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Happy Hour

Colchão de palha

Convivi por muitos anos com os filhos dos colonos em Trombudo. Aprendi o dialeto alemão na vizinhança. Na nossa casa, os pais se comunicavam com os filhos na língua portuguesa. Essa atitude causava estranheza nos vizinhos.

Nos dias de hoje, os menores não podem trabalhar na roça. No passado, os filhos mais velhos, que já haviam concluído o primário, ajudavam a família nas lides rurais. A piazada estudava e, nas horas de folga, brincava nas redondezas. Não tinha a obrigação de ajudar na roça. 

Esporadicamente, os pais levavam os pequenos para a lavoura e lhes davam a oportunidade de comandar os bois Mimoso e Malhado, que puxavam a carroça. Era algo extraordinário para as crianças ter as rédeas e o relho sob suas ordens. Nada de serviço pesado. Isso estava reservado para os adultos e adolescentes.

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A turma se reunia na casa de algum amigo, geralmente naquela onde a mãe deixava os meninos mais livres e soltos para desenvolverem suas brincadeiras nada perigosas. Um dos divertimentos que viraram febre entre os guris da vila era uma roda de ferro, impulsionada por um arame grosso, cuja extremidade tinha forma de “u”. Os meninos corriam atrás dessa roda o dia todo. 

Essas argolas de ferro eram confeccionadas pelo ferreiro, que não se furtava de levar esse pedaço de ferro ao fogo e moldá-lo numa roda de mais ou menos 40 centímetros de diâmetro, cujas pontas eram soldadas. A piazada era exímia “motorista do seu veículo”, com manobras ousadas, principalmente nas curvas em alta velocidade. 

Esse brinquedo era inseparável nos deslocamentos para a escola ou para a casa dos amigos. Além disso, cada guri carregava um inseparável saquinho de clicas. Bastava que tivesse um terreno bem plano para que o jogo iniciasse. As habilidades de alguns jogadores sobressaíam e eles “pelavam” as bolitas de outros que, quando viam que o saco estava se esvaziando muito rápido, paravam de jogar. Quem sabe em outro dia tivessem mais sorte.

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Cansados, mas felizes, cada menino tratava de ir para casa antes que escurecesse. Se houvesse alguma lição de casa que ficara para trás, a mãe obrigava a terminá-la. A professora cobraria no outro dia.

Hora de dormir. A mãe tinha o cuidado de deixar o colchão de palha (Strohsack) bem fofinho. Era uma montanha que logo se desmanchava quando a gente se deitava. Mas dava uma sensação legal de maciez por alguns segundos. 

Porém, as palhas eram os esconderijos preferidos das pulgas, que resistiam ao veneno “gamereal” que a mãe espalhava nos quartos durante o dia. Antes de dormir, a gente caçava as pulgas que saltitavam sobre o lençol. Até competia com meus irmãos para ver quem esmagasse o maior número de pulgas entre as unhas dos polegares. Era divertido, apesar de acordar todo picado pela praga.

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Havia também os mosquitos, que atacavam à noite. Não havia “Boa-Noite” ou bombadas de flit que resolvessem. Apesar de dormir na companhia dos inseticidas, nos criamos sadios e felizes.  

No inverno, nosso acolchoado era confeccionado com as penas do peito de gansos. Os irmãos mais novos dormiam juntos numa cama de casal. Durante o sono, as penas se deslocavam para um lado só. Quantas vezes a gente acordava à noite tiritando de frio. O irmão mais velho havia puxado as penas para seu lado.

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