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ELENOR SCHNEIDER

Colono de férias

A primeira reação do leitor deve ter sido: ele se enganou, o certo é colônia de férias. Colônia de férias existe, é lugar para brincar, jogar, pintar, curtir suavemente a vida. Colono de férias não existe e é sobre isso que passo a escrever. Meio atrasado em relação ao seu dia de homenagem, porém faço-o em forma de reconhecimento e gratidão.

Nasci no interior. Depois de sair de casa, as visitas eram, em regra, escassas e normalmente nos finais de semana. Então, sempre reencontrava o gado, os porcos, as galinhas, todos os viventes. E isso era agradável, confortante, meio bucólico. Nosso pai, contudo, dizia: vocês vêm em domingo de sol, tudo é bonito. Agora, quando chove, quando o barro se acentua, quando o frio é intenso, quando é preciso e inadiável cuidar dos animais, vocês estão longe. No entanto, alguém precisa ir à roça colher pasto, arrancar mandioca, cortar cana, para assim garantir a alimentação da bicharada.

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Animais de toda ordem impõem limitações, exigem cuidados permanentes. Não faz muito tempo e ter um cachorro, por menor que fosse, era obstáculo para viajar, pois hotéis não permitiam que se hospedasse junto de seus tutores. Hoje, essa regra se flexibilizou, até mesmo porque os donos das hospedarias se deram conta de que estavam perdendo clientes.

Voltemos ao colono e suas criações. Muitos animais vivem confinados, como suínos e aves, por exemplo. Só terão alimentação, água, espaços higienizados se, a cada dia, alguém fizer isso. Caso não aconteça, entram em sofrimento e morrem. Eles são inteiramente dependentes, só sobrevivem se recebem o cuidado dos seus donos, que sabem disso, razão por que assumem essa responsabilidade e permanecem em suas propriedades. Como são pequenos proprietários, não reúnem condições de contratar alguém para ficar em seu lugar. Portanto, não há tempo para férias.

Férias são direito do trabalhador. Recompensas por dedicação de um ano, são aguardadas com muita expectativa e antecipadamente preenchidas com diversos planos e projetos. Para o colono e seus animais, ou mesmo para os que cultivam hortaliças e flores, esse tempo não existe, porque há vida sob seus cuidados e ela não se sustenta sozinha. Por essa razão, as férias do colono são divididas em parcelas de poucas horas de lazer em finais de semana. E quando o entardecer se apresenta, é preciso voltar para casa, porque ordenhar a vaca não permite transferências ou atrasos. O grunhir dos porcos só cessa quando recebem sua devida ração.

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Em tempos idos, para muitos colonos o mar somente existia a partir da narração de filhos ou netos. Certamente, isso criava uma disfarçada pequena tristeza. Praia de mar eram palavras mágicas, uma realidade distante, um sonho postergado para nunca. Lembro que uma tia me pediu que trouxesse um pouco de água do mar para comprovar que era salgada mesmo. Viajar para longe era aventura rara. Visitar parentes distantes era um acontecimento memorável. Longe aqui significa ir de Cruzeiro do Sul até Três Passos ou Humaitá.

Sei que existem outras categorias com dificuldade de usufruir esse direito. Há pessoas tão apegadas ao seu trabalho, que férias são um estorvo. Minha escolha foi o pequeno trabalhador da roça, tantas vezes relegado ao esquecimento. Lá em cima, falei em gratidão e reconhecimento. Aqui renovo essa promessa.

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