O Rio Grande do Sul é composto por 497 municípios e, destes, somente dois ainda não registraram nenhum caso da Covid-19, mesmo passados mais de sete meses desde o início da pandemia. Um deles é Cerro Branco, distante cerca de 60 quilômetros de Santa Cruz do Sul. O tamanho da população – menos de 5 mil habitantes – e o fato de a maioria dessas pessoas estarem no meio rural ajudam a explicar o “sucesso” da pequena cidade em proteger sua população do novo coronavírus.
A exemplo de muitas outras cidades da região central do Estado, a economia de Cerro Branco é fortemente impactada pelo cultivo do tabaco. Com uma densidade demográfica de apenas 28 habitantes por quilômetro quadrado (Santa Cruz do Sul tem 176), somente 29% dos habitantes residindo na zona urbana e distante dos grandes centros, é possível afirmar que a população local já vivia em um certo distanciamento social mesmo antes da pandemia, sendo esse mais um dos motivos para a ausência de casos.
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Segundo a enfermeira Carine Andrade, chefe da Vigilância Epidemiológica do município, essa distância é um fator determinante para evitar a chegada da doença e o contágio. “Eu acredito que o fato de a população ser rural, estar mais em casa e não sair tanto da cidade, sem manter contato com pessoas que podem ter a Covid-19, é o que propicia ninguém ter pegado a doença.”
Ela acrescenta que, apesar de muitas pessoas trabalharem nos municípios vizinhos, especialmente Candelária e Novo Cabrais (que têm casos registrados), o cuidado com as medidas de prevenção tem evitado a contaminação.
Nas ações adotadas pela Prefeitura e os órgãos de saúde, Carine revela que não há nenhum segredo. Além do decreto municipal que determina o cumprimento de uma série de protocolos de distanciamento e higiene, foram realizadas campanhas de conscientização da comunidade, bem como a distribuição de máscaras. Em conjunto com essas medidas, todas as pessoas que apresentaram sintomas gripais compatíveis com a Covid-19 foram testadas e acompanhadas pelas equipes de saúde. “Enquanto Secretaria de Saúde, nós orientamos nossos pacientes por meio dos agentes comunitários de saúde. Eles têm um papel fundamental para nós”, finaliza.
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O município
Emancipado de Cachoeira do Sul em 1988, o município de Cerro Branco é relativamente jovem, com 32 anos de fundação. Sua economia é fortemente baseada na agricultura, principalmente no cultivo de arroz e tabaco. Faz divisa com Novo Cabrais, Candelária, Lagoa Bonita do Sul, Paraíso do Sul e Agudo.
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A área é de 154,105 quilômetros quadrados, e a população está, em sua maioria, no meio rural, o que representa mais de 70% do total. Está distante 40 quilômetros de Cachoeira do Sul e 62 de Santa Cruz do Sul, as maiores cidades da região. O nome vem de um morro com rochas brancas, características daquela área.
Com 47 anos de atuação, 44 deles em Cerro Branco, o médico Ilceo Mergen, 71 anos, nunca presenciou uma situação parecida com a imposta pela pandemia do novo coronavírus. Ele cita a crise provocada pelo vírus H1N1, em 2009 (e que, inclusive, provocou um óbito no município), como parecida, mas observa que não houve tamanha repercussão.
Em relação ao sucesso da cidade no controle da nova doença, ele segue pela mesma linha apontada pela enfermeira Carine. “É uma população pequena e dispersada, com uma parte substancial no interior, onde esse distanciamento é natural”, ressalta.
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Com pouco mais de mil pessoas vivendo na zona urbana, a tarefa da fiscalização em verificar irregularidades e conter aglomerações torna-se mais simples, e é considerada vital pelo médico. “São os três pilares: distanciamento, higiene e uso da máscara. Existem aglomerações, mas são poucas e o pessoal está em cima”, salienta, acrescentando a colaboração dos comerciantes no que diz respeito ao cumprimento das determinações do decreto municipal. Além da sua contribuição enquanto médico, Mergen foi o responsável por gravar a mensagem informativa à população, que circulou pelas ruas do município em um carro de som ainda nas primeiras semanas da pandemia.
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