Para o ex-juiz de Direito e ex-desembargador do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul Ruy Armando Gessinger, a conturbada saída de Sérgio Moro do governo federal comprova que o ex-líder da Operação Lava Jato errou ao aceitar o convite para assumir o Ministério da Justiça. Em fins de 2018, quando começaram a circular as especulações de que Moro poderia ser chamado por Bolsonaro, Gessinger, que é santa-cruzense e atualmente atua como advogado criminalista, enviou um e-mail ao então magistrado sugerindo que não aceitasse o convite. No texto, que também foi publicado à época na coluna Conversa Sentada, assinada por Ruy na Gazeta do Sul, Gessinger recomendava a Moro que não se iludisse com “as luzes da política”.
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Segundo Ruy Gessinger, que acumulou mais de duas décadas de magistratura, o poder conferido aos juízes pode gerar ilusões perigosas. “O juiz tem uma formação diferente – não melhor, nem pior. Ele decide, no começo, solitariamente. Tem que se cuidar muito para não crer, depois de um tempo, que é quase igual a Deus. Isso acontece com juízes de todo mundo. Quando a pessoa, antes de ser juiz, foi comerciante, advogado, exerceu outra profissão, isso ajuda muito”, comentou. Para ele, a mistura entre Direito e política é arriscada. “A advocacia e a política são coisas diferentes. No caso da política, os juízes, em sua maioria, se dão muito mal. É outro mundo.”
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Para o analista, a tendência, após a demissão de Moro, é que o eleitorado mais fiel a Bolsonaro permaneça na órbita do presidente. “É assim com os populistas e as pessoas mais ingênuas. E ainda há aqueles que têm medo de que, saindo Bolsonaro, voltará uma esquerda que a duras penas conseguiram defenestrar”, observa. No caso de Moro, um ídolo para boa parte da população, Gessinger acredita que há condições de construir uma carreira política, como deputado federal ou senador pelo Paraná. Para presidente, porém, considera a missão mais difícil, já que ele perderá a visibilidade a partir de agora, fora do governo e fora da Lava Jato. “Sazonalmente aparecem juízes ditos ‘justiceiros’, enquanto a maioria é também eficiente, mas muito discreta”, comenta.
E o novo ministro?
Especula-se que nas próximas horas Jair Bolsonaro esteja indicando Jorge Oliveira, da Secretaria-Geral da Presidência e homem de confiança do presidente, para a vaga deixada por Sérgio Moro.
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