Não é segredo nem novidade para ninguém que diversas rodovias, sejam elas estaduais ou federais, se encontram em más condições de conservação. O caso da RSC-481, contudo, é uma situação singular. A rodovia, que na origem é estrada federal, liga Novo Cabrais a Sobradinho, no Centro-Serra, e tem parte de sua extensão asfaltada. É no trecho onde não há pavimentação, porém, que os problemas se avolumam – e eles não são poucos.
A Gazeta do Sul percorreu o trecho e constatou as adversidades enfrentadas por quem precisa passar pelo local. Elas vão desde buracos de variados tamanhos até a falta de roçada no entorno e a ausência completa de sinalização onde não há asfalto.
Os problemas aparecem logo após o fim do perímetro urbano de Cerro Branco, onde o asfalto deixa de existir e tem início a estrada de chão. Junto com ela, inúmeros buracos – alguns dos quais não seria exagero chamar de crateras – e desníveis na pista, composta em sua maioria por pedras de todos os tamanhos, haja vista que a terra foi levada pela chuva e não houve reposição.
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Essas pedras a todo momento são lançadas pelas rodas e acabam se chocando contra a parte de baixo do veículo, provocando danos nas partes expostas. Além disso, a possibilidade de furar um pneu é constante. Caso isso aconteça, é bom estar preparado, pois é difícil encontrar um local plano para que a instalação do estepe possa ser feita com segurança. E ainda pode piorar: se for necessário chamar ajuda, o jeito é procurar em alguma das casas ao longo do trecho. Não há sinal de celular.
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Se isso tudo não bastasse, não há nenhum tipo de sinalização – vertical ou horizontal – para alertar os motoristas. As únicas placas existentes são as que indicam os acessos às localidades do interior. A vegetação do entorno, da mesma forma, não recebe nenhum tipo de manutenção há muito tempo. Em alguns trechos, está tão densa que torna a pista estreita a ponto de permitir a passagem de apenas um veículo, e isso em estrada com linhas de ônibus intermunicipais. Se houver outro no sentido contrário, os condutores precisam entrar em acordo sobre quem vai retornar para que o outro possa passar.
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O motorista de ônibus Márcio Fardin enfrenta a estrada diariamente e afirma que as condições são essas há vários anos. “É bem complicado. Tenho problemas com os galhos e também mecânicos, como pneus furados e molas quebradas”, relata.
A precariedade da RSC-481 não afeta somente os moradores das comunidades em seu entorno, mas também os produtores rurais. Ao longo do trecho há muitas propriedades que cultivam sobretudo tabaco e soja, cujo escoamento da produção se torna uma tarefa difícil e cara. Em função das péssimas condições de conservação da estrada, muitos preferem realizar o deslocamento por Lagoa Bonita do Sul e Passa Sete, descer a serra pela ERS-400 e ingressar na RSC-287 em Candelária, mesmo com o custo agregado em frete, combustível e tempo.
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Prefeituras buscam realizar a manutenção
Tratando-se de uma rodovia federal coincidente com estadual, a manutenção da RSC-481 é uma atribuição do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer). A lentidão da autarquia para efetuar os reparos necessários, contudo, tem feito com que os prefeitos assumam a responsabilidade por meio da assinatura de termos de cooperação. Com isso, o Daer permite que as prefeituras executem os trabalhos.
Apesar de parecer uma solução simples e prática, a autorização acaba emperrada na burocracia. Conforme o prefeito de Lagoa Bonita do Sul, Luiz Francisco Fagundes (PP), o Município encaminhou a solicitação de cooperação junto ao Daer em agosto de 2021, enquanto a permissão só foi assinada no final de novembro. “Veja como é a situação, a Prefeitura queria fazer um serviço que é de responsabilidade do Estado, com recursos nossos, e tivemos de correr atrás várias vezes para que eles liberassem”, salienta Fagundes.
De posse da autorização, as equipes da Prefeitura efetuaram o reparo dos 11 quilômetros da estrada que pertencem ao território do município. Os trabalhos incluíram patrolamento, nova camada de brita e compactação com rolo compressor, bem como a roçada do entorno. Após a conclusão, a pista apresenta boas condições de trafegabilidade e pode ser percorrida sem nenhum tipo de transtorno pelos motoristas.
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Em Cerro Branco, porém, a situação é diferente. O trecho em chão batido mais longo, e onde se concentram os piores pontos, está no território do município, cujo prefeito afirma não dispor de recursos para efetuar os reparos, a exemplo do que ocorre em Lagoa Bonita do Sul e Sobradinho. Conforme Edson Lawall (PDT), a Prefeitura possui somente duas patrolas para fazer a manutenção de cerca de 300 quilômetros de estradas vicinais. “Se eu colocar as máquinas na 481, as nossas estradas é que vão ficar ruins. Os moradores afetados vão reclamar, e eu não poderia dizer que eles não têm razão”, afirma Lawall.
O prefeito esteve em reunião com o Daer na semana passada, quando foi entregue um ofício diretamente ao diretor-geral do departamento, Luciano Faustino. Entre as demandas estavam a recuperação total do trecho de cerca de 25 quilômetros, com patrolamento, colocação de brita e compactação. “Não adianta só patrolar. A primeira chuva leva aquela terra e as pedras ficam todas expostas novamente. O serviço precisa ter durabilidade.”
Faustino, porém, informou que a 10ª Superintendência Regional do Daer, sediada em Cachoeira do Sul, e responsável pela RSC-481, não seria capaz de atender à demanda neste momento. Ainda segundo Lawall, foi acordado então que a Prefeitura vai identificar um local de onde possa ser extraído o cascalho para as obras de restauração. O Daer, por sua vez, aporta os recursos para a terceirização dos trabalhos. Mas não foi estipulada data para início ou conclusão de nenhuma das etapas.
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Daer
Contatado pela reportagem, o Daer informou que a manutenção da RSC-481 ocorre em parceria com as prefeituras de Sobradinho e Lagoa Bonita do Sul por meio do termo de cooperação. Sobre o trecho correspondente a Cerro Branco, a autarquia informa que realiza patrolamento, mas o trabalho vem sofrendo atrasos em função das chuvas recentes. Após a conclusão, estão previstas roçadas e podas nas árvores que invadem a pista.
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