Polícia

Como a polícia chegou até quadrilha que usava caixa de presente para furtar lojas


Eram 4h52 da madrugada de 27 de maio deste ano quando um Renault Logan branco, alugado por Cláudia Izabel Costa Ferreira, de 52 anos, partiu de uma residência na Rua dos Belos Girassóis, no Bairro Rubem Berta, em Porto Alegre. No veículo estavam três pessoas: Tailine Monalise da Cruz, de 29 anos; a grávida Keimelly da Silva Teixeira, de 22; e Kevin William Ferreira de Arruda, de 31, travesti também conhecido pelo nome Yasmin. No porta-malas havia uma caixa grande, embalada com um papel de presente, dentro de um sacolão. O destino era a região central do Estado. Pela BR-290, chegaram a Cachoeira do Sul.

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Depois, seguiram pela BR-153 e RSC-287 até Candelária, passaram por Vale do Sol e chegaram, às 11h05, em Vera Cruz. Foi naquele sábado que esse grupo entraria no radar das forças de segurança do Vale do Rio Pardo. A Gazeta do Sul conta a seguir os bastidores de uma investigação da Polícia Civil que mirou uma quadrilha especializada em cometer furtos em lojas usando uma caixa de presente falsa. As provas apuradas pelos agentes coordenados pela delegada Lisandra de Castro de Carvalho resultaram, nos últimos dias, na expedição das primeiras prisões preventivas decretadas pela Justiça para o bando.

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Uma passada por Cachoeira

No fim da manhã de 27 de maio, o grupo investigado estacionou o Renault Logan branco na Rua Peter Hübner, no centro de Vera Cruz. Após cometer um furto em uma loja da Avenida Nestor Frederico Henn, o bando levou as roupas para o automóvel, onde as guardou no porta-malas. O prejuízo para o estabelecimento da cidade beirou R$ 7 mil. A Brigada Militar (BM), após ter ciência do crime, iniciou as buscas e encontrou na área central Keimelly da Silva Teixeira, de 22 anos.

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Ela estava com uma sacola grande. Dentro, havia uma caixa embalada com um papel de presente. Ao averiguar, os policiais não encontraram nada e liberaram a jovem. Minutos depois, foi a vez de Tailine Monalise da Cruz, a condutora do carro, ser abordada. Após solicitação dos policiais, a mulher abriu o veículo. No porta-malas foram encontradas aproximadamente cem peças de roupas, todas com etiqueta. Ela afirmou que não eram suas. Mesmo assim, foi presa e levada à Delegacia de Polícia (DP) de Vera Cruz, onde o flagrante foi homologado por receptação.

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O Logan foi apreendido. A mulher, no entanto, sequer foi levada ao presídio, pois pagou na hora uma fiança de R$ 2 mil para responder pelo delito em liberdade. Segundo a BM, tanto Keimelly como Tailine tinham antecedentes por furtos em loja em sua fichas policiais. “Conseguimos comprovar que a jovem abordada primeiro era autora do furto, junto de outras duas pessoas naquele momento, sendo outra mulher e um travesti, todos de Porto Alegre”, comentou a delegada Lisandra de Castro de Carvalho. No decorrer das últimas semanas, os agentes aprofundaram as provas.

“Descobrimos que antes de serem pegos em Vera Cruz, naquela manhã eles já haviam furtado um estabelecimento em Cachoeira do Sul. Há registro de passagens do grupo em Candelária e Vale do Sol também”, salientou Lisandra. “Uma gerente lembrou que em Agudo ocorreu um furto com as mesmas características um tempo atrás, em uma loja. Ficamos sabendo ainda que em Lajeado aconteceram delitos do tipo”, complementou a delegada.

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A artimanha da caixa

Remetido ontem ao Poder Judiciário, o inquérito sobre o caso tem 229 páginas e detalha a dinâmica do bando nos crimes. A Gazeta do Sul teve acesso a detalhes do documento e imagens de câmeras de videomonitoramento que mostram Keimelly, no dia 27 de maio, carregando uma sacola com uma caixa revestida em papel de presente, por algumas ruas de Vera Cruz.

“Elas iam aos municípios em dias de grande movimentação, normalmente sábados pela manhã. Entravam nas lojas com essa sacola, dando a impressão de que tinham vindo de outro estabelecimento. Mapeavam quantas atendentes tinha o local e, enquanto uma ou duas distraíam as funcionárias, outra colocava as peças na caixa, que tinha uma abertura na parte de cima. Depois, iam embora”, explicou a delegada.

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Os investigadores apuraram que os acusados agiam quase sempre em uma rede que tem como política não instalar câmeras de segurança em seus estabelecimentos. Havia apenas detectores de furto colocados nas saídas das lojas, que costumam apitar quando uma peça de roupa com um dispositivo passa pelo local.

Conforme a Polícia Civil, no entanto, o bando furtou um extrator dos ímãs antifurto de roupa em uma loja de Candelária. “Depois de furtarem as peças, extraíam os ímãs e colocavam elas dentro da caixa, para saírem dos estabelecimento sem nenhum problema”, explicou a delegada Lisandra de Castro de Carvalho. Em outras oportunidades, usavam papel-alumínio para embaralhar o sinal e saírem com os produtos mesmo com os ímãs.

Conforme a investigação, a mãe de Kevin, Cláudia Izabel Costa Ferreira, era a responsável por alugar o veículo para as viagens a cidades do interior. Foram constatados, em rastreios da Polícia Civil, pelo menos 27 registros de locações de automóveis em seu nome nos últimos meses. “Isso indica um modo de agir comum: alugar um veículo, ir até cidades do interior, cometer furtos, voltar a Porto Alegre e devolver o carro”, ressaltou Lisandra.

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Integrante do bando foi presa em Santa Catarina

Os elementos coletados pela Polícia Civil de Vera Cruz foram tantos que convenceram o Poder Judiciário, pela primeira vez, a deferir um pedido de prisão preventiva para três integrantes do bando. As ordens judiciais para Keimelly, Tailine e Kevin foram expedidas na última sexta-feira pela juíza Fernanda Rezende Spenner, da Vara Judicial de Vera Cruz.

Um dia depois, no sábado, Tailine, que já havia sido presa em flagrante em Vera Cruz por receptação, foi capturada em Lages, Santa Catarina, cometendo furto em uma loja. “Elas vivem disso. O sustento é do mundo do furto. Até em virtude dessa prisão em outro estado, acreditamos que exista uma rede composta por várias pessoas, células do crime por regiões, que têm essa estratégia, de locar um carro para a prática de furto e fugir para evitar um flagrante”, salientou a delegada Lisandra.

Keimelly e Kevin permanecem foragidos da Justiça. Os dois, Tailine e Cláudia Izabel foram indiciados por associação criminosa e furto duplamente qualificado, com as qualificadoras – dispositivos que podem ampliar a pena – elencadas pela destreza e pelo concurso de pessoas. “Sabemos que o furto é um crime que gera insegurança na sociedade e abala, em virtude de as pessoas terem seus bens levados por criminosos. Por isso, nos debruçamos nessa investigação para responsabilizar os autores”, finalizou a responsável pela DP de Vera Cruz.

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