Dos seus 59 anos, João Ulisses Tavares de Almeida, de Santa Cruz do Sul, dedicou 36 para o trabalho ao volante. Afastado da estrada desde dezembro do ano passado, por restrições de saúde, ele conta que herdou do pai, João Brasil, o amor pelo caminhão. Como ele mesmo define, a profissão “veio de berço” e se transformou, no transcorrer de todos esses anos, na realização de um “sonho de guri”.
As primeiras lembranças remontam aos seus 5 ou 6 anos, quando já acompanhava o pai nas viagens feitas com caminhão-caçamba, nas quais eram transportadas pedras de cal para empresas de Rio Pardo e de Porto Alegre. “Eu ia junto com ele nas folgas do colégio. Às vezes, a gente pegava a estrada de tardinha para Porto Alegre e voltava na madrugada”, recorda. Companhia constante na carona do pai, João Ulisses não desperdiçou a primeira oportunidade de se tornar motorista.
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Então, em meados de 1985, aproveitou a chance de trabalhar no mesmo local onde seu pai estava. “Fui trabalhar com ele em uma empresa de concretos (a hoje extinta Concreto Vogt). Eu dirigia um caminhão com betoneira e transportava a argamassa para as obras. Foi meu pai quem me levou para lá”, explica.
Esse seria mais um período de muito aprendizado. “Meu pai me ensinou muita coisa. Ele foi o meu mestre. Trabalhamos uns dois anos juntos”, afirma. Depois disso, João Ulisses foi trabalhar com seu sogro enquanto seu pai permaneceu na empresa de concretos até se aposentar. “O meu sogro era construtor e eu fui trabalhar com ele no transporte dos materiais para as obras.”
Logo adiante, outra oportunidade surgiu. Dessa vez, para rodar longas distâncias em um caminhão truck. “Comecei a fazer o transporte de lenha. Fazia o carregamento no interior de Dom Feliciano, e também de Venâncio Aires, para Santa Cruz do Sul”, relata, evidenciando que da lenha mudou para o transporte do tabaco.
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Nessa troca, começou a viajar por todo o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná em carretas com contêineres abastecidos de fumo. Essa experiência de rodar a região Sul foi proporcionada pelas duas últimas empresas em que atuou. “Mudei de emprego, mas segui fazendo o transporte de tabaco nos três Estados do Sul”, ressalta, ao mencionar que nos últimos 14 anos foi responsável por conduzir um caminhão rodotrem, com nove eixos, abastecido com aproximadamente 74 toneladas (peso bruto).
Nesse ir e vir, João Ulisses precisou driblar não só a saudade de casa, já que ficava dias longe da esposa Adriana, 60 anos, e das filhas Larissa e Yasmin, de 34 e 23, respectivamente, mas também os percalços da estrada. Viu inúmeros acidentes, inclusive com pessoas conhecidas, e vivenciou diversas mudanças no trânsito, como o aumento no fluxo de veículos e a precariedade das estradas.
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Em meio a tudo isso, manteve-se prudente para manter a sua segurança e a das demais pessoas. “A vida é solitária no trecho, mas nos permite fazer muitas amizades e conhecer novas culturas através das pessoas que encontramos e dos lugares que chegamos”, sublinha.
Hoje, João Ulisses divide com os colegas mais novos o que aprendeu ao longo dos anos. “Gosto de ajudar. Meu pai me ensinou isso. Acredito que podemos fazer sempre o nosso melhor onde quer que a gente esteja”, aconselha. Por recomendação médica, faz trajetos mais curtos, acompanha os carregamentos dos caminhões nas empresas, ajuda na limpeza de contêineres e auxilia a equipe que faz a manutenção da frota. Longe das rodovias, assegura que foi feliz na estrada.
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