As agitações dos últimos dias envolvendo a caravana – ou pré-campanha eleitoral – do ex-presidente Lula provocaram uma convulsão no interior do Estado. A sucessão de escândalos que envergonha o País parecia não ter sensibilizado a população. Desde o “Fora Dilma” não se via multidões nas ruas. A maioria optou por uma postura passiva, de contemplação. Talvez, no fundo, seja a certeza de que nada mudou.
Já escrevi sobre a importância do pleito de outubro, que terá características inéditas, seja pelo clima instalado no Brasil, seja pelos novos métodos de se fazer política, com ênfase para a onipresença das redes sociais.
Os acontecimentos registrados no interior gaúcho têm duas possibilidades de interpretação. A primeira, talvez ingênua e pouco sintonizada com a realidade, é de que seria uma reação do eleitor revoltado com o festival de barbaridades em que se transformou a cena política, com escândalos sem fim.
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Outra visão envolve a manipulação de parte do eleitorado, que foi insuflado para reagir de maneira dirigida e que, por isso, não pode ser considerada uma nova mentalidade. Em resumo, foi uma manifestação de ódio concentrada contra Lula e seus companheiros.
O clima de beligerância que permeia a política faz acender a luz amarela. A persistir tamanha intolerância teremos batalhas idênticas àquelas vistas em Bagé, Santa Maria e Passo Fundo, entre outros eventos da caravana lulista. A radicalização favorece apenas os que têm o objetivo de colocar fogo na campanha. O diálogo inexiste, os planos de governo não passam de ficção e o currículo dos candidatos é levado ao público como um festival de ofensas, do tipo folha corrida de marginais.
A amostra que tivemos nas concentrações públicas é um péssimo indício do que vem por aí. Isto só aumenta a ojeriza de pessoas éticas em relação à atividade política. Costumo lembrar que foi graças à política que saímos das trevas da ditadura para a democracia plena em que se pode escrever de tudo nas redes sociais.
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A falta de equilíbrio leva à radicalização que em nada contribui para o debate. A eleição é o espaço para a discussão de ideias, mas isso há muito tempo não acontece. Pelos últimos episódios pode-se prever inúmeros confrontos.
Resta apostar nas vozes ponderadas, mediadoras e lastreadas no bom-senso e na conscientização do eleitorado. Somente assim poderemos consolidar nossa jovem democracia que já teve dois presidentes abatidos por impeachment e outro, de grande popularidade, condenado em segunda instância, embora ainda esteja solto.
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