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REESTRUTURAÇÃO

Como está o Hospital Regional do Vale do Rio Pardo um ano após escândalo de corrupção

Foto: Rafaelly Machado

Hospital Regional do Vale do Rio Pardo passou, há um ano, por intervenção após a descoberta de desvios de recursos públicos

Há pouco mais de um ano, no dia 15 de junho de 2020, o Hospital Regional do Vale do Rio Pardo vivia uma reformulação em sua administração, após passar por um escândalo de corrupção. O desvio de R$ 15 milhões da área da saúde, em plena pandemia, culminou inclusive na prisão do então prefeito de Rio Pardo, Rafael Barros. Atualmente, o hospital está sob gestão do Instituto de Administração Hospitalar e Ciências da Saúde (IAHCS). À época, o nome da entidade foi indicado por um grupo formado por profissionais do governo do Estado e Ministério Público (MP).

Após o primeiro ano da nova administração, são visíveis as melhorias realizadas na instituição. A criação de alas para tratamento de baixa e média complexidade da Covid-19, aquisição de 11 respiradores, reformas estruturais e automatização de procedimentos foram alguns dos resultados positivos que vieram com a nova gestão. O que foi feito de bom no hospital, de junho de 2020 a junho de 2021, se contrapõe ao que houve antes e mostra o mal que a corrupção pode gerar a uma sociedade e o quanto pode lesar diretamente a saúde das pessoas que nela vivem. Os serviços realizados após as mudanças foram apresentados em uma reunião realizada nessa quinta-feira, 17, com representantes do IAHCS, do MP e da 13ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS).

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Local que atende pacientes com Covid-19 era anteriormente um depósito inutilizado | Fotos: Rafaelly Machado

MELHORIAS E ECONOMIA
O diretor-executivo do IAHCS, Sérgio Ruffini, relata que houve dois momentos após a intervenção da entidade. O primeiro foi de correção das inadequações. “Passamos de três a quatro meses mais corrigindo o passado que propriamente prospectando o futuro. No segundo semestre, começamos a fazer as medidas com lógica mais estruturante, no sentido de melhorar os serviços. Tivemos muito trabalho em corrigir e implantar sistemas de controle, principalmente controle de uso de recurso público”, comenta Ruffini, destacando a atual economia, que chega a aproximadamente R$ 700 mil por mês. “Hoje o hospital está fazendo mais e melhor, com menos dinheiro. O hospital movimentava R$ 2,5 milhões, oficialmente, e hoje conseguimos fazer mais coisas com R$ 1,8 milhão”, completa.

Sobretudo, melhorias foram registradas no atendimento aos pacientes. Ruffini salienta que um dos locais mais críticos era o dedicado à alimentação. “O refeitório e a cozinha eram extremamente críticos, o refeitório era totalmente inadequado. Com recursos próprios, fizemos um trabalho que melhorou muito aquela condição. Também destaco a implantação da ala Covid, com estrutura física, equipamento e pessoal.” Além disso, estão sendo levados ao hospital conceitos atualizados de gestão de risco e segurança do paciente. Outro ponto fundamental durante a pandemia é o abastecimento de oxigênio, que também estava inadequado antes da intervenção e passou por mudanças. “Era uma situação dramática, com risco de explosão e de falta de abastecimento”, observa o diretor.

Promotora Christine e vice-prefeito Rogério conheceram o novo sistema de chamada

Ministério Público continua em alerta
O promotor de Justiça João Beltrame, coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) – Núcleo Saúde, diz que avalia a atual gestão do hospital como positiva e que o MP segue fiscalizando a situação. “Temos um grupo de trabalho que está sempre buscando ver se está tudo adequado, correto, junto com a Secretaria Estadual de Saúde. Junto à Promotoria de Justiça de Rio Pardo, temos acompanhado o fluxo das reclamações que eventualmente ocorrem, se são verídicas, se têm alguma dificuldade. A fiscalização é permanente , recebemos periodicamente relatórios do IAHCS sobre o que estão fazendo, até porque é uma intervenção judicial”, explica Beltrame.

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Christine Mendes Ribeiro Grehs, titular da Promotoria de Rio Pardo, reafirma que o MP está atento. “A visão do Ministério Público é de alerta. Nesse tipo de trabalho o dinheiro público está mais suscetível, mais fragilizado, à mercê de entidades que não zelam por esse dinheiro. Com isso, toda a sociedade fica à mercê da prestação de serviços caros, que muitas vezes não atendem às necessidades da população.” A promotora destaca que o município de Rio Pardo vivenciou um trauma muito grande. “Sofremos esse golpe histórico em uma cidade histórica. Foi um golpe na nossa autoestima. Houve uma traição à sociedade”, frisa.

Atenção constante: promotora de Justiça Christine Grehs testa sistema de chamada que foi implantado recentemente

Olhar para o futuro e novos planos
Resultados foram alcançados, mas ainda são necessárias melhorias, segundo a secretária estadual de Saúde, Arita Bergmann. “Temos confiança de que, juntos com a comunidade regional, com o poder público municipal, com o apoio que temos recebido do MP e, principalmente, com o empenho dos servidores dessa casa, poderemos avançar e evoluir, porque nosso compromisso enquanto governo é atender o interesse público e prestar serviços de qualidade. A escolha da atual administração foi feita de forma coletiva, e neste um ano fizemos o que era viável diante do cenário que encontramos”, observa.

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É um sonho, conforme a titular da 13ª CRS, Mariluci Reis, que o hospital tenha dez leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). “Sou rio-pardense de coração, nasci aqui e o meu maior sonho é ver o hospital ser hospital regional de excelência, com dez leitos de UTI. Meu sonho é dizer que participei dessa história e desse momento”, comenta a coordenadora regional de saúde. “Vamos estabelecer um estudo da implantação da viabilidade da UTI, porque não temos dinheiro para fazer isso, vai depender do Estado e de recursos públicos. Sabemos como fazer, mas dependemos da autorização de gestores e de recursos”, complementa Ruffini.

Antes e depois: reforma feita na cozinha do hospital é uma das mais significativas

Com quem deve ficar?
A promotora de Justiça de Rio Pardo defende que a intervenção no Hospital Regional do Vale do Rio Pardo deve continuar com o Estado. “Tivemos que deixar o município de fora e eu imagi-no que agora, com a troca de administração, o município sinta isso, mas não tínhamos escolha. Precisamos melhorar a autoestima e a confiança. Meu sonho é que este hospital seja do Estado, eu não gostaria mais que o município fosse responsável pelas contratualizações”, salien-ta Christine.

Presente em reunião na tarde de quinta, o vice-prefeito de Rio Pardo, Rogério Monteiro, destacou a vontade dele e do prefeito Edivilson Brum de o município retomar a administração do hospital. “Estamos trabalhando em um plano operativo para buscar novamente a gestão e esperamos que até o final do ano a gente conclua esse plano.” O prefeito Edivilson Brum ressaltou que cessaram os desvios e a corrupção dentro do hospital. “Estamos construindo um plano que seja resolutivo para toda a comunidade do Vale do Rio Pardo, após os escândalos que culminaram até em prisões no ano passado. Destaco o ótimo trabalho do Ministério Público e Polícia Federal pelo protagonismo da operação, que culminou no cessar da corrupção”, ponderou Brum.

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Período de intervenção prorrogado
O IAHCS começou a atuar no início de julho, com período de intervenção previsto para 180 dias. No entanto, esse prazo foi prorrogado. O promotor de Justiça João Beltrame explica que a ação pública ajuizada pede que o interventor faça um plano operativo. “É uma preocupação para entender o que precisa para que o hospital funcione de forma efetiva. Depois disso, é possível abrir um chamamento público e procedimento licitatório para competição entre outras entidades que queiram assumir o hospital de forma contratual mais duradoura. Isso é uma coisa bastante complexa e estamos acompanhando de perto, temos relatórios para ver qual o melhor modelo de entidade que vier a assumir definitivamente.”

OPERAÇÃO CAMILO: RELEMBRE
A Operação Camilo foi deflagrada em 27 de maio de 2020 por uma força-tarefa entre Polícia Federal, Controladoria Geral da União, Tribunal de Contas do Rio Grande do Sul, Ministério Público Federal e Ministério Público do Rio Grande do Sul. Foram cumpridos 129 medidas judiciais decorrente da investigação que apura crimes de fraude a licitação, peculato, corrupção passiva, organização criminosa, ocultação de bens, crime de responsabilidade e desobediência. O prejuízo estimado é de R$ 15 milhões em recursos da saúde repassados pela União e pelo Estado a uma organização social. Na ocasião, 15 pessoas foram presas, entre elas Rafael Barros, ex-prefeito de Rio Pardo, e o ex-procurador do município Milton Schmitt Coelho. Ambos foram soltos no início de julho do ano passado.

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