O ousado filme “Carro Rei”, de Renata Pinheiro, foi o grande vencedor do 49º Festival de Cinema de Gramado, levando quatro prêmios na noite desse sábado, 21: melhor filme, melhor trilha musical, melhor direção de arte e melhor desenho de som.
Como a própria diretora contou durante o debate do filme ao longo da semana, “Carro Rei” é “sobre o quanto estamos nos transformando nesse homem tecnológico e quanto podemos nos desumanizar neste processo”. Trazendo diversas referências que passam pela ficção científica, o longa traz questões sobre a identidade brasileira e o momento recente do Brasil.
“Eu queria agradecer por ter essa voz agora, estamos passando por um momento tão difícil de destruição total do nosso setor que emprega tanta gente, um setor que emprega tanta gente, que dá chance para tantos talentos brasileiros entenderem o que é se comunicar, o que é criar uma expressão artística, o que é ser brasileiro. Estão querendo destruir a gente e a gente não pode”, afirmou Renata, emocionada.
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A comédia de western “Jesus Kid” garantiu a Aly Muritiba melhor direção e melhor roteiro em longa-metragem brasileiro, uma adaptação do livro de Lourenço Mutarelli. O filme deu ainda a Leandro Daniel Colombo o Kikito de melhor ator coadjuvante. A melhor atriz coadjuvante foi Bianca Byington por “Homem Onça”.
O ator Nando Cunha consagrou-se melhor ator pelo papel de Mauro em “O Novelo”. O prêmio tem um gostinho todo especial para ele, já que o papel foi conquistado justamente pela visibilidade e reconhecimento em 2017 quando ele foi o melhor ator de curta-metragem brasileiro em Gramado por “Telentrega”, despertando a atenção da diretora Claudia Pinheiro.
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“Estou feliz demais, feliz demais. Quero agradecer a todos os atores que trabalharam comigo, meu Deus, meu Deus. Hoje a gente fala muito de posicionamento, das pessoas ficarem em cima do muro, é sobre a importância de se posicionar e foi por eu me posicionar que esse filme nasceu. Eu era um moleque que morava na Penha e costumava ver o festival de Gramado como o ‘Oscar brasileiro’. E esse moleque ganhou hoje um ‘Oscar’ de melhor ator com longa brasileiro tendo como concorrente Paulo Miklos e Matheus Nachtergaele que eu sou muito fã, só agradecer demais”, falou emocionado, entre lágrimas.
Glória Pires, que já tem um troféu Oscarito, homenagem entregue em 2013, no 41º Festival de Cinema de Gramado, conquistou agora seu primeiro Kikito, pela atuação no drama policial “A Suspeita”, de Pedro Peregrino. Ela não pôde participar virtualmente da cerimônia pois estava no casamento da filha Cleo.
A produtora Daniela Busoli representou a atriz e leu um depoimento de Glória em agradecimento ao prêmio: “Parabenizo o festival pela sua 49ª edição homenageando com muita justiça os profissionais do audiovisual brasileiro, essa caminhada ininterrupta especialmente nesse momento é uma enorme inspiração. Agradeço a Daniela Busoli e ao Leonardo Lessa por terem me recebido tão generosamente nesse projeto criado por Luis Eduardo Soares e dirigido pelo grande parceiro de tantas aventuras criativas Pedro Peregrino. Agradeço a cada profissional que trouxe sua criativa contribuição ao projeto, especialmente a nossa montadora Joana Collier. A vida é feita de encontros e fazer cinema é reproduzir a vida contando histórias que nos fazem questionar e buscar saídas mesmo quando não parece haver uma”.
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A coprodução entre Brasil e Uruguai “La Teoría de Los Vidrios Rotos” venceu o melhor filme de longa-metragem estrangeiro desta edição. Na comédia, o protagonista Claudio Tapia (Martín Slipak) é perito de uma seguradora e foi enviado até uma cidade do interior uruguaio para desvendar uma misteriosa série de incêndios em carros. Além do Kikito de melhor filme, a produção recebeu também o voto do júri popular.
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“Planta Permanente”, de Ezequiel Radusky, recebeu os outros dois Kikitos da mostra: júri da crítica e também um prêmio especial do júri oficial “pela abordagem de temas tão presentes em nossa sociedade, que refletem as consequências de um sistema corrompido e afetam diretamente os valores humanos; e pelas interpretações das protagonistas femininas que representam a força das mulheres latinas em nosso cinema”.
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O documentário “Cavalo de Santo”, que traz um retrato do universo religioso afro-brasileiro no Rio Grande do Sul, foi eleito o melhor filme entre os longas-metragens gaúchos. O filme é baseado no livro da diretora Mirian Fichtner que passou dez anos pesquisando em terreiros sobre o tema no estado. “Cavalo de Santo” é o primeiro filme do casal Mirian Fichtner e Carlos Caramez, que também levou os prêmios de melhor filme pelo júri popular, melhor roteiro e melhor trilha musical.
Entre muitos beijos de comemoração, o casal agradeceu. “Pra mim tá sendo uma emoção muito grande, é nosso primeiro trabalho. Quero dedicar ao povo de Santo, de religião, sem eles a gente não estaria aqui”, comemorou Mirian. “Quero dedicar esse prêmio pra Mirian, ela fez todos os méritos desse trabalho. Sem ela não teria esse filme. O batuque é uma coisa que só existe no Rio Grande do Sul e vocês terem valorizado isso… a gente quer agradecer e está emocionado mesmo”, agradeceu Carlos Caramez.
Gilson Vargas foi eleito o melhor diretor por “A Colmeia”. Além dos Kikitos, todos os vencedores receberam valores em dinheiro oferecidos pela Secretaria da Cultura do Estado, por meio do Instituto Estadual de Cinema (Iecine), somando R$ 55 mil.
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Contando sobre a oferenda de banquetes a cães em promessa à São Lázaro em uma pequena comunidade do interior da Paraíba, o curta “A Fome de Lázaro”, de Diego Benevides, conquistou o prêmio de melhor filme entre os curtas-metragens brasileiros desta edição.
“Não sei nem o que dizer… tô muito feliz queria agradecer a minha equipe que acreditou no projeto, ao Sítio dos Monteiros e todos os personagens que trouxeram vida ao filme. Muito importante a gente estar trazendo esse prêmio para o nosso estado, que a gente está a cada dia reinventando o cinema”, agradeceu Benevides.
A produção paulista “Entre Nós e o Mundo”, de Fabio Rodrigo, saiu da premiação com quatro Kikitos: melhor direção, melhor montagem, prêmio especial do júri e melhor filme eleito pelo júri da crítica.
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A cerimônia foi transmitida direto de Gramado e teve apresentação das jornalistas e apresentadoras oficiais do evento Marla Martins e Renata Boldrini. A banda local Jazz Cinnamon embalou a trilha musical com temas de filmes nacionais. No momento “in memorian”, a emoção foi grande com a lembrança de nomes como Tarcísio Meira, Paulo José, Paulo Gustavo, Nicete Bruno, Eduardo Galvão e Artur Xexéo, que partiram no último ano.
Encerrando a cerimônia, uma homenagem a todos os realizadores do audiovisual brasileiro veio em forma de clipe com imagens de bastidores e grandes cenas do cinema com locução do ator Lázaro Ramos: “É preciso seguir em frente, esse tempo de trevas vai passar”, diz a voz do ator.
O clipe encerra com o desejo de todos para o ano que vem: “O cineasta brasileiro Humberto Mauro disse certa vez uma frase que ficou célebre: cinema é uma cachoeira e a força dessa corrente não tem quem consiga parar. Muito obrigado por ter tomado mais um banho de cinema com a gente nesta 49ª edição, nos encontramos em 2022 para festejarmos juntos o cinquentenário do Festival de Cinema de Gramado”.
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