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Coisas que assombram

A Polícia Civil de Minas Gerais prendeu ontem uma influenciadora digital com mais de 4 milhões de seguidores em redes sociais. Ela incentivava ataques a escolas em Governador Valadares, no Vale do Rio Doce. Em várias postagens, incitava jovens a praticar massacres e fazia ameaças a alunos e professores.
Não estamos falando de deep web, dark web ou assemelhados: trata-se aqui de Instagram, Twitter e outros ambientes triviais. A violência contemporânea, da qual os crimes em escolas são agora a face mais bárbara, é instigada em espaços virtuais corriqueiros, apesar dos ditos esforços de regulação. Numa sociedade onde é preciso repetir constantemente que a liberdade de expressão não protege apologias à morte, não chega a surpreender.

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Gostamos, por vezes, de analisar o que acontece ao redor pelo viés da nossa experiência, como se as situações do passado fossem as mesmas de hoje. Não são. Verdade, nos meus tempos de colégio também havia brigas e o famigerado bullying. Mas, até onde lembro, os alunos trocavam socos e não facadas. Agredia-se eventualmente para humilhar, “dar uma lição”, não para exterminar o desafeto. Até onde lembro, pelo menos.

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Os tempos de hoje têm sua especificidade. É uma época em que parece impossível resolver qualquer conflito, por mais frívolo, mediante diálogo. A imposição pela força é uma exigência, quase afirmação pessoal. Não é por acaso que escolas costumam ser alvo preferencial de assassinos em massa: elas são a instância civilizadora, o espaço onde se busca a convivência com respeito às divergências e diferenças. Para a consolidação da barbárie, é essencial desmoralizar e destruir esse ambiente, com tudo o que ele representa.

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Enquanto o hediondo se repete em escolas e creches, difícil não se sentir um pouco como a narradora de Precisamos falar sobre o Kevin, romance da norte-americana Lionel Shriver. O mal não causa mais espanto; pelo contrário.

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“Holocaustos não me assombram. Estupros e trabalho escravo infantil não me assombram. (…) Fico assombrada quando a moça do caixa me lança um amplo sorriso, junto com o troco, quando a minha fisionomia era apenas uma máscara apressada. Carteiras perdidas enviadas aos respectivos donos pelo correio, estranhos que fornecem indicações precisas de uma rua, vizinhos que regam as plantas uns dos outros – essas coisas me assombram.”

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