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Como nos velhos tempos

Acordei domingo com surpresas. Além do frio de rachar, o celular congelou, “deu pau”, sequer ligou. A reação inicial foi de estresse, apesar de ser um “inútil”. Mas jornalistas desconhecem essa máxima e, cá entre nós: nesta pandemia, todos os trabalhadores foram condenados a permanecer “online” sempre.

Restou adaptar a rotina através da leitura de jornais regada a chimarrão perfeito para a manhã gelada. Tudo embalado por músicas dos anos 70/80 e algumas românticas para acalmar a ansiedade. Minha preocupação era comunicar colegas e o “patrão” de que não estava hibernando. Para isso, esperei minha filha acordar para tomar as devidas providências.

Recordei como eram os domingos de infância na colônia, Bela Vista, interior de Arroio do Meio. Meu pai, de hábitos rígidos e imutáveis, levantava cedo, mesmo quando estávamos na praia durante o veraneio. Tudo bem, não fosse aquela mania de arrastar móveis e assoviar alto até que alguém acordasse para fazer companhia. A “vítima” era sempre a minha mãe, parceira de 35 anos de casamento, para cevar um “chimas” no capricho e compartilhar a cuia.

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O almoço era o momento sagrado das conversas, que eram uma espécie de resenha da semana que passara. E também de projeção para os próximos dias. Isso incluía cobranças escolares, cuidados com os animais e plantas, que eram abundantes. Já o pós-meio-dia do domingão era de silêncio absoluto. A sesta do velho Giba era sagrada, um hábito que era obrigado a compartilhar quando piá, sem jamais reclamar. Bem diferente de hoje, heim?

Neste século 21, o confinamento e a tecnologia transformaram radicalmente nossa rotina. Com muito cuidado, retomei o hábito de ir a restaurantes, até para aliviar a cabeça. No domingo passado, fiquei pasmo ao ver uma família que comemorava os 90 anos da matriarca em uma casa de massas.

Oito pessoas durante quase todo o tempo ignoraram a homenageada. Ela era a única que não manuseava um smartphone para curtir vídeos e fotos, seguidos de ruidosas gargalhadas. Foram 15 minutos em que ela foi ignorada pelos “parentes tecnológicos”, até o momento de eternizar a comemoração com uma “selfie” coletiva.

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Não tenho autoridade alguma para criticar esta atitude. Com frequência, me flagro agindo da mesma maneira; parece um hábito contagioso. Li que as pessoas, em média, consultam de 200 a 300 vezes o celular por dia. Achei um absurdo, mas passei a observar minha rotina e concluí que o estudo corresponde à realidade moderna da onipresença tecnológica.

O domingo será de leitura, música e futebol. Como nos velhos tempos! Findo esta lacuna sabática, segunda-feira este “escrevedor de histórias” precisa acordar cedo para buscar um “pronto-socorro de celulares”. Com rapidez, preciso retomar a “vida normal”!

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