoje está à frente da empresa, mas com a ajuda de um dos filhos. Seu principal hobby é a música: até final dos anos 90, integrou grupos regionalistas, tocando gaita de botão e contrabaixo.
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