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BALANÇO DAS URNAS

Como o voto do eleitorado da região mudou em 20 anos

Muita coisa pode mudar num período de 20 anos. Na política, principalmente em regiões menos favorecidas economicamente, como é o caso do Centro Serra, há a tendência de oscilações grandes em resultados de eleições. E quando se pega os números desde 1998 até 2018, pode-se notar que o eleitor local não segue por muito tempo uma mesma linha quando o assunto é disputa presidencial ou corrida ao governo estadual.

A reportagem da Gazeta da Serra analisou os resultados à nível de região desde a última eleição do século 20 e, de fato, percebe-se que é comum o eleitor mudar radicalmente o voto de um pleito para o outro. Isso explica como Jair Bolsonaro (PSL) foi o mais votado no Centro Serra no primeiro turno, com um discurso totalmente antagônico ao de Dilma Rousseff, campeã de votos em 2010 e 2014 somando os resultados dos 11 municípios.

Dilma, que não concluiu o segundo mandato após sofrer impeachment, fez 29.144 e 24.509 votos no Centro Serra nas eleições anteriores. Em 2010, a vantagem da petista sobre José Serra (PSDB), que havia feito 13.858 votos, foi a maior registrada em todo o período. Naquele ano, o país vivia um momento econômico favorável, com geração de empregos em alta e expansão dos programas sociais, como o Bolsa Família, o Universidade para Todos (ProUni) e o Minha Casa, Minha Vida.

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Em 2014, Dilma superou Aécio Neves (PSDB) no primeiro turno, mas viu sua votação cair – e a do principal nome da oposição aumentar -, o que já indicava uma tendência do eleitor em votar pela mudança. Naquele ano, surgia a Operação Lava Jato, trazendo à tona esquemas de corrupção envolvendo pessoas próximas ao Planalto. Também apareciam os primeiros sinais de recessão econômica no país.

 

Semelhanças com 2006

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De lá para cá, houve impeachment, com vice-presidente assumindo, prisões de importantes políticos – incluindo o ex-presidente Lula – e mais denúncias de corrupção, aumentando ainda mais a descrença da sociedade com os políticos. Nisso, o nome de Bolsonaro, que era conhecido apenas pelo eleitor mais conservador, foi ganhando força também entre a classe média insatisfeita com a política e o eleitorado antipetista.

A onda que levou ao bom desempenho de Bolsonaro nas urnas no primeiro turno é, de certa forma, semelhante à que garantiu uma vitória folgada a Geraldo Alckmin (PSDB) na região em 2006. Na época, o tucano surgia com um forte discurso de oposição à Lula, que disputava a reeleição e enfrentava a maior crise de seu governo, devido o escândalo do Mensalão. Em 2002, Lula superou José Serra com uma vantagem pequena na região, enquanto em 1998 Fernando Henrique Cardoso derrotou o petista.

Nota-se, também, que o eleitor do Centro Serra não costuma adotar uma “terceira via” na disputa presidencial. Apenas dois candidatos que terminaram na terceira colocação fizeram mais de 3 mil votos. Um deles foi Ciro Gomes (PDT) neste ano, com 3.794 votos. O outro foi Anthony Garotinho, em 2002. O ex-governador do Rio de Janeiro, concorrendo pelo PSB, fez 3.566 votos naquele ano.

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Para o governo, duas “reeleições”

O Rio Grande do Sul nunca deu o segundo mandato a um governador desde que foi aprovada no Congresso a reeleição para cargos executivos. Mas, se dependesse do eleitor do Centro Serra, isso ocorreria em duas oportunidades. Em 2006, Germano Rigotto (PMDB) concorria a reeleição e foi o mais votado no Centro Serra, superando Olívio Dutra e Yeda Crusius. Só que ele sequer foi ao segundo turno, que teve a tucana derrotando o petista.

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Em 1998, Antônio Britto acabou derrotado por Olívio Dutra naquela que é considerada a mais acirrada eleição da história no Estado. No Centro Serra, entretanto, ele teve um desempenho muito superior ao do adversário no primeiro turno. Nos demais pleitos, o eleitor do Centro Serra sempre seguiu a tendência do Rio Grande do Sul em não reeleger governadores.

Na disputa para o Senado, o único campeão de votos na região que não se elegeu foi Olívio, em 2014. Já nos anos em que são eleitos dois senadores, Emília Fernandes (2002) e Beto Albuquerque (2018) ficaram em segundo lugar no Centro Serra, mas no Estado Paulo Paim acabou se elegendo nas duas oportunidades.

Os mais votados – Centro Serra – 1º Turno

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1998
Presidente
FHC (PSDB) – 17.163
Lula (PT) – 13.616
Ciro Gomes (PPS) – 2.067

Governador
Antônio Britto (PMDB) – 21.827
Olívio Dutra (PT) – 9.487
Emília Fernandes (PDT) – 2.369

Senador
Pedro Simon (PDB) – 22.291
José Paulo Bisol (PSB) – 5.596
Pedro Ruas (PDT) – 2.671

2002
Presidente
Lula (PT) – 18.510
José Serra (PSDB) – 16.537
Anthony Garotinho (PSB) – 3.566

Governador
Germano Rigotto (PMDB) – 16.110
Tarso Genro (PT) – 15.661
Celso Bernardi (PPB) – 5.280

Senador
Sérgio Zambiasi (PTB) – 20.970
Emília Fernandes (PT) – 13.786
José Fogaça (PPS) – 10.070

2006
Presidente
Geraldo Alckmin (PSDB) – 24.304
Lula (PT) – 18.396
Cristovam Buarque (PDT) – 1.322

Governador
Germano Rigotto (PMDB) – 16.388
Olívio Dutra (PT) – 12.828
Yeda Crusius (PSDB) – 9.287

Senador
Pedro Simon (PMDB) – 17.502
Mônica Leal (PP) – 10.929
Miguel Rossetto (PT) – 9.273

2010
Presidente
Dilma Rousseff (PT) – 29.144
José Serra (PSDB) – 13.853
Marina Silva (PV)  – 2.537

Governador
Tarso Genro (PT) – 27.715
José Fogaça (PMDB) – 10.319
Yeda Crusius (PSDB) – 7.014

Senador
Paulo Paim (PT) – 28.130
Ana Amélia Lemos (PP) – 24.431
Germano Rigotto (PMDB) – 18.129

2014
Presidente
Dilma Rousseff (PT) – 24.509
Aécio Neves (PSDB) – 18.938
Marina Silva (PSB) – 2.137

Governador
José Ivo Sartori (PMDB) – 16.560
Tarso Genro (PT) – 14.651
Ana Amélia Lemos (PP) – 13.622

Senador
Olívio Dutra (PT) – 14.732
Lasier Martins (PDT) – 11.446
Simone Leite (PP) – 8.096

2018
Presidente
Jair Bolsonaro (PSL) – 19.119
Fernando Haddad (PT) – 16.652
Ciro Gomes (PDT) – 3.794

Governador
Eduardo Leite (PSDB) – 16.506
José Ivo Sartori (MDB) – 15.622
Miguel Rossetto (PT) – 7.768

Senador
Luis Carlos Heinze (PP) – 23.499
Beto Albuquerque (PSB) – 13.466
Paulo Paim (PT) – 13.364

Fonte: TRE-RS e levantamento da Gazeta da Serra com os dados dos municípios da 53ª Zona Eleitoral e 154ª Zona Eleitoral

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