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Confissões de um suicida: “Não consegui me matar, então vou viver”

“Eu tinha 16 anos quando comecei a ser invadido por pensamentos negativos. Naquela época minha família estava desestruturada, sobretudo pela separação dos meus pais e a morte de meu irmão em um acidente. Quando estamos na adolescência, se não tivermos uma boa base de comunicação com os familiares e amigos, é mais fácil pensar bobagem. A pressão na escola, onde sofria bullying por ser meio ‘nerd’, mais calado e bem ‘estranho’, era enorme. Eu não tinha um amigo verdadeiro e não podia falar com meus pais sobre o que estava sentido, pois não havia abertura para isso. Então, a única forma que encontrei de acabar com o sofrimento foi buscar a morte. Tentei uma vez…fui para o hospital com intoxicação por medicamentos. Tentei duas…três… Prefiro não entrar em detalhes sobre as tentativas. Graças a Deus não tive sucesso em nenhuma. Não queria chamar atenção, como muitos pensam. Queria simplesmente retirar de mim essa dor que sempre senti. Ao contrário do que muitos pensam, não somos culpados por nossos pensamentos disfuncionais. Eles simplesmente acontecem. E não adianta vir falar que isso é coisa de gente fraca. Ter depressão não é frescura. É como se a gente tivesse um câncer na alma. Não sei o que aconteceu em dado momento, mas tive um estalo, sabe? Precisava de ajuda e fui procurar, por conta própria, um psicólogo. Ali começava a minha reestruturação, a minha nova vida. Hoje, com 37 anos, já tive alta há tempos do tratamento, mas é claro que estou ciente de que esses pensamentos podem voltar se eu não tiver cuidado. Sou casado, tenho filhos e um bom emprego. Consegui vencer, mas a vida não é feita de vitórias e derrotas. O que importa é o processo, a caminhada até chegar até onde se quer. Eu quero deixar algumas palavras de alento para as pessoas que estão com ideações suicidas, como eu tive: ‘busque ajuda. Sempre haverá uma mão amiga, um bom profissional para ajudar. Nada está perdido. Não sinta culpa. Você vale mais que qualquer coisa”.

O relato deste homem, que preferiu não se identificar, demonstra como a questão do suicídio é ampla e envolve uma série de fatores. Antes este assunto era um tabu, mas agora passou a ser melhor divulgado. Não para causar medo, mas para alertar a todos. E o “Setembro Amarelo” vem para dar uma maior visibilidade à problemática que atinge pessoas de todas as idades.

Diálogo
O diálogo e a transparência são elementos fundamentais na prevenção do suicídio. As teorias recentes defendem que pode haver uma predisposição individual para o suicídio, que é ativada ao longo da vida por experiências negativas precoces (experiências traumáticas) que vão dar origem a um padrão de pensamento negativo. Os números apontam-nos um grande culpado. Mais de 50% das pessoas que se suicidaram sofriam de depressão. Situações de separação, divórcio, luto recente, solidão, desemprego, mudança ou perda recente de trabalho, problemas escolares ou laborais, doença grave ou crônica e dependência de drogas e álcool podem, efetivamente, resultar numa resposta negativa e levar ao suicídio.

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CVV
No Brasil, o CVV oferece atendimento voluntário e gratuito 24 horas por dia a quem está com pensamentos suicidas ou enfrenta outros problemas. “Mesmo que você não tenha certeza de que precisa de nossa ajuda, não tenha receios em entrar em contato com a gente. Um de nossos voluntários estará à sua disposição”, explica a equipe do site. A organização, uma das mais antigas do País, atua no apoio emocional e na prevenção do suicídio por meio do telefone 188 e também por chat, e-mail e pessoalmente.
Setembro Amarelo

O Setembro Amarelo é uma campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio. No Brasil, foi criado em 2015 pelo CVV (Centro de Valorização da Vida), CFM (Conselho Federal de Medicina) e ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), com a proposta de associar à cor ao mês que marca o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio (10 de setembro). A ideia é pintar, iluminar e estampar o amarelo nas mais diversas resoluções, garantindo mais visibilidade à causa.

Ao longo dos últimos anos, escolas, universidades, entidades do setor público e privado e a população de forma geral se envolveram neste movimento que vai de norte a sul do Brasil. Monumentos como o Cristo Redentor (RJ), o Congresso Nacional e o Palácio do Itamaray (DF), o Estádio Beira Rio (RS) e o Elevador Lacerda (BA), para citar apenas alguns, e até mesmo times de futebol, como o Santos FC, Flamengo e Vitória da Bahia, participam da campanha.

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Mas todos podem ser divulgadores desta importante causa. Ações na rua, caminhadas, passeios ciclísticos, roupas amarelas ou simplesmente o uso do laço no peito já despertam atenção e contribuem para a conscientização. Faça parte desta causa! E não se esqueça: a campanha é em setembro, mas falar sobre prevenção do suicídio em todos os meses do ano é fundamental!

Nós queremos ajudar
O jornal Gazeta da Serra e Rádio Gazeta FM apoiam o Setembro Amarelo e se colocam à disposição para serem mais um canal de comunicação. Não para divulgar os casos, mas para auxiliar no encaminhamento e acompanhamento das pessoas que venham a nos procurar, bem como informar a todos sobre estratégias de enfrentamento da problemática do suicídio. Deixamos o e-mail  manu@gazetadaserra.com.br à disposição para você contar a sua história. Não é preciso se identificar…podemos conversar.

 

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Foto: Divulgação

 

 

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