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Como a BM chegou na quadrilha que clonava e revendia veículos

Eram 6h45 da última sexta-feira, 7, quando uma barreira nas imediações do pedágio de Candelária foi montada por uma guarnição da Força Tática da Brigada Militar. A informação colhida pelo Setor de Inteligência do 23º Batalhão de Polícia Militar (23º BPM) era de que um carro em situação irregular poderia estar transitando no Vale do Rio Pardo. Ao abordar um dos veículos suspeitos, um Fiat Argo preto, os policiais analisaram a documentação e não constataram irregularidades.

Número da placa, ano, modelo e cor batiam com as informações do documento. Mas causou estranheza o fato de o motorista, de 23 anos, não possuir carteira de habilitação. Foi quando os policiais levaram o automóvel à loja da fabricante original do veículo. Somente com uma leitura computadorizada, utilizando um scanner, pôde-se detectar a falsificação.

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“Nos impressionamos com o fato de até as gravações no vidro do carro, número de chassi e motor estarem perfeitos, como o original”, disse o comandante do 23º BPM, tenente-coronel Rodrigo Schoenfeldt. Segundo ele e o chefe de Inteligência do batalhão, capitão Rafael Carvalho Menezes, a falsificação quase perfeita, realizada em Santa Catarina, é uma das artimanhas adotadas pela célula criminosa, que tem como base o Vale do Rio Pardo. Descobriu-se depois que o Argo havia sido roubado no dia 28 de maio, em Montenegro, no Vale do Caí. Na ocasião, ao chegar em casa, um casal foi rendido por dois criminosos armados, que levaram o carro e celulares das vítimas.

O automóvel foi restituído aos proprietários. A BM ainda identificou o verdadeiro Fiat Argo, que tinha a mesma placa. Era de uma mulher de 38 anos, da cidade de Palmitos, Santa Catarina. Ela disse aos policiais que havia vendido o carro para uma revenda de sua cidade. Ao acionar o estabelecimento, ela verificou que o Argo estava no local, confirmando que o veículo apreendido no pedágio de Candelária era um clone.

“Esse grupo procura em sistemas carros com as mesmas características dos roubados, sem estar em situação irregular. Utiliza essas informações para inseri-las nos irregulares e escapar do radar da polícia, inclusive documentação para transferência e venda. O proprietário só fica sabendo quando eventualmente recebe uma multa, ou em alguma ação”, comentou Schoenfeldt.

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O homem que conduzia o Argo adulterado é morador de Linha Rincão da Serra, interior de Vera Cruz. Conforme a BM, ele aguardava apenas o Documento Único de Transferência (DUT) falsificado do carro para revendê-lo por R$ 45 mil. Foi preso em flagrante por receptação e conduzido ao Presídio de Santa Cruz do Sul. Mas no dia seguinte foi posto em liberdade.

Detido também foi indiciado por estelionato

O mesmo homem de 23 anos preso com o carro clonado há uma semana também foi indiciado por estelionato pela Polícia Civil de Vera Cruz. Conforme a delegada Lisandra de Castro de Carvalho, o acusado cometeu o chamado golpe do falso depósito. Um homem de 56 anos colocou à venda no Marketplace do Facebook um iPhone, ao valor de R$ 1,9 mil. O criminoso demonstrou interesse e marcou um local para receber a mercadoria.

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Por volta de 15 horas, no dia 3 de maio, a vítima foi até o estacionamento de um supermercado de Vera Cruz e entregou o aparelho, recebendo um comprovante falso de depósito bancário. O homem de 56 anos só se deu conta de que havia caído no golpe no dia seguinte, e não obteve mais contato com o autor do estelionato. A investigação apontou que o criminoso utilizava um nome falso para falar com as vítimas pela internet e teria cometido o mesmo tipo de delito em Santa Cruz.

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Crime de estelionato praticado pelo mesmo homem foi flagrado em estacionamento | Foto: Reprodução

Para aplicar os golpes, ele dirigia um Chevrolet Corsa branco, que está no nome de sua companheira. Imagens de câmeras de segurança flagraram o momento da entrega do celular da vítima de Vera Cruz para o estelionatário.

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Conforme apurado pelos policiais, ele afirmava que, se fosse preso em flagrante na posse de alguma dessas mercadorias, diria que é motorista de aplicativo e apenas realizava o transporte do produto para alguém. No entanto, como foi ressaltado pela polícia, o homem nem sequer possuía CNH.

“Muitos envolvidos”

No mesmo dia em que a ação foi desencadeada na região, a Brigada recuperou uma picape Renault Oroch adulterada. O veículo estava em uma oficina no município de Boa Vista das Missões, após sofrer uma pane mecânica enquanto era levado para ser vendido na cidade de Guaíra, no Paraná. Havia sido furtado em 21 de abril, no município de Ibarama, na região Centro-Serra.

Conforme o capitão Rafael Menezes, há cerca de um mês havia chegado a informação, a partir da Agência Central de Inteligência da BM, em Porto Alegre, de que veículos furtados ou roubados transitavam com frequência pelo Vale do Rio Pardo. Depois seguiam a Santa Catarina e, após alteração de suas características originais, retornavam para serem vendidos.

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“Trocamos informações com policiais de Porto Alegre. Agentes do Setor de Inteligência do 23ª BPM, junto com os do Comando Regional, foram a campo e começaram a trabalhar as informações através de cercamento eletrônico, monitorando com nossos colaboradores. Fomos fechando o cerco até chegarmos nesses dois veículos”, explicou.

Segundo Menezes, a quadrilha utiliza propriedades rurais e sítios para esconder veículos furtados ou roubados. “Sabemos que há bastante gente envolvida nesse esquema. Com essa ação de sexta-feira, buscamos coibir delitos como o furto e roubo de veículos, prevenindo outros crimes como a clonagem”, salientou o capitão.

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