A contagem regressiva de quatro meses para a eleição iniciou-se nessa quinta-feira, 2, com perguntas em aberto. O favoritismo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) é irreversível ou alguma outra candidatura tem chance? A eleição pode ser, pela primeira vez em quase 25 anos, decidida em primeiro turno? E, diante de disputa centrada em dois candidatos com taxas de rejeição tão altas, o que vai ser decisivo para o resultado?
A Gazeta do Sul consultou três analistas e a avaliação unânime é de que, apesar de toda a atenção mobilizada desde o ano passado para a formação da “terceira via”, dificilmente se evitará um segundo turno entre os dois principais candidatos, a não ser com um improvável “fato novo”. Sobre a possibilidade de decisão em primeiro turno, as chances existem – principalmente em eventual desistência de outros candidatos, como Ciro Gomes (PDT), terceiro nas pesquisas –, mas a tendência é de que a tradição do segundo turno se mantenha.
Já no Rio Grande do Sul, o cenário é mais nebuloso. O possível retorno de Eduardo Leite (PSDB) pode, na avaliação dos entrevistados, embaralhar a cena eleitoral, visto que ele aparece bem colocado nas pesquisas, embora tenha de lidar com questionamentos quanto à quebra da promessa de não tentar a reeleição. Um segundo turno entre Leite e o ex-ministro Onyx Lorenzoni (PL) é considerado factível, exceto se houver alinhamento entre as forças de esquerda, sobretudo PT e PSB, que hoje estão fragmentadas.
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Na disputa pelo Senado, a desistência da ex-deputada Manuela D’Ávila fortaleceu, segundo os especialistas, a vantagem do ex-presidente Hamilton Mourão (Republicanos). Embora a esquerda ainda não tenha nome para substituir Manuela, um fator que pode influenciar os rumos da corrida é o possível ingresso do ex-governador José Ivo Sartori (MDB).
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No Rio Grande do Sul, o cenário eleitoral ainda é impreciso por conta de um fator que pode, na visão dos analistas, alterar decisivamente os rumos do pleito: Eduardo Leite. Depois de fracassar na tentativa de viabilizar uma candidatura presidencial, o tucano estaria prestes a lançar-se novamente ao Piratini, e as pesquisas indicam uma chance real de chegar ao segundo turno. Sem Leite na disputa, o melhor colocado é Onyx Lorenzoni.
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Conforme Bruno Lima Rocha, se entrar na disputa, Leite captaria votos que hoje se concentram em Onyx e Luis Carlos Heinze, sobretudo de eleitores de direita que não simpatizam com Bolsonaro. Paulo Moura pondera, no entanto, que o fato de Leite ter renunciado ao governo e sua quebra da promessa de não concorrer à reeleição serão cobrados na campanha. “Parece que o governo do Rio Grande do Sul virou um prêmio de consolação, como não teve sucesso na empreitada presidencial. Isso vai ser explorado. E o Estado nunca reelegeu governador”, comentou.
Embora até agora a eleição pareça se encaminhar para um segundo turno entre candidatos de centro-direita e direita (Leite e Onyx), um eventual alinhamento entre as forças de esquerda poderia modificar esse cenário. De acordo com Rocha, uma aliança entre PT, PSB e Psol, reproduzindo a chapa Lula-Geraldo Alckmin, provavelmente encontraria condições de chegar ao segundo turno. Até o momento, porém, essa possibilidade se mostra distante. “Não é uma situação fácil de ser resolvida internamente, porque o PT lançou o Edegar Pretto há muito tempo e, historicamente, o PT sempre teve candidatura própria. Além disso, houve um afastamento do PSB e, principalmente, do Beto Albuquerque em relação ao PT, então existe um processo de rusgas entre eles”, observou Carlos Borenstein. Outra dúvida é em relação ao PDT, que, após a desistência de Romildo Bolzan Júnior, lançou o ex-deputado Vieira da Cunha, mas ainda cogita abrir mão da cabeça de chapa para compor com outro grupo.
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Os especialistas também preveem uma disputa estadual muito contaminada pela corrida presidencial e, sobretudo, pelo embate entre Lula e Bolsonaro. Na avaliação de Rocha, as candidaturas de Onyx e Heinze, por exemplo, podem fragmentar o voto do eleitorado conservador, já que ambos são muito identificados com o atual presidente. Além disso, o resultado do primeiro turno nacional deve ser decisivo para orientar as alianças no segundo turno estadual.
Calendário
Apesar da elevada taxa de rejeição tanto de Lula quanto de Bolsonaro, os analistas são céticos quanto à possibilidade de uma candidatura alternativa furar o favoritismo dos dois. Segundo o cientista político Carlos Borenstein, da Arko Advice, o fato de eles somarem entre 75% e 80% das intenções de voto nas pesquisas evidencia a dificuldade que outra frente teria de tirar um deles do segundo turno. Para Borenstein, uma vez que Ciro Gomes mantém-se nos mesmos patamares colhidos nas eleições anteriores das quais participou, o que indica um teto, apenas um “imponderável” permitiria a ascensão de um nome como o da senadora Simone Tebet (MDB). “Com esse quadro, considerando que Lula e Bolsonaro são líderes com um enraizamento social muito forte, sem um fato novo é bem improvável que a gente tenha uma alteração nesse quadro”, observou.
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Na mesma linha, o cientista político Paulo Moura entende que as cisões internas dos partidos da chamada “terceira via”, bem como as dificuldades de negociação entre as siglas, impediram que apresentassem uma proposta competitiva. Some-se a isso o fato de os dois principais concorrentes possuírem eleitorados muito convictos. “Se existisse um único candidato da terceira via, ele teria que conseguir todos os votos dos indecisos para tirar um dos dois da parada. Isso nunca me pareceu possível, e agora muito menos”, analisou.
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Consolidado o favoritismo, a dúvida é sobre a possibilidade de a eleição ser decidida em primeiro turno, o que não acontece desde 1998. Embora as últimas pesquisas tenham colocado Lula próximo disso, dentro da margem de erro, Moura diz não acreditar nesse cenário. Conforme ele, a vitória em primeiro turno é uma “exceção à regra” no Brasil e, no caso de Fernando Henrique Cardoso, que venceu duas vezes com apenas uma votação, isso se deu em um “contexto muito específico”.
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Na mesma linha, Borenstein também crê que o cenário mais provável seja o de uma eleição em dois turnos. “É bem possível que, a partir da definição das candidaturas, quando a campanha aquecer, a base bolsonarista, que anda muito quieta, vá começar a se mexer, e o Lula vai se tornar alvo”, disse. O fato de o PT trabalhar para tentar tirar Ciro da disputa seria, de acordo com ele, um indicativo de que Lula não tem votos para vencer em primeiro turno. Em uma eventual desistência do pedetista, no entanto, essa hipótese ganharia mais força.
Na queda de braço entre Lula e Bolsonaro, fatores como a economia devem ser decisivos, segundo os analistas. De acordo com o cientista político e professor de Relações Internacionais Bruno Lima Rocha, a deterioração das condições de vida, sobretudo com a escalada da inflação, impõe um desafio ao atual presidente. “Na medida em que, infelizmente, as condições de vida pioram, a tendência é a responsabilização do governo de turno, e isso inclina votos para o ex-presidente Lula”, frisou. Já Moura acredita que o elemento decisivo, sobretudo no segundo turno, será a taxa de rejeição. “A batalha dos dois candidatos está sendo por reduzir a própria rejeição e tentar atrair os votos dos eleitores de centro.”
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Com apenas uma vaga na bancada gaúcha no Senado em disputa, a vantagem de Hamilton Mourão ganhou combustível, na visão de analistas, com a desistência de Manuela D’Ávila na semana passada. Apesar da divisão no campo da direita – serão pelo menos quatro candidaturas postas e quase 40% das intenções de voto inclinadas do centro para a direita –, a avaliação é de que Mourão tem mais chances, sobretudo com o vácuo na esquerda, que ainda não tem um nome para substituir Manuela, de longe a liderança política feminina mais forte no Estado.
Conforme Paulo Moura, entre os fatores que dão musculatura a Mourão, além da visibilidade por ser vice-presidente, está a condição de general do Exército: o Rio Grande do Sul tem a maior concentração de quartéis da América Latina, o que torna o militarismo muito forte. Já Borenstein destaca a relação construída por Mourão com empresários gaúchos nos últimos anos.
Outras variáveis, porém, ainda estão em jogo. Uma delas é a possibilidade de o ex-governador José Ivo Sartori aceitar o convite do MDB para concorrer. “Se o Sartori vier, cria um obstáculo relevante para o Mourão. Embora não tenha sido reeleito, ele foi bem avaliado e teria a máquina do MDB trabalhando para ele”, analisa Borenstein. Já Bruno Rocha diz considerar muito difícil a possibilidade de a direita perder a vaga. Tudo indica, segundo ele, que a saída de Manuela tenha sido uma estratégia para abrir um espaço de negociação entre as frentes de esquerda no Estado, sobretudo entre PT e PSB. “Não sei qual candidatura poderia se contrapor à do Mourão hoje. Manuela tinha essa possibilidade”, analisou. Um dos nomes cogitados, caso não haja o acordo com os socialistas, é o do ex-governador Tarso Genro, que até agora não demonstrou interesse.
Atualmente, o primeiro nome atrás de Mourão nas pesquisas é o da ex-senadora Ana Amélia Lemos (PSD).
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