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ricardo düren

Coisas da rotina

Nem sempre é preciso elaborar grandes passeios ou outras atividades que quebrem a rotina para nos divertirmos com nossos filhos. Na maioria das vezes, a graça surge no cotidiano, nos diálogos e ações do dia a dia. Basta prestar atenção.

Outro dia o simples trajeto de volta da escola nos proporcionou, em questão de minutos, uma sequência de gargalhadas. Começou com uma estranha queixa da caçula, Ágatha:

– Hoje passei o recreio todo segurando vela…
– Como assim? – intriguei-me. – Faltou luz?
– Nãooo, pai… – retrucou. – Com toda essa idade, com tanto estudo, ainda não aprendeu o que significa segurar vela?

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Relatou então que anda achando muito estranha a atitude de dois amiguinhos, um coleguinha e uma coleguinha, que não desgrudam um do outro na hora do recreio. E sentenciou:

– Devem estar namorando!

Argumentei que não deve ser nada disso, afinal, crianças de 9 ou 10 anos não podem namorar. Ao que ela complementou.

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– Verdade… principalmente em tempos de pandemia! Como vão trocar beijinhos, de máscara?

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Naquele dia, tive que fazer duas paradas antes de chegarmos em casa. Uma delas, no posto de combustíveis, para abastecer. E a caçula, então, intrigou-se com algo que leu, de dentro do carro, na bomba de gasolina.

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– Por que ali diz “original”?
– Ora – explicou-lhe minha esposa. – Isso quer dizer que é gasolina de qualidade, que não foi batizada.
– Batizada? – estranhou a caçula. – Mas nunca vi padre em posto de gasolina…

E, simulando como seria o batismo da gasolina, fez o sinal da cruz.

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A parada seguinte foi no distribuidor de gás de cozinha. Isso mesmo, amigo leitor. Em questão de minutos, foram dois baques no orçamento.

Desembarquei e abri o tampão do porta-malas da minivan, para descarregar o bujão vazio, e fui ao caixa. Quando voltei, Yasmin, irmã da Ágatha, irrompia em gargalhadas, enquanto a caçula parecia meio encabulada no assento traseiro.

– O que houve? – eu quis saber.

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Yasmin, então, explicou-me que a irmã havia ensaiado uma careta para mim, para quando eu fosse acomodar o bujão novo no porta-malas.

– Então ela virou para trás e fez a careta. E só daí viu que não era tu – e Yasmin teve novo acesso de risos antes de concluir a história:
– Era o moço do gás.

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Em casa, minha esposa comentou com a traquinas que ela deveria experimentar certa calça, recém-comprada, para verificar se lhe servia bem. Preguiçosa, Ágatha quis se esquivar de tão complexo compromisso.

– Experimentar uma calça?
– Sim…
– Mas eu nem como calças… não tem uma comidinha mais leve para experimentar?

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