Aprovado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado na última semana, o adiamento das eleições de 2020 é um fato histórico. A última vez que algo parecido ocorreu foi em 1980, quando uma emenda constitucional estendeu os mandatos dos prefeitos, vice-prefeitos, vereadores e suplentes até 1982, para, aí sim, ser realizado o pleito.
Na ocasião, embora a determinação tenha sido interpretada como manobra governista para evitar uma derrota nas urnas, o argumento foi de que os gastos eleitorais seriam menores – justificativa também levantada agora pelos defensores das eleições gerais em 2022, junto da situação sanitária que envolve a pandemia de Covid-19.
Assim, os eleitos para prefeituras e câmaras municipais em 1976 governaram e legislaram por seis, ao invés de quatro anos. Um dos prefeitos da região, no entanto, não aceitou tal medida. Figura histórica, o então prefeito de Rio Pardo, Fernando Wunderlich, rejeitou a extensão de seu mandato, ao final de 1980.
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Hoje com 91 anos, o ex-chefe do Executivo da Cidade Histórica conversou com a Gazeta do Sul na tarde desse domingo, 5, e falou sobre o episódio, que fez o vice-prefeito da época, doutor Paulo César Begnis (falecido em 2017), assumir em seu lugar. “Na oportunidade, não aceitei a prorrogação do meu mandato porque não achei a medida legítima, pois não havia sido pelo voto popular. Fui eleito pelo povo para quatro anos, e não seis”, ressaltou Wunderlich.
Embora as eleições de 2020 tenham sido adiadas para novembro, os mandatos dos prefeitos e vereadores seguem, por ora, com a mesma vigência, até dezembro deste ano. Apesar da posição firme sobre o tema, o ex-prefeito de Rio Pardo mostrou-se sensível às condições futuras que a pandemia pode vir a apresentar aos brasileiros.
“Saliento que sempre fui radicalmente contra a prorrogação dos mandatos, mas estamos vivendo uma situação sui generis, em uma circunstância única. Se a pandemia continuar por mais três meses, entraremos no campo da tragédia e medidas diferentes precisarão ser tomadas”, alertou.
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O que ele pensa sobre a situação atual
O advogado Fernando Wunderlich governou Rio Pardo por dois mandatos: de 1956 a 1959, pelo MDB, e de 1976 a 1980, pelo PDT. Participou ativamente da criação de símbolos da Cidade Histórica, tais como a aprovação do brasão do Município, ainda quando era vereador, em maio de 1954. Já como prefeito, ele idealizou a criação da bandeira, em dezembro de 1957, e promulgou a criação do hino, em setembro de 1980.
Hoje, segue acompanhando a conjuntura política do País, Estado e região. “A situação que estamos vivendo é sem par em toda a história do Brasil. Vemos problemas de ordem política. Não há mais temperança ou racionalidade nos atos”, afirmou.
Wunderlich também lamentou as supostas irregularidades recém-apontadas pela Operação Camilo, da Polícia Federal, que chegou a prender o então prefeito Rafael Reis Barros. “Foi um episódio deplorável, triste para a nossa Cidade Histórica. Veremos qual será o epílogo de toda essa tragédia.”
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Entusiasta da política, recordou de quando apertou a mão do presidente Getúlio Dornelles Vargas, em 1954. “Lembro que eu e meu colega de vereança, Otávio Cardoso, fomos representar Rio Pardo em um congresso em São Lourenço, Minas Gerais. Quando o presidente Getúlio Vargas soube que nós estávamos lá, ele mandou nos chamar para nos dar um abraço, pois éramos da cidade onde ele havia sido aluno na Escola Militar. Ele estava ao lado do governador de Minas Gerais na época, Juscelino Kubitschek.”
Voltando ao presente, tratou de elogiar as medidas impostas pelo prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Júnior. “Ele se pronunciou muito bem na noite de sábado, anunciando o fechamento da orla do Guaíba e outras medidas para frear o coronavírus”, disse, salientando que vem cuidando da saúde. “Estamos vivendo um ano diferente. Saímos de uma seca de seis meses, estamos vivendo uma pandemia e agora chuva em demasia. Mas não adianta reclamar, temos que seguir. Que Deus nos ajude.”
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