A comercialização da safra 2023/2024 se tornou motivo de polêmica entre fumicultores e entidades representativas. Isso porque surgiram relatos de que as empresas, diante da escassez do tabaco devido à quebra na produção provocada pelas chuvas, estão pagando valores muito acima da tabela. A prática não é novidade e já foi verificada em ocasiões anteriores, sobretudo quando há redução na produção, e é considerada prejudicial para a cadeia produtiva, visto que ela remunera os agricultores de maneira distinta por tabacos de qualidade semelhante.
De acordo com o produtor e agroinfluenciador Giovane Luís Weber, são inúmeros os relatos. Integrando a terceira geração de uma família de produtores, ele conta que já viu esse fato se repetir quando há quebra de safra. Recentemente, participou da expedição Os Caminhos do Tabaco, da Gazeta Grupo de Comunicações, e visitou oito propriedades no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Em todas, ouviu queixas de que a produção ficou abaixo do esperado. “Foi parelho, nós não teríamos como escolher aleatoriamente somente as que foram prejudicadas”, frisa.
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Ao comentar a disparada nos preços para além do previsto na tabela, entende que em um primeiro momento é bom para o fumicultor, que recebe melhor remuneração. Quem vendeu nas primeiras semanas, contudo, será prejudicado. “Durante as negociações não houve o reajuste na tabela e agora estão pagando por fora, então quem vendeu no início da safra recebeu um valor e quem está vendendo agora está ganhando muito mais.” Segundo ele, há relatos de vendas com valores superiores a R$ 350,00 pela arroba dos tabacos de melhor classificação.
Ele chama a atenção ainda para a importância de que o produtor converse e negocie com o orientador da empresa à qual é integrado e evite vender para terceiros. “Cada um tem que saber o que é melhor para si. Se considerar que é o momento, venda. Temos que lembrar que em 2022 alguns esperaram demais e, no fim, o preço caiu.”
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Agricultores Familiares de Santa Cruz do Sul, Sinimbu, Vale do Sol e Herveiras, Sérgio Luiz Reis, tem opinião semelhante. Para ele, tudo o que vem a favor do produtor é válido, mas entende também que quem comercializou a produção no início da safra, conforme orientação, ficou no prejuízo em relação aos que estão fazendo a venda agora. “Por isso, as entidades que representam os produtores nas negociações de preço sempre se empenham em ter uma tabela justa.”
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Para a Afubra, prática compromete a cadeia produtiva
A Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) salienta que a situação não é nova e se repete a cada vez que há quebra acentuada na produção. Assim como Weber e Reis, o presidente da instituição, Marcílio Drescher, entende que a valorização por um lado é positiva, mas também enfatiza que as empresas não colocaram na tabela um valor justo e que era reivindicado pelos produtores. “Isso nos deixa inconformados com algumas empresas que, depois, praticam um pagamento extraordinário, de forma paralela”, disse.
Em sua compreensão, essa prática é desigual e desvirtua a cadeia produtiva e o sistema integrado de produção de tabaco. “Não é justo, porque, de certa forma, não são todos os produtores que recebem esses valores.” O Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco), entidade que representa as fumageiras, por sua vez, informou que não pode se manifestar pois não participa das compras, cada empresa é responsável pelos seus processos.
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