Desde criança observei mudanças de dietas dependendo de onde veio a família e sua situação financeira. Na casa de minha avó materna não havia energia elétrica. A comida era bem frugal e se utilizava muito pouca carne bovina. Ovelha nem existia e o que mais se comia eram derivados de suíno, sendo que galinha só aos domingos. Tudo era feito em casa: pão, manteiga, torresmo, banha. À noite era um café e não uma janta. Na casa de meus avós paternos tinha luz a bateria, rádio, banheiros internos, duas empregadas e o almoço sempre tinha carne ou de gado ou de suíno, além de arroz, feijão, etc. Ninguém se servia antes do avô Rudolf Gessinger. Devido ao que nossos antepassados tinham sofrido, o que mais temiam era passar fome. Por isso sempre se dizia: “vem lá em casa, lá tem bastaaaante comida.” “Dort kannst du dich satt essen”.
Minha mãe e suas amigas achavam a coisa mais linda uma moça forte e de pernas bem grossas. Claro que faltou combinar com as russas (rememorando aquele treinador que dava a preleção para o jogo da seleção brasileira contra os russos, até que um jogador pediu a palavra e balbuciou: o senhor já combinou com os russos?). Voltando às meninas: a ideia das mães era que os filhos tivessem bastante leite e se criassem fortes. E assim era com os bebês, que eram redondinhos. Eu comia linguiça de porco antes de completar um ano. É o que minha mãe me assegurou.
Me contaram que em muitas colônias italianas davam um pouco de vinho para as crianças.
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Corta para a zona da Campanha. Quando aí aportei, de relancina constatei muitas casas rentes à calçada, a maioria sem hortas ou jardins.Quase nenhuma produção de embutidos. A linguiça não era como a de nossa região, feita para durar mais de um mês. A linguiça (lá eles chamam de “salame”) tinha de ser consumida rapidamente e sempre assada. Era de carne de gado com uns quadrados de toucinho de porco. Quando me ofereciam um pedaço assado eu disfarçava e retirava aqueles calombos.
Nas grandes festas era ou churrasco ou carreteiro de charque.Com pão comprado. Não era muito variado, portanto, o cardápio. Quando Maristela e eu assumimos a fazenda foi uma briga mudar a dieta dos nossos campeiros. Para sair um pouco da mesmice, um dia ela decidiu oferecer um prato inédito para a peonada. Fez um “estrogonofe” de filé . Se serviram desconfiados, sestrosos, foram na cozinha, esquentaram o feijão e o derrubaram em cima da caprichada iguaria, não sem antes retirar os “champignons”.
Valeu a lição. Eu não tirei os calombos da linguiça?
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