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Conheça a santa-cruzense que deixou emprego para desbravar o mundo

Quem encontra Michele Hohgraefe, 36 anos, e olha para os seus pulsos já sabe: a guria é do mundo. Do lado direito, uma pulseirinha colorida que ganhou do professor de yoga, na Índia, indica sua conexão, agora mais forte, com a espiritualidade. Do esquerdo, três acessórios artesanais reforçam as lembranças de povoados do Camboja e Vietnã.

Faz um ano que a santa-cruzense deixou o emprego em uma multinacional para descobrir um pouco mais deste mundo. Até agora foram 15 países desbravados e uma jornada que inclui autoconhecimento, sensibilidade com o próximo e transformação. Michele aprendeu que pouco é muito. Entendeu que é preciso respeitar o seu tempo. Conheceu gente. Fez amigos. Mergulhou em culturas das quais até então sequer havia ouvido falar.  E agora faz questão de compartilhar tudo isso com a gente.

A partir deste sábado, 18, o Portal Gaz vai contar com a coluna Mixi por el Mundo, espaço onde a viajante vai trazer os bastidores do projeto cujos próximos destinos são Israel, Jordânia, Egito, Rússia, Guatemala, Costa Rica e Panamá. E a lista está só começando. Antes de dar um pulinho no Portal, que tal conhecer a história dela por aqui? O Magazine aproveitou que a moça está de banda pela terrinha – em setembro a jornada recomeça – e mostra um roteiro completo, não dos lugares – isso o Google já dá mastigado –, mas das descobertas da nossa conterrânea. Vem com a gente?

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Como tirar do papel?

Durante mais ou menos dois anos, Michele guardou em torno de 20% do salário, juntou esse montante com outra poupança para viagem e decidiu partir. “Eu sempre guardei um pouco de dinheiro para viajar, pois tinha essa vontade comigo. Finalmente, quando chegou a hora, pude aproveitar com tranquilidade a decisão.” Para rodar o mundo durante um ano, sem luxos e de forma simples, ela acredita que 20 mil dólares seja uma quantia suficiente. “Também é possível ir com menos, se o viajante estiver disposto a trabalhar em albergues para ganhar a estadia e alimentação. A grande questão aqui é tirar do papel.”

Clique da aventura

Esta senhora, Michele encontrou em Mianmar. Segundo ela, as mulheres da tribo Kayan ou Padaung usam o anel de cobre mais por uma questão estética. “Segundo a crença deles, quanto mais alto o pescoço, mais bela é a mulher.”

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“Na loucura da rotina, não nos escutamos”

Foto: Arquivo Pessoal

 

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Aos curiosos, sim, Michele ascendeu rápido na profissão. Depois de adquirir experiência em uma transportadora da cidade, a santa-cruzense ingressou em uma multinacional que abriu muitas portas. Pela empresa, trabalhou em Curitiba, na Suíça e na Cidade do México, sua última parada antes de investir no nomadismo. “Não quero ser considerada a executiva que largou tudo e foi viajar. Eu apenas entendi que o tempo de colher os frutos do meu esforço tinha chegado.” E chegou de maneira profunda e desafiadora. “Paguei o preço para ser feliz e não me arrependo. Foi uma das decisões mais acertadas que tomei na minha vida.”

Mal a jornada havia começado e Michele logo entendeu que, para mergulhar na cultura dos países, a primeira lição a ser colocada em prática é: viaje sem luxos. “Só vivendo como um local você entende o ritmo das cidades e a realidade das pessoas. Peguei ônibus no Vietnã, andei de moto na Tailândia, dormi em casas de famílias no Mianmar e conversei muito com as pessoas (locais e estrangeiras). Você só viaja sozinha se quiser.”

Difícil é citar todas as amizades que fez pelo caminho. Imagine só: se conheceu 15 países, Michele ficou em pelo menos 15 hospedagens com o perfil de hostel/albergue (quartos compartilhados). Em cada uma dessas paradas interagiu, conheceu gente de tudo que é canto e  chamou para viajar com ela aqueles com quem teve maior sintonia.

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Mas “pera lá”, que o viajante nem sempre é obrigado a interagir e “saracotear” para todos os lados. Segundo Michele, trata-se de um dos pontos mais trabalhados quando a viagem acontece no formato solo: dar-se permissão. Quer ficar mais sossegado? Pode. Não está a fim de conhecer aquele ponto turístico? Pode também. O dia pede menos interação e mais introspecção: não só pode, deve. Foi nesse processo que ela aprendeu uma das lições mais preciosas do projeto Mixi por el Mundo: perceber que a prioridade era ela. “Na loucura da rotina, não nos escutamos. A prioridade é sempre o trabalho, a família, os amigos. Mas e você? Foi só nessa ‘parada’ que eu entendi que eu sou a pessoa mais importante de todas. E isso não é egoísmo.”

Uma das razões por ter alcançado esse estágio é o autoconhecimento, outro processo desencadeado durante a viagem. “É muito profundo porque você conhece algumas partes tuas que talvez não gostaria de saber que existem. Mas, como o foco é somente você, muitas coisas se tornam mais perceptíveis. O que estressa e o que não estressa, como trabalhar o ego e, principalmente, como não se achar superior ao outro.”

Dá para ficar horas escutando a Michi contar a história da viagem. A guria brilha quando lembra das crianças de Mianmar, do retiro espiritual que fez na Índia, dos sabores que provou na Tailândia e até de um ou outro perrengue que encarou nos três continentes que já desbravou.

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O mais precioso durante essa rica troca de ideias é o que muitos já sabem. E, se for preciso, a Michi reforça. “Não deixe para realizar os sonhos em algum momento no futuro, não se sabe o que acontecerá no dia de amanhã. E se ele nunca chegar? Foste feliz hoje?”

Foto: Arquivo Pessoal

 

Mas você vai sozinha?

Mas você vai sozinha? Only one? Estás sola? Michele cansou de ouvir e responder “sim” durante as dezenas de vezes que escutou essa pergunta. Ainda que tenha entendido que a sua companhia na maioria das vezes não é apenas suficiente, é ideal, a santa-cruzense também sentiu na pele o que se enfrenta lá fora pelo simples fato de ser mulher. “Me alertaram muito sobre a Índia e, de fato, fui bastante abordada por lá. É um pouco estressante, as pessoas são intensas com os estrangeiros.” Para a segurança, Michele sugere que mulheres que tenham essa intenção procurem não andar sozinhas em territórios que apresentem um perfil mais machista. “É preferível tomar algumas precauções, como não sair à noite sozinha, não fazer passeios com um guia do sexo masculino sozinha, enfim, tomar os mesmos cuidados que as mulheres devem ter no Brasil.”

 

Top destinos de Michele

Mianmar 

“É um povo acolhedor e gentil. Lá fiz um trekking de 60 quilômetros e pude conhecer várias regiões. Dormi em casas de família, podendo vivenciar melhor a cultura local. Isso inclui não tomar banho tradicional, mas apenas se lavar na área externa das casas. As crianças são encantadoras.”

Vietnã

“Um lugar que me surpreendeu. As pessoas são muito receptivas, falam muito bem o inglês e o país é muito bonito, principalmente o norte e a cidade antiga de Hoi An.”

Tailândia

“É difícil competir com a Tailândia. O país é único quando o assunto diz respeito a belezas naturais. As praias são paradisíacas. Ao mesmo tempo é um país muito cultural e religioso, com milhares de templos e ruínas incríveis. Sem falar na culinária, que é deliciosa.”

Índia

“Foi lá que fiz um retiro espiritual e aprendi a ser um pouco menos agitada. Andava tão calma por lá que parecia uma monja (risos). É um país curioso pela cultura e por ser tão contraditório. Ao mesmo tempo em que escancara uma espiritualidade pouco vista em qualquer outro lugar do mundo, ainda tem um perfil machista e algumas ideias retrógradas.”

Outros destinos?

Segue a Michi no Insta: é mixi_por_el_mundo. Ah, o Mixi com x é porque o projeto foi concebido no México, país que a santa-cruzense morou dois anos e meio e pelo qual tem muito apreço e carinho.

 

 

BONS CONSELHOS

Confere aí as dicas da Michi para viajar:

1. Planejar nem sempre é o melhor

Quando você planeja demais, cria muita expectativa com relação ao lugar. Deixe o roteiro um pouco flexível. As melhores dicas se conseguem no próprio local.

2. Respeite seu tempo e vontades

Quando você viaja a longo prazo, você cansa de viajar e precisa aprender a se respeitar. Descansar e às vezes não fazer nada é necessário.

3. Você viajará sozinha (o)  somente se quiser

Quando a hospedagem acontece em albergues/hostels, é praticamente impossível não fazer amigos. Eu conheci muitos viajantes e com alguns deles viajei por volta de 15 dias.

4. Em alguns lugares, vale a pena contar com alguém local

Na Índia, por exemplo, percebi que quando comecei a visitar os lugares com alguém de lá, as pessoas se tornaram menos invasivas.

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