Santa Cruz do Sul

Coleta seletiva avançou em Santa Cruz, mas há desafios para 2023

Ao longo de 2022, Santa Cruz do Sul conquistou significativos avanços na coleta seletiva dos resíduos. Além da expansão do serviço para todos os bairros da zona urbana em dias e horários intercalados, houve também a ampliação do número de contêineres para o recolhimento mecanizado, enquanto outros equipamentos, maiores, foram instalados em algumas praças da cidade. Paralelo a isso, diversas ações de arrecadação de lixo eletrônico e conscientização da população foram realizadas. Ainda assim, há muitos desafios para o próximo ano.

Resultados do trabalho serão percebidos pela comunidade no longo prazo,

Na avaliação do secretário municipal de Meio Ambiente, Saneamento e Sustentabilidade, Jaques Eisenberger, o ano de 2022 representou o início de um importante trabalho demandado pela prefeita Helena Hermany (PP) e cujo resultado será visto ao longo do tempo. Ele diz que implantar um sistema no qual é necessária a conscientização e colaboração das pessoas não representa resultado imediato e, sendo assim, entende como positiva a implantação da coleta seletiva para toda a área urbana e as melhorias que isso trará no futuro.

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“Isso se comprova em cidades onde essa implantação já ocorreu. Santa Cruz, por sua pujança econômica e bem-estar social, já deveria ter implantado esse serviço para toda a área urbana há mais tempo”, afirma. Atualmente o serviço funciona de segunda-feira a sábado em 35 bairros do município. Em 20 deles a operação é de responsabilidade da Conesul Soluções Ambientais, enquanto nos demais fica a cargo da Cooperativa de Catadores e Recicladores de Santa Cruz do Sul (Coomcat).

Ao comentar sobre os avanços conquistados no período, o secretário destaca as melhorias na limpeza urbana e também a gestão de resíduos, bem como a ampliação da coleta seletiva para a totalidade da área urbana. “Isso influenciou inclusive na terceira edição do Ranking de Competitividade dos Municípios, divulgado pelo Centro de Liderança Pública em setembro, onde aparecemos na 123ª posição em nível Brasil, 12 a mais do que no ano passado.” Cita ainda a nova usina de transbordo do Bairro Esmeralda, inaugurada no dia 1º de dezembro. A antiga área, localizada no Bairro Dona Carlota, foi desativada para a recuperação ambiental – os estudos de investigação ocorrerão no primeiro semestre de 2023.

A consolidação da coleta seletiva e o aumento no volume de resíduos reciclados são bandeiras de Helena Hermany no próximo ano, bem como recuperar a antiga área de transbordo e revisar o Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos de Santa Cruz. O documento faz parte do Plano Municipal de Saneamento e deverá ser atualizado para se adequar ao novo Marco Legal do Saneamento. A legislação estabelece que, até 2033, 99% da população tenha acesso a água potável e 90% tenha cobertura de coleta e tratamento de esgoto.

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Resultados aquém do esperado

Em setembro, quando a coleta seletiva ampliada completou o primeiro mês de operação, os resultados apresentados foram muito abaixo do esperado, com menos de 10% do volume projetado tendo sido coletado. Nos meses seguintes, essa baixa quantidade persistiu, informa Eisenberger, mas a expectativa é de que haja melhora no médio e longo prazo. “O mais importante é que se iniciou esse movimento, que já deveria ter sido feito na cidade inteira, considerando a qualidade de vida de Santa Cruz do Sul.”

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Foco nas campanhas de conscientização

Com uma estrutura operacional robusta para o recolhimento de resíduos, seja por meio da coleta seletiva da Conesul e Coomcat e dos contêineres ou mesmo pelo modelo tradicional, um dos gargalos ainda enfrentados é a separação incorreta do lixo por parte da população. Muitos materiais que poderiam ser reciclados e novamente vendidos acabam se tornando rejeito em função da contaminação por alimentos e líquidos ou mesmo por terem sido descartados de forma errada. É o caso do papel, que para ser reaproveitado precisa estar seco e, no máximo, dobrado. Se estiver amassado, perde o valor.

Buscando ampliar a quantidade e a qualidade do lixo reciclado, Helena definiu como uma das metas de sua gestão para 2023 o fortalecimento das campanhas de conscientização dos santa-cruzenses para a questão. O titular do Meio Ambiente e Sustentabilidade recorda que algumas ações já foram realizadas ao longo do ano, como a Coleta + Santa Cruz, quando houve a distribuição porta a porta de folders em todas as áreas onde há contêineres para resíduos recicláveis (os de cor laranja).

Além disso, a Prefeitura organizou reuniões com as associações de moradores atendidos pelo serviço com o objetivo de chamar a atenção para a importância da colaboração de todos. Outros materiais educativos também foram distribuídos para as comunidades dos bairros Santo Inácio, Centro e Arroio Grande, onde estão instaladas as quatro Estações de Sustentabilidade. Trata-se de contêineres verdes de grande porte onde podem ser descartados, em locais específicos, papel, vidro, plástico, metal e rejeito. Foram fornecidos ainda ímãs de geladeira com os dias da coleta seletiva, tudo com o objetivo de facilitar a compreensão das pessoas e tornar a reciclagem um hábito.

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Para o próximo ano, Jaques Eisenberger adianta que está prevista a contratação de uma empresa ou universidade, por meio do Consórcio Intermunicipal de Serviços do Vale do Rio Pardo (Cisvale), para planejar e executar uma ampla campanha de educação ambiental voltada à separação domiciliar dos resíduos. O projeto envolve escolas, agentes de saúde e associações de moradores, entre outros. “Muita coisa está sendo feita e outras ainda virão para que sejam melhorados os índices de coleta seletiva”, completa.

A reciclagem em números

Somente em 2022 foram mais de mil toneladas de lixo recicladas em Santa Cruz do Sul, conforme o levantamento da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Saneamento e Sustentabilidade. São resíduos com valor comercial e que deixaram de ir para aterros sanitários. “Eles voltam para a cadeia produtiva e geram emprego e renda para os catadores”, observa o secretário Jaques Eisenberger. Atualmente, Santa Cruz conta com nove contêineres laranjas para a coleta de recicláveis. Eles foram instalados em parceria com o Conselho Municipal de Meio Ambiente e Saneamento e a Conesul, no âmbito do projeto Recicla Santa Cruz. Há ainda quatro Estações de Sustentabilidade colocadas nas praças Siegfried Heuser e Getúlio Vargas (Centro), Costa e Silva (Arroio Grande) e Hainsi Gralow (Santo Inácio).

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Estações de Sustentabilidade estão presentes em quatro praças de Santa Cruz e são ponto de descarte para resíduos variados | Foto: Alencar da Rosa/Banco de Imagens

Baixo volume de resíduos é preocupação para Coomcat

O volume de resíduos bem abaixo do esperado na coleta seletiva ampliada também é sentido pela Coomcat. De acordo com a coordenadora de produção da Usina Municipal de Resíduos Sólidos de Santa Cruz do Sul, Ângela Maria Nunes, a quantidade diária varia de 300 a 1.200 quilos, considerada muito pequena para a capacidade operacional do local e o número de trabalhadores. “Às vezes, o caminhão chega aqui e descarrega tão pouco, que em meia hora o pessoal passa na esteira e faz a separação”, afirma. “Normalmente só vem uma carga por dia e, depois que é processada, os nossos trabalhadores ficam sem ter o que fazer.”

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Ângela é contrária ao recolhimento executado pela Conesul e diz que os resultados seriam melhores se o serviço fosse feito integralmente pela cooperativa. “É estranho trabalhar com coleta seletiva junto a uma empresa privada, sendo que nós fazemos isso há dez anos e entendemos muito bem desse trabalho”, ressalta. Ela diz que a instituição ainda não sabe se será possível manter os cooperados caso a quantidade não se eleve.

Usina Municipal de Resíduos trabalha em ritmo muito abaixo da capacidade total | Foto: Bruno Pedry

Outra preocupação diz respeito à desativação da antiga unidade de transbordo, localizada na mesma área. O local recebia cerca de 90 toneladas diárias de lixo produzidas na zona urbana e no interior de Santa Cruz do Sul. Esses resíduos eram então separados entre recicláveis e rejeito e recebiam as devidas destinações – o comércio na primeira situação e o aterro sanitário de Minas do Leão na segunda. Segundo Ângela, essa prática representava cerca de 50% de toda a renda obtida na usina e não houve substituição.

Por fim, está pendente a assinatura de um novo contrato entre o Município e a Coomcat para a operação da estrutura. O vínculo, que se encerra em janeiro, ainda não foi renovado e a espera aumenta a incerteza dos catadores. De acordo com a Secretaria de Meio Ambiente, o documento está passando por ajustes e se encontra em fase de finalização.

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