Santa Cruz do Sul

Com as fontes secas, famílias dependem do transporte de água para necessidades básicas

Sob um calor de quase 40 graus, a agricultora Luciane Marth faz uma pausa no trabalho doméstico em sua residência, em Linha Pinheiro Machado, para receber o caminhão-pipa da Prefeitura de Santa Cruz do Sul. Morando a 36 quilômetros do centro da cidade, Luciane não conta com a rede da Corsan. Da mesma forma que se acostumou a viver sem sinal de telefone, por exemplo, a necessidade de pedir o abastecimento na época do verão é rotina há três anos e traz dificuldades que precisam ser sanadas pelo poder público, para evitar o desamparo de quem não tem seu acesso garantido à agua potável o ano inteiro.

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Todos os dias, por meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Saneamento e Sustentabilidade, três caminhões-pipa realizam o trabalho de entregar água a moradores de lugares onde as reservas naturais secaram, em virtude da estiagem. A seca assola a região pelo terceiro ano consecutivo na época mais quente do ano.

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Na manhã dessa terça-feira, 31, o destino foi a região de Monte Alverne. Por volta das 8 horas, o caminhão da Prefeitura de Santa Cruz do Sul saiu do Parque da Oktoberfest, onde fica a Secretaria do Meio Ambiente, em direção às estradas do interior. O tempo seco deixa o caminho ainda mais empoeirado e, por onde passa, o Volvo terceirizado levanta a poeira de um solo que há tempos não recebe uma chuva forte.

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Em Linha Justo Rangel, após um longo caminho percorrido, o caminhão faz uma parada para colocar cerca de 3 mil litros na caçamba, que tem capacidade para mais de três vezes essa carga. “Como vamos ter que voltar para reabastecer, é melhor carregar menos quantidade desta vez”, resume Anderson dos Santos, motorista do caminhão.

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Anderson dos Santos percorre longas distâncias no interior para auxiliar as famílias | Foto: Alencar da Rosa

Santos salienta que há muita dificuldade em percorrer o interior de Santa Cruz carregado com toneladas de água. “Alguns locais são bem remotos, bem extremos. Às vezes, para chegar, demora um pouco. É muita demanda e tem áreas em que é muito perigoso”, diz o profissional já com dez anos de experiência na direção. “Dependendo do local, um caminhão com capacidade para 10 mil litros precisa levar fracionado, de 3 em 3 mil, pois é muita lomba, pedras e areia solta. É um risco.”

Programa para conservar as nascentes

O secretário de Meio Ambiente, Saneamento e Sustentabilidade, Jaques Eisenberger, aponta que, com três anos seguidos de estiagem, o movimento da população para pedir o abastecimento só cresce. Atualmente, são 160 famílias atendidas pelo serviço de caminhões-pipa em Santa Cruz. “Cada ano demanda maior quantidade de água para ser entregue, apesar dos investimentos que o Município vem fazendo em redes hídricas e poços. Esperamos a colaboração da população, com a utilização da água com responsabilidade, para que essa situação se torne menos preocupante.”

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Eisenberger salienta que a Prefeitura realiza um programa de preservação de nascentes. Em conjunto com a conscientização ambiental das pessoas, no sentido de poupar as nascentes e rios, essa iniciativa pode auxiliar a população em situações semelhantes nos próximos anos. “Estamos começando um projeto de proteção das fontes de água, por meio do Programa Municipal de Pagamento por Serviços Ambientais, em parceria com a Universidade de Santa Cruz do Sul. Esperamos, futuramente, resultados positivos com esse programa”, comenta o secretário.

Pedidos aumentam muito com a falta de chuvas regulares

Com a chuva escassa, crescem os pedidos de abastecimento que chegam à Prefeitura. O coordenador do Departamento Municipal de Recursos Hídricos, José Luiz Zambarda, ressalta que o volume de entregas de água aumenta após longos períodos sem chuva.

Caminhões-pipa atendem comunidades do interior

“Estamos atendendo em torno de sete a oito cargas nas mais variadas comunidades do interior de Santa Cruz. Entregamos cerca de 140 mil litros por dia. Os três caminhões atendem Monte Alverne e região, São Martinho, Saraiva, Linha Chaves, Rio Pardinho e Nove Colônias. Estamos priorizando a entrega para as comunidades que não são abastecidas pela rede hidráulica.”

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Apesar de a região de Santa Cruz ter registrado chuva na quinta-feira e no sábado, o interior continua seco e com as nascentes em baixa. Pontos naturais de captação de água, como poços artesianos, cacimbas e açudes, acabam não tendo volume suficiente para abastecer famílias como a de Luciane Marth, em Linha Pinheiro Machado.

Luciane: três anos enfrentando a seca | Foto: Alencar da Rosa

Para ela, que vive com o marido e o filho de 2 anos, receber a água potável em suas duas caixas d’água por meio do serviço da Prefeitura significa poder continuar a viver e produzir no interior. “Falta água aqui mais ou menos desde novembro, e aí fica difícil para tudo. Isso já faz mais ou menos uns três anos. Chove, mas é só para as plantas mesmo. Para o consumo, não chove o suficiente. É superimportante, se não tivéssemos essa água, não teríamos nem o que consumir.”

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Funcionário da Prefeitura há três anos, Renê Metzger acompanha o motorista Anderson dos Santos nas entregas de água pelo interior. A experiência de prestar um serviço essencial lhe traz muita alegria por poder ajudar as pessoas, embora já tenha presenciado cenas desoladoras, com pessoas aguardando o caminhão-pipa para poder matar a sede. “Já vi situações em que eu cheguei para levar água e uma mulher pegou um balde de três litros e tomou na hora. Eu disse: junta o que tu tiver em casa e vamos encher de água.”

Metzger fica feliz em realizar o trabalho | Foto: Alencar da Rosa

Ainda segundo Metzger, nem sempre é possível atender às solicitações instantaneamente. “Às vezes demora dois dias, pois é longe. A pessoa faz o pedido, talvez não dê hoje, mas dá amanhã”, diz. “Eles ficam faceiros e a gente fica alegre junto. Para mim não interessa se está 40 graus, eu gosto de ajudar o pessoal. E tem lugares difíceis. Mas para nós, se precisar entrar noite adentro, trabalhar sábado e domingo, nós vamos. Nos interessa é deixar o pessoal feliz, com água. Sem água não tem como passar”, acrescenta.

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