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AGRICULTURA

Clima prejudica safra de uva no Vale do Rio Pardo

Clima prejudica safra de uva no Vale do Rio Pardo

Com o início de mais uma safra, cenário indica que produção será menor e terá reflexos pelo menos até o ano que vem

O início do ano é um importante momento para a produção de uva do agricultor Orocildo Caresia Mendonça, de 38 anos. No dia 22 de janeiro, iniciou a colheita em sua propriedade, localizada no interior de Encruzilhada do Sul, onde possui cinco hectares com parreirais de diferentes tipos da fruta, principalmente para a produção de vinhos e sucos. Contudo, os resultados em algumas variedades devem ficar abaixo da expectativa.

Nos dois hectares de uva chardonnay – utilizada para a produção de espumantes e vinho branco –, esperava colher 25 toneladas. Mas não chegou a 10 toneladas, ou seja, menos de 40% do esperado. A produção de Merlot também deve apresentar redução. Inicialmente, previa 20 toneladas, mas acredita que não deva chegar a 15. O mesmo resultado é esperado para outras variedades da fruta em sua propriedade.

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Produtor de uva desde 2009, Mendonça nunca havia registrado uma queda tão significativa de produtividade. “Já tivemos perdas com granizo, mas nada parecido”, afirmou. As condições climáticas registradas nos últimos meses afetaram a produção de uva no Vale do Rio Pardo. Técnicos da Emater/RS-Ascar afirmam que o excesso de chuva, sobretudo em setembro, afetou o período de floração, fase importante para o crescimento da fruta e definição da colheita. O mau tempo também trouxe doenças fúngicas, levando a mais perdas.

Na avaliação do sócio proprietário da Vinhedos da Quinta e da Manus Vinhas e Vinhos, Gustavo Bertolini, a produção de uva também foi afetada por uma geada tardia e poucas horas diárias de frio. Essas circunstâncias reduziram a formação de cachos. Além disso, a cultura foi atingida pelo longo período de estiagem que afetou o Estado nos últimos três anos. 

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Presente em Encruzilhada do Sul desde 2000, a Vinhedos da Quinta, pioneira no município, costuma produzir, em média, 250 mil quilos de uva. “Esse ano será atípico. Vamos produzir muito menos”, afirmou. Entre as variedades presentes nos parreirais da empresa, a Chardonnay foi a mais afetada e deve chegar à metade do produzido em outras safras. Já a Pinot Noir deverá ser 30% a menos. 

De acordo com a Emater, em outros anos os produtores do Vale do Rio Pardo atingiram mais de 4,6 toneladas de uva, utilizadas principalmente para a produção de vinhos, espumantes e suco. Com base na estimativa da entidade, desta vez a safra deve chegar a 2,7 toneladas.

Foto: Divulgação

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Baixa produtividade

Principal produtor da região, Encruzilhada do Sul possui pelo menos 500 hectares com parreiras – a maioria voltada para a produção de vinhos e sucos (vitivinicultura). Ou seja, mais de 92% da área plantada no Vale do Rio Pardo está no município, que conta com 19 produtores de uva industrial e dez para a de mesa. 

No entanto, as condições climáticas foram desfavoráveis ao cultivo da fruta no município. O excesso de chuva durante todo o ciclo da videira – sobretudo na floração e frutificação – provocou aumento de doenças fúngicas, o que dificultou a fecundação. “Teremos uma baixa produtividade em todas as cultivares de uva”, destacou o técnico agrícola Marco Antônio Santos, extensionista rural da Emater. Em sua análise, essa quebra é de pelo menos 40%, mas pode aumentar.

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Na propriedade de Hilton Fensterseifer, de 60 anos, situada em Cancela Verde, interior do município, há um parreiral de 25 hectares. A maior parte destinada à produção de uvas para espumantes. Porém, ele acredita que a perda em algumas variedades pode chegar a 50%. A produção de uva chardonnay, por exemplo, apresentou a maior quebra, resultando em metade do total colhido no ano passado. “Infelizmente, o impacto do excesso de chuvas foi muito pior do que imaginávamos”, lamentou. 

Produtor de uva há uma década, Fensterseifer afirmou nunca ter sofrido uma perda similar, nem mesmo durante o período de estiagem no ano passado. Além da uva, apresentou prejuízo na produção de oliveiras. “A perda foi praticamente total, o que sobrou é tão pouco que vai ser inviável colher.”

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No entanto, a mudança no tempo apresentada nos últimos dias favoreceu a safra. Conforme o mais recente informativo da Emater, o clima mais seco proporcionou a melhora da qualidade da uva em relação à cor, sabor e sanidade, além de reduzir a incidência de doenças fúngicas. O presidente da Associação dos Fruticultores de Encruzilhada do Sul (Afrutes), Paulo Roberto Minuzzi, avaliou que o tempo se mantém firme durante o período da colheita, sem apresentar excesso de chuva. Isso contribui na concentração de açúcares no grão, influenciando diretamente na qualidade do produto final.

Vinho terá qualidade, apesar de produção ter sido menor

Mesmo com as perdas, a qualidade da fruta foi mantida. Dessa forma, vinícolas que trabalham com os produtores do Vale do Rio Pardo puderam manter o padrão de suas bebidas, mesmo que o volume tenha reduzido.

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O grupo Famiglia Valduga – que engloba seis marcas –, por exemplo, trabalha principalmente com as variedades Chardonnay e Pinot Noir produzidas na região. Elas são voltadas para a fabricação de espumantes com características de Terroir – fatores naturais e humanos que controlam a cultura e a produção do vinho – que representam qualidades reconhecidas em concursos. Há também a variedade branca Gewürztraminer e depois uvas tintas, como Syrah, Marselan e Merlot.

Conforme o diretor da empresa e enólogo, Eduardo Valduga, o efeito do tempo afetou não apenas o volume, mas também os custos e cuidados, e ainda exigiu atenção redobrada nos vinhedos. “Os impactos são óbvios diante da busca pela qualidade, ou seja, nossos produtos da safra 2024 serão em menor volume para manutenção da qualidade”, destacou, lembrando que os impactos devem se prolongar para 2025.

Valduga: volume produzido será menor | Foto: Cleber Braune

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Com sede no Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, a vinícola Lídio Carraro possui há mais de duas décadas uma propriedade em Encruzilhada. Na área de 65 hectares, dos quais 52 já estão em produção, são extraídas em torno de 500 toneladas de uvas de primeira qualidade, o que representa em torno de 90% do total da empresa. “A região do Vale do Rio Pardo tornou-se parte do nosso cotidiano, além de ser fundamental para a composição de todo nosso portfólio de produtos”, afirmou o enólogo e diretor técnico da empresa, Giovanni Carraro.

De acordo com o especialista, a safra 2024 apresentou uma quebra em algumas variedades por questões de aborto da floração diante da primavera chuvosa. Cita, como exemplo, impacto pontual nas variedades Malbec e Cabernet Sauvignon, com aborto de cerca de 25% das bagas na floração. A partir desse cenário, a empresa percebeu um impacto nos custos de mão de obra, diante da necessidade de um intensivo trabalho de manejo. A colheita teve início em 18 de janeiro e, conforme o diretor técnico, os rendimentos estão positivos. Estima que a produção total será equivalente às safras anteriores, mesmo com algumas pequenas perdas no início do ciclo em variedades.

Carraro: plantas exigiram mais cuidados | Foto: Divulgação

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De Encruzilhada para Copacabana

Localizada no interior de Encruzilhada do Sul, na Serra das Encantadas, a vinícola Pedras da Quinta possui 20 hectares de parreiras. Lá, são produzidos anualmente 30 mil litros de vinho de diversas variedades. Recentemente, a empresa conquistou um espaço na carta de bebidas do histórico Copacabana Palace Hotel, uma das maiores referências para os amantes de vinho.

Conforme o proprietário, Olívio Maran, sócio de Diogo Durigon, o vinhedo não foi tão impactado pelas condições climáticas. Apesar da menor quantidade, a qualidade foi mantida em níveis desejados. A colheita começou no dia 10 de janeiro e deve prosseguir até o início de março.

Olívio Maran, da vinícola Pedras da Quinta, diz que características foram preservadas | Foto: Divulgação

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