A edição da Gazeta do Sul do último fim de semana de Dia das Mães contou uma história incrível, sobre uma quase tragédia que só teve um final feliz por conta de um somatório de casualidades. A matéria do repórter Cristiano Silva relata o dramático salvamento da bebê Antonella, de pouco mais de um mês de vida, que engasgou-se com o leite materno na noite de 6 de maio, no Bairro Senai.
Em pânico, após tentativas frustradas de desengasgar a bebê, Gabriela, a mãe, correu à rua acompanhada dos demais familiares, todos gritando por socorro. A vizinhança entrou em polvorosa, sem que ninguém soubesse ao certo o que fazer. Foi então que apareceu o Go, o herói desta história. Go é o apelido de Róbson Corrêa, um PM temporário de 26 anos, que mora com a esposa, Diane, e o filho, Riquelme, na casa em frente a de Gabriela.
Diane foi a primeira a perceber o drama dos vizinhos. Logo tratou de chamar o marido, que descansava após um dia de muito trabalho. Go não perdeu tempo. Correu à rua, tomou Antonella nos braços e aplicou na bebê a manobra de Heimlich, a famosa técnica de desobstrução das vias aéreas. Antonella tossiu, cuspiu o leite e, enfim, voltou a respirar. E a história teve um final incrivelmente feliz.
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Casos parecidos têm sido bastante frequentes em nosso noticiário. De tempos em tempos contamos, com alívio e alegria, histórias de policiais e bombeiros que salvaram bebês pessoalmente ou orientando os pais, por telefone, a aplicar a manobra de Heimlich. Mas no salvamento de Antonella houve, como anotei acima, algumas casualidades que foram decisivas na luta entre a vida e a morte.
A mais óbvia fora a presença de um PM, bem treinado em técnicas de primeiros socorros, morando justamente na casa em frente à de Antonella. Mas isso não é tudo.
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Ocorre que, de início, não era para Go estar em casa naquela noite. O jovem PM está lotado no 28º Batalhão de Polícia Militar de Charqueadas, onde trabalha na guarda da Penitenciária Estadual. Pela escala, estaria de serviço na noite de 6 de maio. Contudo, como tinha assuntos burocráticos a resolver em Santa Cruz no dia seguinte, conseguira trocar de turno com outro colega. Não fosse por isso, talvez Antonella não tivesse se salvado.
O que me leva a uma constatação um tanto quanto grave: não podemos, toda vez, depender de casualidades como essas quando a vida está em jogo. Nem sempre haverá um Go por perto.
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Eu já tinha 24 anos e um filho prestes a nascer quando aprendi, pela primeira vez, algumas técnicas de primeiros socorros. Na ocasião, fora selecionado para fazer um curso de correspondente de guerra no Centro Argentino de Treinamento Conjunto para Operações de Paz (Caecopaz), em Buenos Aires. Com grande presteza, os instrutores hermanos nos ensinaram lições valiosas sobre massagem cardíaca, aplicação de curativos e até contenção de hemorragias. Anos depois, pude reensaiar tais procedimentos ao ser eleito para integrar a Cipa, aqui na Gazeta.
Ou seja, foram lições que não aprendi na escola, nem na graduação. Até onde sei, ainda hoje lições de primeiros socorros não fazem parte da grade curricular, o que é uma pena. A ausência desses conteúdos nos torna cidadãos despreparados frente a situações de emergência e extremamente dependentes da agilidade dos serviços de socorro – ou da sorte de ter camaradas como o Go nas imediações.
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Por isso, movido pela história de Antonella, convido o amigo leitor a buscar um pouco de conhecimento sobre o assunto. A internet está repleta de vídeos e gráficos que ensinam a fazer a manobra de Heimlich em crianças e adultos, e a como proceder diante de outras emergências. Claro, é preciso buscar em sítios confiáveis.
Não se trata de substituir os serviços de emergência – os primeiros que devem ser acionados –, mas de saber o que fazer enquanto a ambulância está a caminho. Há situações, por exemplo, em que o correto é justamente não mexer na vítima, sob risco de agravar a situação, como nos acidentes de trânsito.
Para tomar essas decisões e agir da forma correta, enquanto o relógio está correndo e a adrenalina invade nossas veias, é fundamental ter conhecimento prévio. Penso eu que a busca por conhecimento, para lidar com situações como essas, é também uma mostra de empatia. Alguém discorda?
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