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Conheça José Mauro de Vasconcelos, autor de “O meu pé de laranja lima”

O carioca José Mauro de Vasconcelos, do qual se comemora em 2020 o centenário de nascimento, transcorrido no dia 26 de fevereiro, é um dos autores mais lidos do século 20 no País. Com o lançamento de seu popularíssimo O meu pé de laranja lima, em 1968, gravou seu nome entre os escritores mais populares em todos os tempos. Antes disso já havia escrito outros 11 títulos, e depois publicaria mais nove. Faleceu no dia 24 de julho de 1984, aos 64 anos.

E em torno de José Mauro de Vasconcelos paira uma espécie de “lenda literária” em Santa Cruz do Sul. São recorrentes os comentários sobre uma provável e possível vinda do autor, para palestra, sem que, contudo, fosse identificada a data em que isso teria ocorrido. Recentemente, o poeta Roni Ferreira Nunes, integrante da Academia de Letras de Santa Cruz do Sul, reforçou a constatação. E referiu que sabia de alguém que havia conversado com o escritor na oportunidade.

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Por intermédio dele o Magazine chegou ao conhecimento de que Eroni Zinn, 67 anos, hoje produtor cultural, que atuou no ramo de hotelaria, é um dos que guardam a memória da vinda de José Mauro, já famoso, à cidade. Isso teria acontecido entre 1982 e 1983 (logo, um a dois anos antes da morte do autor). Naquele período, Eroni, com 31 anos, trabalhava como recepcionista no Hotel Girassol, o atual Cithos, na Rua Fernando Abott.

Foi lá que, em certa data, teria se materializado diante dele, na portaria, com uma pequena valise na mão, o grande escritor de O meu pé de laranja lima. “Eu logo o reconheci. Quem não tinha ouvido falar dele ou lido seu livro no País?”, comenta Eroni. Embora não consiga precisar a data e o mês, tem a impressão de que isso ocorreu na primavera, sem convicção de ter sido em 1982 ou 1983, os dois anos em que ele atuou junto ao Girassol.

Em consulta ao arquivo da Gazeta do Sul, não foi possível localizar referência à vinda do autor. Eroni diz lembrar que teria sido por iniciativa do Serviço Social do Comércio (Sesc). Não tem certeza quanto ao local, mas tem a impressão de que teria sido na sede da Ginástica. “Recepcionei ele e fiz o registro de entrada, na parte da tarde”, recorda. “Ele fez a palestra à noite. E fez o checkout até o meio-dia do dia seguinte, quando eu ainda não havia começado no meu turno, o da tarde. Mas lembro que ele ainda voltou ao hotel à tarde para buscar seus pertences, que haviam ficado lá, e então um carro o levou a Porto Alegre, para a viagem de retorno”. Ele morava em São Paulo.

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DESAFIO
Eroni tem presente outra lembrança associada à passagem de José Mauro pela cidade. A princípio ele teria reserva em outro hotel. Como descobriu, ao chegar, que o piso do local era frio, sem carpete, e ele preferia quarto acarpetado, acabou sendo transferido para o Girassol, onde os apartamentos contavam com esse diferencial. Para Eroni, o contato com o escritor ficou na memória. E lembra de que ele fora gentil e simpático, e que puderam conversar bastante.

Nascido no Rio, de família que viera do nordeste, José Mauro ainda menino fora enviado a Natal, no Rio Grande do Norte, para ser criado por tios. Adulto, voltou ao Rio, e ali, inspirado nas leituras que fazia, de Graciliano Ramos a José Lins do Rego, lançou seu primeiro romance, Banana brava, em 1942. Já em 1948 publicou Barro blanco, que já fez sucesso. Mas nada se compararia à história do menino Zezé, que encontra num pé de laranja lima um amigo ou confidente.

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E, diante da evidência de que o escritor realmente esteve em Santa Cruz, o Magazine desafia leitores a contribuírem com mais informações sobre o acontecimento. Se alguém presenciou ou acompanhou a agenda dele na cidade, a Gazeta do Sul terá satisfação em compartilhar essas lembranças com a comunidade, como forma de marcar, ou de homenagear, o autor nesse seu centenário de nascimento.

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Confira um trecho de O meu pé de laranja lima:

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Emburrei. Sentei no chão e encostei a minha zanga no pé de Laranja Lima. Glória se afastou sorrindo.
– Essa zanga não dura, Zezé. Você vai acabar descobrindo que eu tinha razão.

Cavouquei o chão com um pauzinho e começava a parar de fungar. Uma voz falou vindo de não sei onde, perto do meu coração.
– Eu acho que sua irmã tem toda a razão.
– Sempre todo mundo tem toda a razão. Eu é que não tenho nunca.
– Não é verdade. Se você me olhasse bem, você acabava descobrindo.

Eu levantei assustado e olhei a arvorezinha. Era estranho porque sempre eu conversava com tudo, mas pensava que era o meu passarinho de dentro que se encarregava de arranjar fala.
– Mas você fala mesmo?
– Não está me ouvindo?

E deu uma risada baixinha. Quase saí aos berros pelo quintal. Mas a curiosidade me prendia ali.
– Por onde você fala?
– Árvore fala por todo canto. Pelas folhas, pelos galhos, pelas raízes. Quer ver? Encoste seu ouvido aqui no meu tronco que você escuta meu coração bater.

Fiquei meio indeciso, mas, vendo o seu tamanho, perdi o medo. Encostei o ouvido e uma coisa longe fazia tique… tique…
– Viu?
– Me diga uma coisa. Todo mundo sabe que você fala?
– Não. Só você.

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