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Com pouco dinheiro, Anatel corta fiscalização em 60% desde 2010

Na contramão do crescimento dos usuários dos serviços de telecomunicações, como telefonia móvel, internet e TV a cabo, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) reduziu o número de fiscalizações em 60,3% desde o início da década. É o que mostram dados internos da própria agência, compilados em relatório da Ouvidoria.

Em 2010, foram realizadas 21.340 operações de fiscalização. No ano passado, foram 8.472 operações. A causa para a redução é a mesma apontada desde a criação da agência, em 1997: os recursos recolhidos das empresas do setor para financiar a fiscalização entram no caixa do Tesouro Nacional e de lá só saem a conta-gotas. 

O grosso fica contingenciado, para reduzir o déficit fiscal. No ano passado, dos R$ 3,8 bilhões recolhidos, só 3,2% foram destinados à Anatel. “Se há aumento nos índices de reclamação, a responsabilidade é exclusiva do prestador do serviço? Não sei, pois estamos deixando de fazer a nossa parte”, disse ao jornal O Estado de S. Paulo a ouvidora da Anatel, Amélia Regina Alves. A falta de fiscais devidamente treinados é a principal razão para a demora na conclusão dos processos fiscalizatórios, segundo explicou.

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“A fiscalização é o primeiro nível de interface da agência com o usuário”, disse o presidente da Associação Nacional dos Servidores Efetivos das Agências Reguladoras, Thiago Botelho. “Sem ela, fica difícil capturar ou identificar irregularidades e corrigir o que foi apontado em fiscalizações.”

Na avaliação de Amélia, o fortalecimento da área de fiscalização seria importante para o período que virá depois que for fechado um acordo atualmente em negociação entre operadoras e a agência reguladora, no qual multas bilionárias acumuladas nos últimos anos serão convertidas em investimentos. O cumprimento desse acordo precisaria ser monitorado de perto, segundo aponta relatório da Ouvidoria. O acordo está em análise no Tribunal de Contas da União (TCU). “A situação preocupa também porque estamos em um ponto de inflexão”, disse Amélia. Com o avanço da internet das coisas e da indústria 4.0, o desafio da agência será ainda maior.

Novo papel

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A análise dos dados da área de fiscalização faz parte de uma nova abordagem para o papel da Ouvidoria, explicou Amélia. Hoje, as ouvidorias das agências reguladoras atuam de forma reativa, movida pelas reclamações dos usuários. Mas, diz ela, o trabalho não deve se resumir a isso.

Em seu relatório, ela analisou também os efeitos da atuação da Anatel na perspectiva econômica do setor regulado, os processos internos da agência e o processos de aprendizagem e desenvolvimento dos funcionários. E, a partir daí, sugeriu a revisão de algumas rotinas.

Sua expectativa é que a nova forma de atuação das ouvidorias seja incorporada ao projeto de lei das agências. A matéria, já aprovada no Senado, tramita na Câmara dos Deputados. Procurada, a Anatel não quis comentar. A reportagem também entrou em contato com o Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviço Móvel Celular e Pessoal, que tampouco quis se posicionar.

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Para o ex-secretário executivo do Ministério da Fazenda Bernard Appy, o governo erra ao reter os recursos dos fundos de financiamento à fiscalização, mas entregar a totalidade dos recursos poderia ser exagerado. O correto seria calibrar os repasses a um programa de trabalho das agências, por meio de um contrato de gestão.

Naiara Silveira

Jornalista formada pela Universidade de Santa Cruz do Sul em 2019, atuo no Portal Gaz desde 2016, tendo passado pelos cargos de estagiária, repórter e, mais recentemente, editora multimídia. Pós-graduada em Produção de Conteúdo e Análise de Mídias Digitais, tenho afinidade com criação de conteúdo para redes sociais, planejamento digital e copywriting. Além disso, tive a oportunidade de desenvolver habilidades nas mais diversas áreas ao longo da carreira, como produção de textos variados, locução, apresentação em vídeo (ao vivo e gravado), edição de imagens e vídeos, produção (bastidores), entre outras.

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