A amamentação prolongada durante os dois primeiros anos de vida do bebê sempre foram recomendadas pela Organização Mundial de Saúde, a Sociedade Brasileira de Pediatria e pelo Ministério da Saúde. A ciência já demonstrou que os benefícios da prática não são apenas de ordem nutricional, mas também imunológica, metabólica, ortodôntica, fonoaudiológica, afetiva, econômica e social.
As mamães que por algum motivo não conseguiram amamentar, diante de tantos argumentos, acabam criando um certo peso na consciência. A das mães que amamentaram bastante mas encaram o momento de cortar esse vínculo também pesa, pois muitas vezes, ser mãe, é uma questão de gerenciamento de culpas.
Para além das necessidades de saúde do bebê, muitos outros fatores na vida de uma mãe podem interferir nas decisões sobre o aleitamento. Uma questão pouco explorada por médicos e pelos conteúdos sobre maternagem é o conflito entre amamentação e a sexualidade de mães e crianças. A psicóloga e psicanalista, Gabriela Malzyner, como as mamães devem se comportar quando o assunto é este.
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Desmamar a criança é uma etapa importantíssima na construção da subjetividade de cada pessoa. Segundo a psicóloga, aos desmamar a criança ganha novas formas de estar na relação com os outros. “Ela ganha novas formas de se acalmar, ganha novos sabores e ganha a descoberta do crescimento e de uma relativa independência. A chave está aí: tratar o processo também como ganho, não só como perda”, explicou.
Os seios têm muitos significados e eles são profundamente transformados durante o aleitamento prolongado, além disso, eles possuem uma simbologia erótica. Gabriela afirmou que o seio materno não pode ser visto apenas como um objeto de aleitamento, mas também parte do corpo do outro. “Os seios estão nos dois contextos e é por isso que a visão da psicanálise sobre o aleitamento prolongado é mais crítica do que a visão médica”.
A sexualidade está presente em todas as pessoas, desde o início da vida. Isso não quer dizer que toda sexualidade seja genital (adulta), mas sim em formas de ter prazer com o próprio corpo, mesmo que ainda infantis. Quando a exploração do corpo do outro já contém um interesse para além do aleitamento do bebê, talvez tenha chegado a hora de desmamar. Não é interessante que a criança se excite mamando: isso não traz benefícios psíquicos.
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O aleitamento materno se excessivamente prolongado não traz somente benefícios, ele traz também um traço que impossibilita a criança reconhecer-se em uma outra posição, reconhecer a mãe como fonte de outras formas de vínculo. “Poder conversar com o bebê sobre o processo, poder observar em si se ainda há o desejo de amamentar e fazer-se perguntas é muito importante. ‘Por que o vínculo deve permanecer sempre ligado ao meu seio?’, ‘Por que não encontrar novas formas de estar com o meu filho?’, ‘Será que essa forma de relação ainda é saudável para nós dois?’ e por aí vai”, salientou a psicóloga.
Ajudar a criança no processo e nas etapas das provas da vida é tarefa dos pais.Ensinar o que ela ganha com o desmame para além de lamentar aquilo o que ambos perdem, é um caminho natural, mesmo que não seja sempre fácil.
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