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Condutora relembra dia que dirigiu carro-forte durante ataque de quadrilha

Com manobras evasivas em meio ao ataque dos bandidos, motorista seguiu caminho na direção de Passa Sete

Foi em uma manhã como esta de sexta-feira, 14, há dez anos, que transcorreu aquele que é considerado o maior confronto entre criminosos e a polícia na história da região. Naquele dia, 6 de junho de 2014, Carlos Ivan Fischer, o Teco, e seu bando tentaram roubar um carro-forte e chegaram a jogar um caminhão contra o blindado nas proximidades da Curva das Cobras, em Sobradinho, na ERS-400. O que os bandidos não imaginavam é que a hoje extinta Delegacia Especializada de Furtos, Roubos, Entorpecentes e Capturas (Defrec) de Santa Cruz do Sul sabia do plano. Surgindo em meio aos matagais, cerca de 50 agentes fecharam o cerco.

A troca de tiros foi inevitável, e o caso surpreendeu o Estado, principalmente porque Teco acabou morrendo no confronto, dando fim a uma trajetória marcada por crimes. Motorista do carro-forte, uma jovem precisou mostrar perícia no volante ao ser abordada em meio às curvas da rodovia sinuosa com um ataque suicida do quadrilheiro e rajadas de disparos de arma longa. Dez anos depois, a Gazeta do Sul localizou a motorista e irá contar, na 11ª reportagem da série Casos do Arquivo, o episódio sob a ótica dessa mulher que participou diretamente da ocorrência.

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Primeira semana como motorista

“Só dava para ouvir os tiros. Era um cenário de guerra.” Foi isso que o delegado Luciano Menezes disse à reportagem da Gazeta do Sul logo após a grave ocorrência, ainda na ERS-400. Por si só, o relato dava uma ideia do confronto que tinha ocorrido momentos antes. Perto do meio-dia, quando avistou o carro-forte subindo em baixa velocidade pela rodovia, Teco mirou o alvo e jogou o veículo contra o blindado.

A intenção era arremessar o carro contra o paredão de pedras e obrigá-lo a parar sobre a pista. Para a condutora do carro-forte, que terá seu nome e outros dados pessoais mantidos em sigilo por questões de segurança, naquele momento o tempo parou. “Como motorista, eu estava na primeira semana. Havia recebido uma promoção recentemente”, disse ela.

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“No dia, havia muita neblina, e ao avistar um caminhão no sentido contrário direcionando para a colisão, a equipe identificou se tratar de um ataque e se preparou para o choque”, complementou. O impacto da colisão com o carro-forte fez o caminhão ser arremessado para trás. Logo após os estrondos, vieram os disparos. Nos dois lados da rodovia, policiais embrenhados entre os matagais esperavam desde o início da madrugada gelada pela ação da quadrilha.

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Entre os quase 50 agentes e delegados que participaram do cerco, atiradores de elite, em pontos estratégicos, estavam preparados para interceptar a ação criminosa. “A colisão jogou o carro-forte cerca de 12 metros para trás, na vala da pista contrária. Mesmo com o nosso veículo danificado, após algumas tentativas, sendo orientada pelo chefe de equipe a executar manobras evasivas, conseguimos sair do local seguindo em direção a Passa Sete”, salientou a motorista.

Rajadas e disparos

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Armado com uma pistola, Teco, que liderava o bando de assaltantes, ainda tentou reagir. Saltou do caminhão, que tombou ao lado da rodovia após o impacto com o blindado. Enquanto atirava, foi alvejado. Um dos tiros fez com que o quadrilheiro caísse morto sobre o asfalto. Enquanto isso, seus três comparsas, a bordo de um Cruze furtado e com placas clonadas de Santa Cruz do Sul, tentavam escapar da ação da polícia.

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“O carro dos marginais passou no sentido contrário, e identifiquei no retrovisor que ele parou na pista, saindo do veículo os criminosos encapuzados e armados. Nesse momento, ouvimos rajadas e disparos”, lembrou a condutora.

Com a colisão, parte da dianteira do carro-forte ficou sobre a pista

O automóvel dos bandidos foi atingido várias vezes. Armados com fuzis, os três passaram a atirar contra os policiais. A poucos metros do Cruze, Márcio Pereira de Souza, o Chapolin, foi morto com um tiro na cabeça.

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Mesmo baleado na perna e no braço, o assaltante correu em direção a uma residência, onde tentou procurar abrigo para se esconder da polícia. No entanto, foi cercado e capturado pelos agentes.
Ferido durante a fuga, ele foi levado ao Hospital de Candelária e depois transferido ao Hospital Santa Cruz, sendo posteriormente preso em flagrante. A cerca de um quilômetro acima do ponto onde o caminhão colidiu com o carro-forte, uma Saveiro foi encontrada abandonada. O veículo seria usado pelo bando para escapar da polícia.

Instinto de sobrevivência

Cerca de um mês antes do episódio fatídico, a Polícia Civil vinha acompanhando os passos do bando liderado por Teco. Eles sabiam que essa tentativa de roubo a um carro-forte ocorreria entre Candelária e Sobradinho. O ataque na área serrana já era esperado, principalmente porque nesses locais os blindados se tornariam alvos mais fáceis, pois o veículo precisaria trafegar em baixa velocidade e ainda havia dificuldade para conseguir sinal de celular, evitando uma ligação para a polícia.

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Para a motorista, quando o confronto estava acontecendo, o instinto de sobrevivência aflorou. “O pensamento era de sair do local. Não havia movimentação de pessoas no momento e não sabíamos que a polícia estava lá.” A pouca circulação de gente também havia sido providenciada pela Polícia Civil. Quando perceberam que o bando se aproximava, os agentes fizeram barreiras de contenção. Uma delas ocorreu a cerca de 7 quilômetros do ponto onde foi travado o intenso tiroteio, a fim de evitar que pessoas que não estavam envolvidas ficassem no meio da ação.

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Delegado Menezes reconheceu a ação

Com a colisão, parte da dianteira do carro-forte ficou sobre a pista. Dentro do Cruze, os policiais encontraram os explosivos que seriam usados para o ataque. Os artefatos seriam acoplados ao blindado. A rodovia chegou a ficar interditada até a noite daquela sexta-feira.

“Só ficamos sabendo de quem se tratava e como havia sido o desfecho quando o delegado chegou até nós em Passa Sete, informando que se tratava do bando do Teco e relatando sobre a morte dos assaltantes na tentativa de ataque”, salientou a condutora do carro-forte.

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Na época, Luciano Menezes reconheceu a perícia da condutora. “É preciso exaltar a atuação da motorista. A ação dela foi essencial ali”, afirmou na oportunidade. A morte de Teco marcou a crônica policial estadual. O caso de sequestro do estudante Zambinha em 1994 foi o pontapé inicial na sua vasta carreira criminosa, que incluiu quatro fugas do sistema penitenciário e diversos assaltos a carros-fortes, sempre com muita violência empregada. Durante um período, integrando um grupo especializado em roubos a banco, usava armamento pesado e sitiava pequenas cidades durante os ataques.

A motorista afirmou que, na época do caso, tinha conhecimento sobre as ações do grupo que Teco liderava. “Se ouvia falar que fazia parte da quadrilha do Seco, e que já haviam praticado outros ataques contra diversas empresas do ramo.” Para ela, não há dúvida sobre essa ter sido a ação mais perigosa da qual já participou. “Foi o episódio mais marcante da minha carreira. Ficou na minha memória o trabalho em equipe e a confiança, que foram determinantes para voltarmos para casa, além de todo o trabalho das forças policiais.”

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