Um corpo de jurados condenou a 14 anos aquele que é considerado um dos principais matadores de Santa Cruz do Sul na última década. O ex-pistoleiro Marcelo do Carmo, o Marcelinho, de 36 anos, sentou no banco dos réus ontem, no último julgamento deste ano. Ele respondeu como mandante do assassinato de Denian Marcel de Oliveira, de 19 anos, ocorrido em 27 de agosto de 2018.
Primeira a prestar depoimento ontem, a delegada Ana Luisa Aita Pippi, responsável pelo inquérito que indiciou Marcelinho e os demais, revelou detalhes sobre a investigação. Ela explicou os pontos que levaram a Polícia Civil aos acusados. Conforme a titular da 1ª DP, foram colhidas provas robustas durante o inquérito, incluindo imagens de câmeras da rua que mostraram a movimentação no momento do ato.
Segundo ela, interceptações telefônicas fizeram com que não restassem dúvidas sobre quem mandou matar, quem forneceu as armas, quem efetuou o crime e quem fez o transporte dos assassinos. “Interceptamos uma mensagem de SMS do Anderson Ramos para o Marcelinho, na qual ele diz: ‘peguei, peguei!”, e conta detalhes sobre como a vítima acabou falecendo, aos pés dele, e que atirou mais vezes ainda”, relatou a delegada em plenário.
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Segundo Ana Luisa, Marcelinho, após o homicídio, retornou com uma ligação para Anderson e mandou ele deixar o revólver e a pistola usados no crime com o ‘Vivi’, apelido de Deividi dos Santos, que seria quem guardava as armas para o bando. “Foi possível identificar que o Marcelinho não somente mandava matar, mas possuía requintes de crueldade. Em uma das mensagens interceptadas, quando perguntado sobre o que era para fazer com a vítima, ele falava: ‘estraçalha, estraçalha’.”
Questionada pelo promotor Flávio Eduardo de Lima Passos sobre as motivações do crime, a delegada disse que não foi possível comprovar quais seriam, mas tinham como pano de fundo o tráfico de entorpecentes. Possíveis desavenças dos irmãos Denien e Kevi, que comercializavam drogas no Várzea, com o homem que comanda o tráfico no bairro seriam uma possibilidade.
“Esse comandante do tráfico no bairro tem ligação com a facção Os Manos e era ligado ao Marcelinho”, complementou. A delegada ainda traçou a linha do tempo do crime. “No dia 24 de agosto, Anderson planejou vir de Taquari a Santa Cruz, e pediu para o pai buscar uma arma com Deividi. No dia 25, ele chegou ao município e no dia 26 começaram as tratativas para o crime, diretamente com Marcelinho, que estava no presídio”, afirmou.
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Uma pistola 9 milímetros da marca Taurus, municiada, e um revólver calibre 38, com cinco cartuchos, foram apreendidos. Um confronto balístico feito na pistola comprovou que um projétil encontrado no corpo de Denian havia saído da mesma arma apreendida com Anderson pela Polícia Civil na casa da mãe dele, durante a operação Filhos das Grades.
Com menor participação no crime, Júlis Samaroni de Oliveira foi absolvido das acusações de tentativa de homicídio e homicídio qualificado. O soldador, que foi defendido pelo advogado Roberto Alves de Oliveira, foi identificado como motorista do Fiat Palio vermelho que levou os executores até o Bairro Várzea. Testemunhas de defesa de Júlis, a vizinha Guiomar Cardoso, de 58 anos, e a amiga Jéssica Maia, de 30, atestaram que o rapaz nunca teve envolvimento com o crime e apenas prestava serviço de motorista de aplicativo. O próprio promotor Flávio Eduardo de Lima Passos pediu sua absolvição e foi atendido pelos jurados.
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Mesmo assim, Júlis Samaroni resolveu prestar depoimento. Ele revelou que havia deixado o Rio Grande do Sul logo após o homicídio, com medo de sofrer represálias e ameaças da facção. “Isso aconteceu no dia do meu aniversário. Eles me contataram pra fazer uma corrida até próximo do Salão Gigante (no Bairro Várzea). Peguei eles ali perto do Cemitério Santo Antônio. Mais perto do Várzea, eu vi que eles tinham uma arma. Me apavorei, mas não tinha muito o que fazer na hora. Me pediram pra estacionar perto e esperar. Quando voltaram, levei eles de volta ao mesmo lugar onde peguei”, relatou durante a sessão.
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Por volta do meio-dia de ontem, quando a juíza Márcia Inês Doebber Wrasse perguntou ao defensor público se Marcelinho iria se manifestar, Arnaldo Quaresma Júnior revelou que o acusado pretendia confessar a autoria. Questionado, Marcelinho confirmou que foi o mandante da execução, sem revelar mais detalhes sobre o porquê do crime. Durante o debate, o defensor público afirmou que concordava com a condenação de Marcelinho, mas por homicídio simples, pedindo o afastamento da qualificadora, e citou duas teses para explicar o motivo aos jurados.
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“Não houve recurso que dificultou a defesa da vítima. Já havia um clima de animosidade ali entre eles, e pôde-se observar em vídeos de câmeras que a vítima ainda teve tempo de correr. Não houve surpresa no momento. E o réu, como mandante, não participou da execução no local”, afirmou. “Então, não houve combinação prévia para que a vítima fosse morta com recurso que dificultou sua defesa, por isso, essa qualificadora não integra o dolo do Marcelo.” Mesmo com o pedido, os jurados acolheram a qualificadora solicitada pelo Ministério Público, o que ampliou a pena de Marcelinho.
“A decisão do corpo de jurados acolheu integralmente o que o MP postulou: a condenação do mandante do crime por homicídio qualificado e a absolvição dele pela tentativa de homicídio, bem como a absolvição da pessoa que teria transportado os executores”, disse o promotor Flávio Eduardo de Lima Passos.
A juíza Márcia ainda descontou dois anos da pena pelo atenuante da confissão, ao mesmo tempo que agregou mais dois anos pelo agravante da reincidência. Não foi a primeira condenação de Marcelinho por homicídio – pelo contrário, ele é considerado um dos principais matadores de Santa Cruz na última década. Em 2016, ele foi preso acusado de matar duas mulheres a mando da facção Os Manos, para quem prestava serviços como pistoleiro de aluguel.
Foi condenado em 2018 a 20 anos de prisão pelo assassinato de Andressa Luana Soares Oliveira em uma boate de Linha Nova, no dia 15 de julho de 2016. Atualmente, cumpre a pena na Penitenciária Modulada Estadual de Charqueadas e foi trazido ao julgamento pela Divisão de Segurança e Escolta (DSE) da Susepe. A Brigada Militar também reforçou o policiamento no Fórum durante a sessão.
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