Engana-se quem pensa que a Covid-19 se encerra no momento em que o paciente é considerado curado da infecção. Para muitos, as sequelas deixadas pela doença perduram e exigem tratamentos específicos, que variam conforme as complicações apresentadas. Pensando em suprir essa demanda, o Serviço de Reabilitação Cardiorrespiratória do Hospital Santa Cruz (HSC) ampliou sua gama de procedimentos para atender também as pessoas que sofrem com a chamada síndrome pós-Covid.
Coordenado pelas fisioterapeutas Renata Trimer e Andréa Gonçalves, o serviço atende, atualmente, 15 pacientes já considerados recuperados da Covid-19, mas que ainda enfrentam as complicações deixadas pelo vírus. “Além da assistência propriamente dita, nós temos um grupo de pesquisa e atividades de extensão aqui dentro. Conciliamos as duas coisas, na pesquisa começamos a fazer testes de capacidade física, de função pulmonar e de fraqueza muscular. Fomos também estudar o que estava sendo feito na Europa, nos Estados Unidos e começamos a fazer os testes para ver quais as sequelas apresentadas por esses pacientes. A partir daí o tratamento é organizado”, revela Andréa.
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Apesar de a complicação mais comum deixada pela Covid-19 ser realmente nos pulmões – que chegam a ficar 100% comprometidos em alguns casos –, quando o paciente fica internado também ocorre perda muscular. “Eles perdem em média de oito a dez quilos durante uma sema na de internação. E toda vez que existe um quadro de perda de peso muito rápida, também ocorre muita perda de músculos”, ressalta a professora Renata. Essa perda desencadeia fraqueza e fadiga intensas, o que dificultam a realização de tarefas diárias. “Eles começam a se cansar para fazer coisas que não eram problema antes. Coisas simples, como tomar banho e até mesmo caminhar”, relata.
As profissionais ressaltam, ainda, que as complicações do coronavírus não são exclusivas de quem precisou de internação. “Eu tenho uma paciente de 32 anos, que teve Covid na primeira quinzena de junho e não precisou internar. Ela continua relatando que diariamente, por volta das 20 horas, não consegue fazer mais nada e precisa deitar, é uma fadiga intensa. Está fazendo reabilitação mas essa é uma sensação que não melhora, e nós já estamos em outubro”, salienta Renata. Podem ocorrer ainda problemas de visão, desorientação, perda de olfato e paladar, problemas de sono e outros.
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A Alegria da recuperação
A aposentada Luisa Paiva, 62 anos, foi diagnosticada com Covid-19 em agosto. Com o agravamento de seu quadro, ela foi internada e ficou nove dias na UTI. Mesmo depois de receber alta e ser considerada livre do vírus, as sequelas impediam a retomada da rotina. “Era um cansaço total, qualquer coisa que fazia, ficava cansada e desanimada”, conta. Por indicação da filha, que é funcionária do HSC, Luisa conseguiu o tratamento de reabilitação e hoje comemora. “Foi muito bom, me ajudou muito mesmo. Em uma semana já pude notar melhora.”
Ela trouxe também o marido, Adão Paiva, de 68 anos. Ele também teve o vírus e, apesar de não ter sido internado, sofreu complicações que precisaram ser tratadas. “Eu fiquei uma semana debilitado, sem poder caminhar e nem tomar atitude nenhuma. Diria que quase vegetando. Se não tivesse alguém pra me cuidar, não tinha condições nem de levantar da cama”, relata. Com pouco mais de um mês de tratamento, ele já está plenamente recuperado e agradece aos profissionais que o atenderam. “Eu fui privilegiado de pegar uma turma como essa aqui, são pessoas competentes e que têm um carinho tremendo. Não tem como não se recuperar”, finaliza.
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Testes físicos e de estresse pós-traumático para avaliar condição
Para ser atendido no Serviço de Reabilitação Cardiorrespiratória é necessário um encaminhamento, que pode ser fornecido tanto pelo Hospital Santa Cruz, no caso das pessoas que ficaram internadas, quanto pelos postos de saúde à população em geral. O primeiro atendimento é reservado para uma ampla análise da condição do paciente. “Fazemos uma avaliação que envolve alguns testes físicos, para ver força muscular, resistência, se o nível de oxigenação no sangue cai quando a pessoa faz atividades simples, como sentar e levantar. Nada sofisticado, porque alguns chegam aqui muito comprometidos”, destaca Renata Trimer.
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Além desses exames físicos, são aferidas as medidas corporais, com o objetivo de identificar perda muscular. O paciente ainda responde a um questionário que verifica as capacidades cognitivas e as atividades que cada um é capaz de executar em sua rotina. Há ainda uma avaliação do estresse pós-traumático, que acomete muitas pessoas. “Você receber o diagnóstico de uma doença que diariamente mata milhares de pessoas gera trauma, principalmente em quem internou. Mesmo com o passar do tempo, esse estresse não passa. Temos pacientes de junho e já estamos em outubro, e esse medo não baixa.”, explica Renata.
Depressão e ansiedade também são complicações percebidas. Andréa Gonçalves conta que alguns pacientes chegam a carregar consigo um oxímetro (aparelho utilizado para verificar a oxigenação sanguínea), tamanho é o medo de que a oxigenação caia, mesmo que isso não seja um problema comum para aquela pessoa e, em alguns casos, sequer aconteça.
“Tentamos fazer uma avaliação multidimensional, para ver a parte cardiorrespiratória que é o foco da doença, mas que pega também a parte psicoemocional e física”, salienta. Não há um tempo médio de duração do tratamento, ele pode variar de poucas semanas a vários meses a depender da condição e evolução do paciente. O contato pode ser feito pelo telefone 3713 7387.
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