Diariamente ouvimos falar em números a respeito da pandemia. Tantos novos casos, outros tantos novos óbitos… Com o passar do tempo, isso se transformou num processo corriqueiro. Esses números, contudo, representam pessoas, e uma delas é o caminhoneiro Genésio Dumke, 48 anos. No dia 5 de abril deste ano, ele teve o diagnóstico confirmado para Covid-19, tornando-se o primeiro caso da doença em Santa Cruz do Sul.
À época, quando o Brasil ainda vivia as primeiras semanas da pandemia e havia muito mais dúvidas que certezas, poucos acreditavam que ela duraria tanto tempo. Passados mais de quatro meses, o coronavírus segue impactando a rotina da população, e também a de Genésio. “Eu tentei voltar ao normal do que eu era e não consigo. Fiquei com muitas sequelas”, conta.
A fibrose pulmonar – popularmente conhecida como “cicatriz no pulmão” – tornou difícil a sua rotina profissional. “Não tenho fôlego para nada. Trabalho de caminhoneiro e tem coisas que fazia antes, como tirar a lona da carreta, baixar as tampas, que eu tento fazer agora e não consigo, pela falta de fôlego.”
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Segundo ele, a orientação da equipe médica era de que os problemas passariam com o tempo; entretanto, a aguardada recuperação ainda não aconteceu. “Já faz mais de três meses e até agora não tive melhora, continua a mesma coisa. O fôlego ainda está ruim, às vezes, também tenho crises de tosse, que devem ser consequência da cicatriz no pulmão.” Dumke, que é hipertenso e obeso, teve diversos sintomas e complicações, mas não chegou a ser internado quando estava com o vírus ativo em seu corpo.
Apesar das dificuldades, ele nunca parou de trabalhar. Na boleia do caminhão, ele tira o sustento da família. “Estou no sacrifício, vou fazer o quê? Tenho aluguel para pagar, minha esposa agora no seguro-desemprego. Estamos aí correndo, lutando.” Não bastassem as sequelas respiratórias, ele ainda enfrenta outro problema. “Fiquei com problema nos pés. Não sei se é circulação, se o sangue ‘engrossou’. Tenho uma consulta marcada no dia 24, no posto de saúde perto da minha casa, vamos ver o que os médicos me dizem.”
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As dificuldades deixadas pela doença
A rotina de longas viagens e horas dirigindo o caminhão, antes encarada com tranquilidade, hoje é mais um desafio que a vida impõe. “Eu sempre viajei de Santa Cruz a São Paulo ou Rio de Janeiro normalmente, de ficar quatro ou cinco horas sentado e aí dar uma parada. Hoje não estou conseguindo mais.” O problema é o inchaço nos pés, de causa ainda desconhecida. Dumke conta que, na semana passada, chegou a precisar de atendimento na UPA de Santa Cruz do Sul, por não conseguir sequer colocar o pé direito no chão.
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Segundo ele, se no início o acompanhamento dos órgãos de saúde era diário, com o passar do tempo tornou-se raro e hoje é inexistente. “Quando ligamos para a médica do Hospital de Campanha, ela disse que os sintomas do pulmão passariam, mas para mim não está sumindo. Ouço falar em fisioterapia, que todo mundo está fazendo. Quem tem dinheiro faz, mas e quem trabalha de dia para colocar o prato de comida na mesa à noite?”, questiona. Depois de considerado recuperado, ele afirma que não teve mais nenhuma assistência.
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