Quando o assunto é vinho brasileiro, a primeira opção que vem à mente da maioria dos consumidores é o Vale dos Vinhedos, na Serra Gaúcha. Muito mais perto de Santa Cruz do Sul, no entanto, há um local com excelência semelhante e em franco desenvolvimento do cultivo de uvas viníferas e também do enoturismo. Trata-se da Serra do Sudeste, em Encruzilhada do Sul, que abriga desde empresas estabelecidas no setor até pequenos empreendimentos que produzem vinhos em lotes limitados a poucas centenas de garrafas.
É o caso da vinícola Pedras da Quinta, fundada há três anos. O empreendimento foi a realização de um sonho do produtor Olívio Maran, que atua no ramo há mais de 30 anos, mas até então se limitava a vender suas uvas para outras empresas.
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Amigo de longa data e com objetivo semelhante, o advogado e professor Diogo Durigon percebeu a oportunidade de uma parceria de sucesso. “Em 2019 tivemos uma produção inicial de 7,5 mil litros, que saltou para 10,5 mil litros em 2022. Alguns vinhos já estão no mercado e outros chegam aos poucos, conforme a maturação permite”, explica Durigon. A propriedade de 19 hectares produz cerca de 180 toneladas de uvas de diferentes castas, das quais parte se destina à venda para outras empresas.
Segundo ele, além de produtos de qualidade, a expectativa é por lançamentos de vinhos de diversas variedades. “A minha vida inteira trabalhei com uvas e as pessoas sempre se admiraram com as que temos aqui, então decidimos experimentar fazer vinhos de qualidade. Até agora está dando certo e todos estão gostando”, afirma Maran. Todo esse potencial está sendo alcançado com o auxílio do clima e também do solo da região, considerados ideais para o cultivo.
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Conforme explica o sommelier Rafael Bicca, que também integra a Organização Internacional dos Sommeliers de Vinho (IWTO, na sigla em inglês), a Serra do Sudeste possui um solo arenoso com drenagem adequada. Além disso, o sol e o vento constante mantêm as videiras secas e evitam a proliferação de fungos. Com isso, a necessidade de aplicação de fungicidas diminui e o resultado são uvas com características diferenciadas para a vinificação. Bicca ressalta ainda que a altitude da região, de cerca de 450 metros, é fundamental, pois proporciona grande amplitude térmica.
Ele explica que, ao longo do dia, quando a temperatura é mais elevada e há incidência dos raios solares por várias horas, as frutas maturam mais a polpa do que a casca. Durante a noite, quando os termômetros chegam a cair para menos da metade em relação ao dia, mesmo no verão, esse processo é desacelerado e as uvas se desenvolvem de maneira equilibrada. “Com tudo isso, as frutas colhidas são excelentes porque tiveram essa maturação harmoniosa desde o início do ciclo”, acrescenta Bicca.
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Por se tratar de um empreendimento ainda em estágio inicial, a vinificação não é feita localmente. Após colhidas, as uvas são levadas para a Serra Gaúcha, onde é feita a produção do vinho. Depois disso, voltam à propriedade para o processo de maturação em barricas de carvalho americano e francês ou tanques de polipropileno, conforme o objetivo do produto final. No mesmo local são também envasados e rotulados. A comercialização, por enquanto, é feita em lojas especializadas e também por meio da internet. No futuro, a ideia é concentrar todas as atividades em Encruzilhada do Sul.
Região tem potencial para o Enoturismo
A qualidade dos produtos e a expansão das propriedades evidenciam que os vinhos da Serra do Sudeste estão consolidados entre os consumidores. Há, porém, outra possibilidade que ganha cada vez mais força entre os empresários locais: o potencial turístico da região. Algumas vinícolas já investem em infraestruturas como restaurantes e serviços de visitas guiadas, nos moldes do que ocorre na Serra Gaúcha.
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A Pedras da Quinta também pretende oferecer essa possibilidade aos visitantes no futuro. Para tanto, será construído um prédio que deve abrigar o espaço de maturação e reserva dos vinhos, restaurante, pousada e loja. Trata-se de projeto turístico completo para os interessados em viticultura. “E não queremos oferecer somente vinhos, mas toda uma gama de produtos feitos aqui na região, como geleias, sucos, queijos e frutas”, afirma Durigon.
Acrescenta ainda que os avanços ocorrem em etapas e são muitas vezes lentos, porque a produção do vinho envolve grandes investimentos e o retorno não é imediato. “Precisamos primeiro construir a nossa marca e nos posicionar no mercado.” Enfatiza ainda que a região de Encruzilhada do Sul tem diversos cultivos relevantes além das uvas, entre eles olivas, noz-pecã, amora e queijos. “Estamos nos organizando para fazer a região crescer enquanto polo turístico. O potencial é imenso”, completa.
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