A forte queda nos preços dos alimentos em 2017, de 4,85%, foi o motivo apontado pelo Banco Central para que a inflação tenha chegado a 2,95% em 2017. Tal índice, o mais baixo da história do regime de metas de inflação, iniciado em 1999, ficou fora do intervalo perseguido pelo BC para o ano passado, de inflação entre 3% e 6%. Foi a primeira vez que houve descumprimento da meta porque a inflação foi baixa demais – e não alta demais – e isso pode ter efeitos diretos na vida dos consumidores.
Em função do descumprimento, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, precisou escrever uma carta aberta ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, para justificar a inflação baixa. Segundo ele, não fossem os alimentos, favorecidos pela supersafra de grãos do ano passado, o IPCA – índice oficial de preços – teria subido 4,54% e, portanto, estaria no centro da meta (4,5%). Por trás do movimento está a maior produção agrícola da história. Segundo especialistas em agropecuária, o campo viveu condições perfeitas na safra 2016/2017, colhida ano passado. “A agropecuária, mais uma vez, ajudou a economia a ter musculatura”, afirmou Renato Conchon, coordenador do Núcleo Econômico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Variações
A produção maior e a consequente oferta fizeram o preço dos alimentos encerrar o ano 1,87% menor, a primeira deflação anual da história. Por outro lado, a alta de 13,53% nos planos de saúde exerceu a maior pressão sobre o orçamento das famílias. A segunda maior pressão foi da gasolina, 10,32% mais cara, por causa da nova política de preços da Petrobras, que repassa às refinarias as oscilações do dólar e das cotações internacionais do petróleo. Pelo mesmo motivo, o gás de botijão subiu 16%.Publicidade
Outro preço monitorado, o da eletricidade, subiu 10,35% impulsionado pela cobrança extra pelo acionamento das usinas térmicas, cuja energia é mais cara. A alta seria ainda maior não fosse o desconto de até 19,50% aplicado sobre as contas de luz em abril.
Impactos no dia a dia
A baixa inflação tem efeito positivo no bolso do consumidor. Na prática, a tendência é de que o dinheiro leve mais tempo para se desvalorizar. Assim o poder de compra se mantém e ajuda, inclusive, a puxar o consumo. Já quando a inflação aumenta, os preços também sobem e o dinheiro perde seu valor. É o clássico exemplo: o que se comprava com R$ 50,00 em um mês, no seguinte já estará custando mais.
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A maioria das negociações de reajuste salarial adota como base a inflação. O indicador usado para isso é o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que também é apurado pelo IBGE. Em 2015 e 2016, com a disparada da inflação e retração do PIB, muitas categorias não conseguiram sequer reajustes que cobrissem a alta dos preços. Em 2016, pela primeira vez desde 2013, houve recuo no valor real dos salários de 0,52%, segundo o Dieese. Porém, com as quedas da inflação apuradas em 2017, os reajustes voltaram a superar a alta de preços e o poder de compra do trabalhador demonstrou recuperação.
A taxa básica de juros Selic, que atingiu o menor marca em 30 anos, é o instrumento utilizado pelo Banco Central para controlar a inflação. Quando ela sobe, a tendência é de que a população guarde dinheiro em vez de gastar. Diante das reduções da Selic, que atualmente é 7% ao ano, ocorre o contrário e o consumo e a busca por crédito aumentam. Os juros cobrados dos bancos caem, e a expectativa é de que fique mais fácil – e barato – contratar operações como o financiamento da casa própria. Aliado a isso, empresas também voltam a investir e estimulam a geração de vagas. Diante desse cenário, espera-se mais cortes na Selic ao longo de 2018.
O preço da comida é o que mais pesa no bolso do brasileiro, sobretudo na faixa de menor renda. No ano passado, com uma safra considerada recorde, os alimentos ficaram mais 1,87% baratos. Esse fenômeno foi capaz de compensar os reajustes de energia elétrica e combustíveis, contendo a inflação.
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O IGP-M, utilizado como base para o reajuste dos aluguéis, também recuou por causa da baixa na inflação. Em dezembro, o indicador atingiu 0,52% de queda no ano. Com isso, quem tem que negociar contratos de locação imobiliária pode ser beneficiado.
COMPARE
O que ficou mais barato
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Feijão carioca -46,06%
Maçã -23,26%
Pimentão -22,94%
Alho -22,50%
Açúcar cristal -22,32%
Tangerina -20,08%
Banana-prata -19,5%
Açúcar refinado -18,21%
Mandioca (aipim) -17,3%
Abóbora -17,27%O que ficou mais caro
Cenoura 18,24%
Gás de botijão 16%
Manga 14,46%
Plano de saúde 13,53%
Creche 13,23%
Ensino médio 10,36%
Energia elétrica 10,35%
Ensino fundamental 10,34%
Gasolina 10,32%
Educação infantil 10,15%Publicidade
Fonte: IBGE com base nas médias nacionais
Na soma geral, os alimentos para consumo em casa caíram 4,85%. Vários itens tiveram queda significativa, com destaque para as frutas (-16,52%), maior impacto negativo sobre o IPCA do ano, o equivalente a 0,19 ponto porcentual.
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