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Conheça mais sobre “Cida tem 2 Sílabas”, o melhor filme do 7º Festival Santa Cruz de Cinema

Foto: Alencar da Rosa

A cineasta Giovanna Castellari emocionou-se ao receber o prêmio de Melhor Filme

O 7º Festival Santa Cruz de Cinema entregou no dia 6 de setembro o Troféu Tipuana em 13 categorias aos vencedores. Entre as 18 obras que competiam na Mostra Nacional, um curta-metragem de São Paulo destacou-se como o grande vencedor da edição.

Cida tem 2 Sílabas abriu a segunda noite de exibição. A obra conquistou o público com a história da costureira de 60 anos que não sabe ler nem escrever. Forçada pelo chefe a trabalhar além do horário, acaba se aproximando da professora da neta. Porém, na medida em que é alfabetizada, ela passa a refletir sobre o ambiente de trabalho.

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Escrito e dirigido por Giovanna Castellari, o curta foi eleito pela plateia como o vencedor do Júri Popular. A distinção surpreendeu a artista, que se emocionou no palco ao segurar o Tipuana. Contudo, ela mal podia imaginar que voltaria novamente, dessa vez para receber a estatueta de melhor filme, entregue pelo cineasta gaúcho Tabaraja Ruas.

Giovanna nasceu em 28 de outubro de 1999, em São Paulo (SP). Filha de Cosme Peixoto e Ana Castellari, é formada em Comunicação Social com Habilitação em Cinema pela Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), na capital.

Em sua trajetória no audiovisual, trabalhou como roteirista, diretora e produtora. Tem em seu currículo videoclipes, trabalhos publicitários e dois curtas-metragens, exibidos em festivais por todo o Brasil. Cida tem 2 Sílabas foi gravado em julho de 2022. Foram cinco diárias em bairros da capital paulista, incluindo Jardim Jaraguá, Vila Leopoldina e Barra Funda.

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Giovanna concedeu entrevista para a Gazeta. Além de detalhar os temas do filme, revela os potenciais cinematográficos de Santa Cruz do Sul.

ENTREVISTA – Giovanna Castellari, roteirista e diretora

  • Gazeta – Passadas duas semanas desde o festival, como te sentes pelo fato de o curta ter recebido o troféu de Melhor Filme e do Júri Popular? Agora a ficha começou a cair. Estava com zero expectativas de ganhar. Eu realmente achei que a curadoria do Festival Santa Cruz foi muito boa. Tanto que mandei o link com a transmissão da premiação para a minha mãe, mas eu falei para ela não se animar e não criar esperança. Gostaria de agradecer imensamente ao público e ao júri por terem acreditado nessa história comigo. Meu maior medo ao fazer essa história era de que ela não ressoasse em ninguém, que ela não fizesse sentido para as pessoas, que não as tocasse, que só fizesse sentido na minha cabeça. Então, para alguém que está começando a carreira, receber essa aprovação tanto do público quanto do júri não tem preço no mundo que pague. Não tem felicidade ou prestígio maior.
  • Na sua avaliação, o que fez com que teu filme conquistasse não só os jurados, mas também o público? Acredito que quando fazemos com o coração, o sentimento reverbera nas outras pessoas. Tivemos muita sinceridade e sensibilidade com o tema. Sabia que seria difícil, porque, quando falamos sobre a realidade de pessoas, e que não necessariamente seja a nossa, temos que tratar com muito respeito e cuidado. E essa sempre foi a minha postura e a da equipe. Queríamos fazer uma obra que honrasse quem estivesse passando por essa situação, de abuso no trabalho e de falta de acesso à educação.
  • Como foi o processo de escrever a protagonista? Gosto muito de escrever pensando no campo da direção, de como vai se dar na tela mesmo. Sempre estava muito claro que as coisas tinham que acontecer por um motivo na trama, para ela desenrolar. E elas estavam centradas na protagonista. Queria que fosse uma mulher, pois me interesso pela narrativa feminina. E deveria ser mais velha, para ter esse contraste do aprendizado tardio. Porque a educação não tem idade para começar. Nós temos essa ideia de que somente os jovens estudam. Mas o aprendizado e a educação se tem para toda a vida e isso é um valor muito forte para mim. Queria fazer esse arco de descoberta, de realmente mostrar como a educação desbloqueia vários novos horizontes. Isso vem da teoria do Paulo Freire, foi dali que a história nasceu. E eu precisava encontrar minha atriz para criar junto com ela. Foi uma jornada. Adiamos a data de gravação porque não tinha a personagem principal. Até que vi uma breve cena da Mariana Muniz. Ela é uma atriz muito experiente, se joga muito nos personagens. Ela me ensinou muito, me acolheu. E isso fez essa personagem ser muito acolhedora.
  • As relações de trabalho são um tema bastante marcante na obra. Por que trouxeste essa abordagem? É um tema que gosto muito de usar nos meus filmes. Sabia que eu queria falar sobre um trabalho. A história se montou como um quebra-cabeças na minha frente, e aí as coisas foram se desenrolando. Acho que muito do meu desejo de falar sobre o trabalho foi inspirado em Paulo Freire, enquanto eu estava lendo a Pedagogia do oprimido. Ele apresenta seu método de alfabetização, que vem de ensinar o trabalhador com base no contexto em que ele vive. Ensinar uma pessoa a ler não é só repetir palavras, mas entender onde a palavra pertence ao mundo e onde ela pertence ao mundo com essa palavra. Sabia que eu queria pegar a educação como lugar para emancipar a vida de trabalhadores, para que pudessem perceber o contexto em que estavam dentro do mundo. Acho que esse é o primeiro passo para lutarmos pelos nossos direitos.
  • Quais foram as tuas primeiras impressões da visita a Santa Cruz do Sul? Perfeito. Me pego pensando sobre isso muitas vezes ao longo do dia. Nunca tinha ido para a região Sul, não conhecia nada. Sabia que era frio, e foi bem frio. Mas, em contraponto, as pessoas foram muito quentes. Me senti bem acolhida. Parecia ser uma experiência espiritual. Várias das pessoas que conheci parecia que já as conhecia, e desenrolava uma conversa fácil. Me remeteu à música Gente Aberta, do Erasmo Carlos, que resume a minha experiência. Senti todas as pessoas muito abertas comigo e isso me fez estar muito aberta para elas. Foi maravilhoso. Já quero voltar imediatamente.
  • Imaginas gravar um filme aqui? Foi um papo entre os realizadores que a cidade é muito cinematográfica. Essa é a palavra que a define. Parecia que estávamos no Projac. A arquitetura e o urbanismo da cidade, com cenários diversos… Dá para construir várias histórias diferentes dentro de Santa Cruz. E isso é o maior potencial dentro de uma cidade cinematográfica, conseguir contar uma história que tenha muito verde ou muitos prédios históricos.
  • E como foi tua experiência no Festival Santa Cruz de Cinema? Não conhecia o festival. É muito elevado o nível da estrutura, da organização e da comunicação com os realizadores. É o mais preparado em que eu já estive. Ele sabe muito bem acolher os realizadores de outros estados. E está sendo uma grande voz e uma potência muito forte nesse lugar da distribuição do cinema independente brasileiro. Um dos motivos pelos quais eu quero fazer mais um filme é mandar de novo para o festival e participar novamente dessa experiência. Para qualquer realizador que for ao festival, será uma experiência única.

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