A previsão de epidemias de zika, dengue e chikungunya no estado do Rio de Janeiro vai exigir das unidades de saúde a capacidade de identificar as diferenças entre os vírus, todos transmitidos pelo mosquito Aedes aegypti, o que preocupa a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
“A preocupação é grande. Os profissionais precisam de capacitação para que aprendam a fazer o diagnóstico diferencial entre as três doenças. Se for dengue e estiver tratando como zika, a pessoa pode morrer”, alertou Britto. A Fiocruz propôs ao Ministério da Saúde a realização de um curso para capacitar os profissionais de saúde sobre as três doenças, o que ainda está em estudo. A confusão entre os diagnósticos pode ser perigosa para os pacientes, porque as doenças exigem tratamentos diferentes, segundo o coordenador da Rede Dengue, Zika e Chikungunya da Área de Atenção da Fiocruz, José Augusto de Britto.
Mais chikungunya
Publicidade
Pela primeira vez, 2017 deve ser um ano em que os casos de chikungunya podem superar os de dengue e zika, e a doença preocupa por causar dores fortes, que incapacitam quem é infectado. Caso os sintomas da chikungunya se prolonguem por mais de 15 dias, há chances de ela se tornar crônica. Nesse caso, as dores nas articulações podem permanecer por mais de dois anos.
Além dos analgésicos para conter as dores, a doença requer repouso absoluto de pelo menos 15 dias, o que reduz suas possibilidades de evolução para um quadro crônico. Vital em casos de dengue, a hidratação não é prioritária em casos de chikungunya. Para ambas, o repouso é indispensável.
“Com a dengue, é preciso tomar muito cuidado, porque mata. A zika quase não causa nada para as pessoas em geral. Faz muito mal às gestantes, que têm um risco ter seu bebê com microcefalia”, explicou o médico. “A chikungunya tem um acometimento muito intenso. Não é uma doença que mata a pessoa, mas incapacita”, resumiu. A semelhança de sintomas entre as três enfermidades é grande, mas a chikungunya se destaca pela intensidade das dores nas articulações, segundo o coordenador da Fiocruz.
Publicidade
Ao contrário da dengue e da zika, que já tiveram grande incidência em anos anteriores, a chikungunya encontrará uma população “virgem”, ou seja, sem imunidade ao vírus. A literatura médica aponta, segundo Britto, que é possível que a “taxa de ataque” da doença em situações como essa possa ser de 30% a 50% da população, mas ainda se conhece pouco do comportamento do vírus.
“O que temos a favor é que quando o vírus da chikungunya chegou ao Brasil [em 2014], entrou no Amapá e na Bahia, e a gente pensava que teria uma grande epidemia de chikungunya no País. No entanto, tivemos do vírus da zika”, lembrou.
O desconhecimento sobre a doença ainda impede que haja um protocolo que indique, por exemplo, analgésicos mais eficazes. Pacientes com chikungunya podem chegar a tomar doses altas demais de um analgésico simultaneamente e voltar ao serviço de saúde diversas vezes, conforme persistam os sintomas. O resultado disso pode ser a lotação de serviços públicos e privados de saúde, que também terão os casos de zika e dengue para atender.
Publicidade
“É muito importante que se afaste [a possibilidade de ser] dengue. Não se pode esquecer da dengue. Apesar de haver uma tendência, uma possibilidade maior de chikungunya, não quer dizer que não vai ter casos de zika e dengue.”
Britto pede que a população não se assuste com a possibilidade de epidemia e se concentre em evitar a proliferação do Aedes aegypti, impedindo o acúmulo de água parada. “O importante é alertar, e não alarmar a população.”
A preocupação com a epidemia de doenças transmitidas por picadas de mosquitos fez a prefeitura do Rio de Janeiro decretar estado de alerta na cidade. O prefeito Marcelo Crivella publicou o decreto no primeiro dia de seu mandato e voltou a comentar a preocupação hoje (3). “Queria aproveitar para fazer um apelo à população do Rio de Janeiro: o mosquito da dengue é o nosso maior inimigo.”
Publicidade
This website uses cookies.